segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UMBANDA


SARAVÁ! - Centro de Umbanda abre suas portas e revela os mistérios da religião dos caboclos e orixás

Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto

Reportagem e Fotos: Camila Pompeo

            O Brasil é um país plural em religiões. Se no passado a pluralidade religiosa era criticada, hoje são muitos os que simpatizam com religiões que envolvem o espiritismo e outros fenômenos sobrenaturais. Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto. A partir de agora, você leitor, está convidado a conhecer os relatos dos médiuns que fazem a Umbanda em São Miguel do Oeste.

AFINAL, O QUE É A UMBANDA?

            A Umbanda é a religião brasileira que mistura o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras e indígenas.  Os terreiros ou centros de Umbanda são comandados pelo médium mais experiente, geralmente o fundador da casa. Este médium, conhecido como Pai de Santo ou Mãe de Santo, incorpora o orixá que comanda a casa e auxilia na incorporação dos demais médiuns. Na Umbanda, os Santos conhecidos na Igreja Católica, mudam de imagem e nomes. Em um grande altar eles sãos dispostos e recebem oferendas e velas de diversas cores.
            A religião desenvolve seu trabalho com o auxilio das entidades espirituais dos caboclos e pretos-velhos, espíritos de indígenas e escravos. Essas entidades se apresentam nos terreiros de Umbanda e são espíritos com alto grau espiritual de evolução. Segundo os umbandistas, a religião foi criada em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência da entidade espiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas. 
Antes disso, já existiam manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que a religião foi organizada com rituais e contornos bem definidos.
Em 1939 foi fundada a Federação Espírita de Umbanda. Dois anos depois, em 1941, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de Umbanda fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conquistou junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.

Pai de Santo explica trabalhos realizados pelo Centro de Umbanda que fundou dentro da própria casa

Morador de São Miguel do Oeste estuda a Umbanda desde os seis anos de idade e, desde os 13, incorpora entidades para o atendimento à população

             Em um dia frio e chuvoso é que Clóvis Luiz da Silva, 41 anos, nos recebe em sua casa.  Clóvis é mecânico e “Pai de Santo” do Centro de Umbanda Tenda de Oxossi, de São Miguel do Oeste. O Centro foi construído há cerca de 10 anos na residência onde o Pai de Santo mora com a esposa e as três filhas.
        Criado dentro das crenças da religião dos pretos-velhos, caboclos e orixás, Clóvis desenvolveu o dom que serviria, no futuro, como auxílio à muitas pessoas. Com apenas seis anos de idade, o ainda menino, já frequentava o Centro de Umbanda mantido pelo pai. Como era acostumado com a rotina do Centro, Clóvis nunca teve medo e sequer hesitou quando lhe foi dada a oportunidade de trabalhar melhor sua mediunidade. “Eu nasci dentro disso. São 41 anos dentro da Umbanda. Tive minhas primeiras experiências depois de dois anos de preparação com seis anos de idade. Mas eu só comecei a atender as pessoas com os meus 13 anos de idade”, relata.
         Depois da morte do pai, estudioso da Umbanda, Clóvis decidiu prosseguir com o terreiro. Ele e a esposa foram tocando o Centro até resolverem trazê-lo para dentro de casa. Na casa onde mora, o casal construiu uma peça para dedicar aos trabalhos mediúnicos da Umbanda e uma estrutura implícita de cabos de aço para afastar a negatividade. Clóvis revela que com o desenvolvimento da mediunidade passou a ter visões dentro de casa. Apesar disso, ele afirma que nunca teve medo. “Para acontecer isso, eu preciso estar muito preparado. Mas eu não tenho medo. Também nunca aconteceu de eu incorporar sem querer. É preciso respeitar a entidade que está contigo para que isso não aconteça”, esclarece.
          Nas noites de segunda-feira, ele e os 16 voluntários da Tenda de Oxossi atendem os presentes em sessões de passes, descarrego e consultas. “Toda a segunda-feira tem atendimento às 19h30. Os passes são livres, mas as consultas custam R$ 10. Quem não tiver dinheiro, não tem problema. O dinheiro que arrecadamos é revertido em alimentos não perecíveis para doação. São os próprios frequentadores que distribuem as cestas básicas”, explica.

