sexta-feira, 24 de junho de 2011

Opinião

“A leitura engrandece a alma”

*Camila Hundertmarck

“A leitura engrandece a alma”, disse o filósofo Voltaire em seu livro “O Ingênuo”, de 1767. Hoje, quase três séculos depois, essa concepção sobre a leitura ainda não alcançou a abrangência que deveria.

Voltaire descrevia naquela frase, a grandeza que uma boa leitura pode nos trazer, enquanto pessoas e bons escritores e oradores. No momento atual, porém, ainda é difícil encontrar quem aprecie a leitura e cite entre seus principais hobbys.

É uma pena, pois, quanto menos se lê, menos se enriquece a língua falada e o português bem escrito. Deve ser por isso, então, que o Ministério da Educação (MEC) resolveu distribuir, neste ano, para quase 500 mil estudantes, uma cartilha que promove que a linguagem coloquial de pronuncia “popular” fosse aceita, também, na escrita. A cartilha, da respeitada ONG Ação Educativa, foi intitulado como “Por uma vida melhor”. Quer dizer então que, a partir de agora, dizer “Os livro” vai colaborar para minha vida ser melhor? Duvido.

Defender a linguagem coloquial é uma coisa. Defender a linguagem popular com todos os erros grosseiros que são conseqüência da mesma, é bem diferente. Se a idéia se concretizar mesmo, não terá mais sentido estudar português no ensino fundamental e médio e, no meu caso, na universidade. A famosa “Norma culta da Língua Portuguesa”, tão citada em sala de aula, deveria, então, ser rebatizada com um nome que fizesse juz à nova cartilha. E, no momento, não me vêm nenhum à cabeça.

Num futuro bem próximo, se a coisa assim continuar, pode ser que a linguagem usada em sites de relacionamento também seja aceita pelo MEC. Vai ser difícil ter que lidar com os “Eu adolu vuxê”, distribuídos em redações de vestibulares e na escrita como um todo. Quem faz uso de programas de computador como ferramenta para escrita pode ir pensando em uma mudança radical. Pode ser que o Word, editor de texto do Windows, por exemplo, sublinhe como errado, tudo aquilo que estiver escrito de acordo com o que os gramáticos diziam ser correto na Língua Portuguesa.

O fato é que a nova cartilha gerou polêmica. Não é por menos. Ao invés de defender o aprimoramento da leitura, bem como da boa escrita desde as séries iniciais, o órgão responsável pela fiscalização da educação no Brasil, se permite passar por esse papelão.

Voltaire, que defendia a leitura como ferramenta de engrandecimento de cada um de nós como pessoa, deve estar se remexendo no caixão. É uma pena que a situação esteja chegando a esse ponto. E o incrível é que o Brasil sonha em ser um país desenvolvido sem entender que a riqueza de um país começa lá na raiz, com o aprimoramento da educação, do bom funcionamento das escolas e da formação ética e competente de professores.

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