O APOIO DA ESPOSA
O medo que se transformou em amor 

        Meri Rose De Prá da Silva, 41 anos, é esposa de Clóvis. Rose ajuda na tradução da linguagem cabocla das entidades para a população e nos encaminhamentos do Centro de Umbanda da família. Ela não quis desenvolver a mediunidade e, por isso, apenas ajuda o marido no andamento da celebração. Porém, nem sempre foi assim. Rose conta que pouco depois de conhecer o marido, descobriu que ele trabalhava no Centro de Umbanda do pai. Ela relata que a primeira reação foi de choque e medo. “Quando ele falou que o pai dele trabalhava com isso eu fiquei apavorada. Mas foi no centro do meu sogro que eu me curei de um reumatismo. Hoje eu amo o que eu faço, não tem dinheiro que pague”, conta.
       Trabalhando como empregada doméstica durante o dia, Rose afirma que a noite da segunda-feira é sempre especial. O casal reserva este dia da semana para se dedicar aos trabalhos do Centro e às consultas que duram até cinco horas. “A gente faz esse trabalho em função dos outros. Nós abrimos mão de ficar com as nossas filhas para estar aqui porque gostamos disso”, enfatiza.


“É HORA DE TRABALHAR...”
Concentração, cânticos e oferendas para evocar as entidades

       Segunda-feira, dia 18 de junho, noite de trabalhos no Centro de Umbanda Tenda de Oxossi. Pouco a pouco as pessoas chegam para acompanhar a sessão da noite, enquanto os médiuns aguardam frente ao altar repleto de orixás, velas e bebidas. As 19h30 em ponto começa a sessão da semana. Cerca de 10 pessoas acompanham a explicação de Clóvis sobre os trabalhos do dia.
        Vestidos de branco e com as guias de proteção coloridas no pescoço, os cinco médiuns dão início aos trabalhos com os cânticos umbandistas. Os simpatizantes da Umbanda assistem a tudo com atenção e acompanham a letra das músicas. De pés descalços, Clóvis, coordenador dos trabalhos, precisa de muita concentração para receber a entidade cabocla. De repente, ele começa a rodar em meio aos demais médiuns e tem sua voz e maneira de andar totalmente transformada. A voz e o andar lembram a de um ancião.
         Todos os presentes saudam a chegada da entidade que bebe vinho ansiosamente em uma taça fixada no centro do altar. “As bebidas e charutos são oferendas para as entidades. Não que ela precise disso para trabalhar, para te ajudar, mas é um agrado que a gente faz. Cada entidade tem a sua bebida e por isso deixam sua assinatura nas garrafas”, explica. 
           A incorporação de Clóvis acontece de forma inconsciente, ou seja, depois do término dos trabalhos, o Pai de Santo não lembra de nada do que aconteceu enquanto esteve incorporado pela entidade. “A entidade vem para nos ajudar. Existe a incorporação consciente, inconsciente e semi inconsciente. Uns lembram vagamente, outros lembram de tudo e tem o médium que não lembra de nada”, enfatiza.
           Depois de incorporada, a entidade que ocupa o corpo de Clóvis ajuda os outros médiuns na concentração. Um por um, outros dois médiuns incorporam enquanto outras duas pessoas ajudam nos encaminhamentos. “São 16 médiuns voluntários trabalhando dentro do Centro. Com o tempo, eles vão desenvolvendo melhor o dom. Muitos desistem porque a própria entidade exige muito de nós, exigem dignidade e ética. Mas para desistir você não pode chutar seu passado. Você precisa pedir permissão para o orixá que comanda a casa para parar”, justifica.
         Após a incorporação de todos os médiuns, têm início os trabalhos de passes. Os passes são rápidos, mas as consultas duram até meia hora.  As pessoas que desejam consultar as entidades põe o nome em uma lista antes mesmo dos trabalhos da noite começarem. Quando as consultas têm início, cada pessoa é chamada de acordo com a ordem da lista e tem o direito de fazerem quantas perguntas quiserem. “Os principais assuntos das consultas são saúde, relacionamento familiar e negócios. Muitas pessoas vêm aqui para solucionar uma intriga de casal e as entidades tentam apaziguar a situação. A Umbanda prega a paz, nunca a discórdia dentro de uma casa. A Umbanda vêm pra unir a família, unir um casal e mostrar que independente de religião, Deus é um só”, esclarece.
       No final da noite quando todas as pessoas são atendidas, os médiuns se despedem das entidades sem lembrar o que fizeram momentos antes. Clóvis ressalta que a única sensação que tem é de um corpo muito gelado. Ele acrescenta ainda que precisam obedecer algumas exigências feitas pelos pretos-velhos.“Eu não sinto nada, eu não me lembro de nada. A única coisa que acontece é que meu corpo fica muito frio depois dos trabalhos. E da meia noite até terminar o trabalho a gente não pode ter relação sexual, não pode comer carne de porco e não pode brigar”, relata.


AS POLÊMICAS DA UMBANDA:
O mito do sacrifício de animais e dos despachos

        Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
            Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
         Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
     O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.


OS PRINCIPAIS ORIXÁS DA UMBANDA: 

Na Umbanda, os Orixás são cultuados como divindades de um plano astral superior. Conheça alguns dos principais orixás da religião e quais suas designações:


Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos.
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces.
Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas.
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos.
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando chegam à Terra.
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do ferro;
Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura 'a mesa, senhor da caça;


O mito do sacrifício de animais e dos despachos


Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.

LEMBRANÇAS ETERNIZADAS


A Segunda Guerra Mundial pelas palavras de quem lutou

No dia 2 de maio é comemorado o dia do Ex-combatente. Em homenagem aos veteranos de guerra, a reportagem do Jornal O Líder preparou uma reportagem especial onde os Ex-combatentes fazem um relato completo e verdadeiro da guerra que matou mais de mil soldados brasileiros

Reportagem: Camila Pompeo

Símbolo da FEB
No dia 1º de setembro de 1939, as forças nazistas alemãs de Adolf Hitler invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. O Brasil passou a participar do conflito a partir de 1942, na época do governo de Getúlio Vargas. A princípio, a posição brasileira foi de neutralidade, mas depois de alguns ataques a navios brasileiros, Getúlio Vargas decidiu entrar em acordo com o presidente americano para dar início à participação do país na Guerra.
            Dos quase 25.500 soldados que embarcaram, pelo menos 1.230 morreram em batalha durante os 292 dias de conflito. Hoje, pouco mais de 70 anos desde o início da Segunda Guerra Mundial, a história continua viva na lembrança dos ex-combatentes brasileiros que participaram do conflito. Em homenagem aos personagens brasileiros que estiveram nas frentes de batalhas na Itália, foi criado o Dia Nacional do Ex-Combatente, comemorado no dia 2 de maio.

“ERA DE ARREPIAR SABER QUE ÍAMOS PARA A GUERRA (...)”

Ex-combatente não atuou nas frentes de batalha, mas acompanhou de perto a atuação dos colegas de farda brasileiros que lutaram e morreram durante o conflito

Lindolfo Guilherme Arend - Foto: Camila Pompeo
            O primeiro grupo de militares brasileiros chegou à Itália em julho de 1944. O Brasil enviou pouco mais de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), 42 pilotos e 400 homens de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB). O objetivo era ajudar os norte-americanos na libertação da Itália, que, na época, estava parcialmente nas mãos do exército alemão. Com 92 anos, Lindolfo Guilherme Arend lembra de cada detalhe da batalha ocorrida nos anos 1940 e conta emocionado o que viu da Guerra.
            Na manhã do dia 25 de dezembro de 1944, o jovem Lindolfo, de 25 anos, e os colegas de farda saíram da cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul rumo ao Rio de Janeiro onde as tropas foram preparadas. Em fevereiro de 1945, o navio partiu rumo à Itália. Os pais do jovem militar só descobriram o paradeiro do filho quando ele já estava no país italiano. “Era de arrepiar saber que nós íamos para a guerra. Quando chegamos em Napoles, nos arrepiamos e pensamos: “Onde nós fomos nos meter?”. Nós fomos no terceiro escalão, fomos para repor as baixas de militares que haviam sido mortos ou feridos em batalha”, lembra.
Assim que colocaram os pés em solo italiano, a realidade começou a apontar frente aos militares. Com a pressão do exército alemão, a população italiana fugia de suas casas e saía às ruas em busca de alimento e proteção das tropas aliadas. “A trincheira era um lixo. Tinha gente maltrapilha pedindo comida, pedindo cigarro. Não tenho nem como explicar, era uma miséria. Foi muito triste chegar em um ambiente daquele”, relata.
Lindolfo não atuou nas frentes de batalha, mas trabalhou no depósito pessoal das tropas brasileiras. As tropas precisavam estar sempre completas para atuarem contra o exército inimigo, por isso, quando alguns soldados morriam ou eram feridos, outros eram convocados para os substituir. “Nós éramos da Centro de Recompletamento. O efetivo precisava estar completo então quando havia baixa na tropa, eles iam nos buscar. Mas eu tive muita sorte porque quando cheguei, me colocaram na administração do depósito. Eu era bom nisso, mas participei ativamente de instruções e aprendi a manusear novas armas”, conta.
Nos quase 300 dias de conflito, muitos homens integrantes das tropas brasileiras morreram. Porém, na época, os soldados brasileiros não encontravam tempo sequer para sentir medo da morte. “Medo de bala ninguém tinha. A gente estava lá, então não adiantava ficar triste. Precisávamos ficar com a cabeça erguida”, afirma.
Foto da 2ª Guerra Mundial
O longo período o qual os militares precisaram ficar longe da família motivava alguns a escrever cartas. Muitos, no entanto, deixaram de escrever por conta da rígida censura imposta durante a guerra. “As cartas passavam pela censura. Qualquer palavra que eles não gostassem, eles cortavam. Eu nunca escrevi para os meus pais”, explica.
Na sala de administração, os militares controlavam com a ajuda de um mapa, o avanço das tropas brasileiras no território italiano. Com a chegada do inverno, as tropas não saiam da posição e utilizavam artilharia pesada para bombardear-se à distância. “Nos bombardeamos pela artilharia. O gelo tomou conta. Tinha neve de 60 cm a 80 cm de altura, por isso ninguém saía. Quando o gelo começou a derreter, a coisa foi para frente. O Monte Castelo era intransponível”, enfatiza.
Questionado sobre o momento mais difícil em toda a Segunda Guerra, Lindolfo não hesita em responder. “Foi a tomada do Monte Castelo, pois na primeira tentativa, as nossas tropas fracassaram”, justifica.  A batalha do Monte Castelo foi travada entre as tropas aliadas e o Exército alemão, no final da guerra. O objetivo era conter o avanço dos alemães pelo Norte da Itália. Durante a batalha, que durou cerca de três meses, foram efetuados diversos ataques. Muitos soldados não resistiram ao frio e as armas de grosso calibre do Exército alemão.
Os militares integrantes da Força Expedicionária que morriam durante a batalha, eram sepultados no Cemitério de Pistoia, na Itália. “No Monte Castelo perdemos muitos soldados. De um pelotão de 48 soldados, voltaram 17. O resto morreu e só foi encontrado depois que o gelo derreteu. Conhecemos eles apenas por conta da placa de identificação que eles traziam junto ao peito. Perdi muitos amigos também na guerra e só descobri quando fomos visitar o cemitério brasileiro na Itália e encontramos as plaquetas na cruz”, relata.
Em setembro de 1945 chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos e os aliados saiam vencedores no conflito que matou cerca de 60 milhões de pessoas, entre civis e militares. Enquanto muitas tropas se preparavam para voltar para o Brasil outras, continuavam em solo italiano trabalhando em combate a qualquer tipo de doença. “Os americanos eram muito exigentes, não queriam deixar doenças para trás. Nós íamos de casa em casa procurar o mosquito da malária. Onde achávamos um foco do mosquito, colocávamos veneno dentro e acabávamos com ele”, lembra.
Na volta ao Brasil, os expedicionários foram recepcionados calorosamente pela população brasileira e pelas famílias que aguardavam ansiosas por notícias. A festa de recepção durou dias no Rio de Janeiro, na época Capital da República. “No Brasil a recepção foi muito bonita, os familiares estavam esperando. Eu não tinha familiar presente, por isso fiquei assistindo. Estava feliz porque tinha voltado”, revela.
Cerca de três anos depois do fim da Guerra, Lindolfo, conheceu a esposa e se casou. O casal teve um filho e passou a viver do dinheiro que a produção rural rendia. Hoje eles vivem em São Miguel do Oeste. Ao lado da esposa e bem pertinho do fogão à lenha, seu Lindolfo revela que a vida foi generosa, mas que ainda tem muito o que viver. “Nossa vida não foi folgada, nem apertada. O que dá para dizer é que vivemos bem nesses anos todos. Apesar da minha idade, tenho saúde de ferro, pretendo viver mais alguns anos”, conclui.

MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE
Veterano escreve livro baseado nas experiências vividas na Guerra

O livro foi escrito durante a guerra e guardado à sete chaves, até ser publicado no ano de 2000 em Mondaí

            “Estou escrevendo estas linhas à noite, na barraca, apoiando o caderno encima dos joelhos, segurando minha lanterna com a mão esquerda, pois não tenho mais velas. O Wilson, meu companheiro de barraca, em geral dorme antes de mim. Ele fica resmungando porque eu tenho a luz da lanterna acesa. Ele que tenha um pouco de paciência. Ontem, o Wilson e eu apostamos uma janta em um bom restaurante do Rio de Janeiro se nós estivermos de volta ao Brasil antes de 31 de dezembro de 1945. Eu terei de pagar. Se for depois dessa data, é ele quem vai pagar. Só que ninguém pensou em caso de morte”. O relato foi escrito pelo jovem sargento José Edgar Eckert no dia 14 de novembro de 1944, uma terça-feira.
            Este trecho e outros diversos relatos foram eternizados nas 455 páginas do livro “Memórias de um ex-combatente”, escrito pelo militar durante toda a Segunda Guerra Mundial. O senhor de 92 anos, foi um dos soldados convocados para atuar no conflito. Hoje, o gaúcho natural da cidade de Selbach, mora na cidade catarinense de Mondaí e está debilitado em função da idade. Porém, em uma antiga entrevista, o veterano de guerra relata algumas das lembranças guardadas nas páginas dos antigos diários de guerra.

COMO TUDO COMEÇOU...

José Edgar Eckert
            A vida militar de José Edgar começou em Passo Fundo, no ano de 1939 onde serviu como 3º sargento. Após uma temporada na cidade gaúcha, foi transferido para o 1ª Regimento de Infantaria Sampaio, no Rio de Janeiro, onde pretendia dar continuidade aos estudos interrompidos aos 13 anos de idade. “Aos 13 anos vim com a minha família para Pinhalzinho, onde eles estavam iniciando uma madeireira na mata virgem daquele sertão. Depois de alguns anos de trabalho duro na roça, amadureceu em mim a vontade de recomeçar os estudos interrompidos. Aos 19 anos, meu pai me encaminhou ao quartel de Passo Fundo, onde me apresentei como voluntário”, relata.
             Na época, o Brasil obedecia a ditadura imposta pelo presidente Getúlio Vargas e já começava a sofrer a pressão dos Estados Unidos para participar da guerra. “Os EUA começou a exigir que o Brasil participasse da guerra contra a ditadura da Alemanha e Itália. Mas nós nos perguntávamos: “Como vamos lutar contra a ditadura da Europa se em casa também temos ditadura?” Nós que estávamos sendo preparados para ir à luta em favor da democracia, não podíamos entender isso muito bem. Mas enfim, como sargento, eu não podia decidir essas coisas, o jeito era obedecer e cumprir ordens”, relata.
            Após a convocação, os mais de 25 mil brasileiros levaram vários meses para se organizar e ficar em condições de tomar parte nas operações de guerra na linha de frente da Itália. José Edgar partiu junto com os colegas do 2º e 3º escalões no dia 20 de setembro de 1944. Os militares navegaram à bordo de um navio americano de transporte de tropa, rumo a Livorno, na Itália. “A viagem durou 15 dias. De manhã bem cedo, apreciávamos o quanto era lindo o nascer do sol entre céu e água. É no mar que se pode visualizar bem direitinho a linha do horizonte. Quando chegamos a Livorno, o acampamento já estava montado”, lembra.
Placa de identificação de José Edgar
          Durante cada dia na guerra, José Edgar tinha além dos colegas de farda, a companhia de um caderno. Nas páginas em branco, o militar escrevia diariamente tudo que os olhos viam e o coração sentia. Foram quatro cadernos escritos durante o período em que estiveram no país italiano. Na época, era proibido fazer qualquer tipo de relato sobre a situação e sobre os rumos da guerra. “São 455 páginas registradas. É um relato modesto, simples e verdadeiro de alguns acontecimentos dos quais participei. Eu queria que ficasse uma lembrança para mim e para a minha família. O livro falava de mim, dos meus companheiros. À noite, eu deitava em qualquer lugar e escrevia. Escrevi até o último dia”, recorda.
         Na página 203 do livro, José Edgar narra a conquista do temido Monte Castelo, onde as tropas brasileiras atuaram em diversas investidas. “Hoje nossos aviões e a artilharia não deixam os alemães descansar e apoiam a progressão do nosso Regimento. O Monte Castelo é envolto numa densa nuvem de fumaça e os aviões despejam constantemente bombas e mais bombas. Todos nós suspiramos, pois desta vez conseguimos dominar este Monte que até então ninguém a não ser os alemães, haviam pisado, desde a derrota da Itália”, relata.
            Em agosto de 1945, finalmente os militares se preparavam para desembarcar no Brasil e reencontrar as famílias. Em um dos últimos relatos, no dia 31 de agosto de 1945, o jovem militar decretava o fim dos diários de guerra. “Já deixou de ser um diário este meu histórico de guerra. Pretendo encerrá-lo definitivamente mesmo porque não faz mais sentido. Passaram-se oito dias após aquela nossa chegada à Pátria, o que constitui, sem dúvida, um dia inolvidável na vida de todos nós que tivemos a ventura de regressar ilesos”, escreveu.
José Edgar entre os colegas em foto tirada na Guerra
            Um ano depois, em 1946, o militar optou por deixar o Exército e recebeu como homenagem a medalha de Campanha, a Medalha de Guerra, e a Medalha Cruz de Combate. Em 1948, José Edgar foi nomeado Tenente da Reserva pelo então presidente da Republica, Eurico Gaspar Dutra.            Na véspera do natal de 1945, ele enviava do Rio de Janeiro, uma aliança de noivado para a antiga amiga Zica, que morava em Pinhalzinho.
            O noivado evoluiu, os dois se casaram e tiveram três filhos.  Hoje, o veterano vive na cidade de Mondaí, junto da esposa e dos filhos e é constantemente homenageado nos inúmeros encontros de ex-combatentes realizados em diversos Estados brasileiros. O livro foi publicado com o apoio do filho Sérgio, que percebeu o valor dos documentos. “É um sentimento de muito orgulho. Nem minha mãe sabia o conteúdo daquele diário. Ele guardava à sete chaves. Em 2000, eu ensinei ele a digitar e ele foi repassando os textos dos diários para o computador”, explica.
            Sérgio também teve participação no livro do pai. Ele escreveu a primeira orelha do livro como homenagem ao veterano, dono de um dos relatos mais completos e verdadeiros da história da Segunda Guerra Mundial. “O orgulho que se aloja incontido dentro de mim não podia, jamais, deixar de ser dito ou escrito em algum lugar”, enfatiza. Os outros dois filhos, Lúcia e Antonio, a esposa, os colegas mortos em combate e os camaradas que retornaram com ele da guerra, também foram homenageados nas dedicatórias das primeiras páginas do livro. Hoje, o veterano escreve outro livro sobre a Segunda Guerra Mundial.

FÉ E DEVOÇÃO


O poder das rezas e benzeduras


Camila Pompeo

É muito comum encontrarmos pessoas que sempre recorrem à uma benzedeira para curar certos tipos de doenças ou até mesmo para afastar o mau olhado. Essa prática, passada de geração a geração, faz com que o trabalho das benzedeiras não cesse nunca. Por conta disso, ainda é grande o número de pessoas que optam pela cura através da fé, ao invés do uso de medicamentos convencionais.
A benzedura é uma atividade realizada com intuito de curar uma pessoa doente, aplicando sobre ela gestos, em geral acompanhados por alguma erva com pretensos poderes sobrenaturais, ao tempo em que se aplica uma prece. Crença passada de geração para geração, a benzedura se tornou um importante elemento da cultura popular do Brasil. Apesar da resistência da ciência, a atividade muitas vezes impressiona pelos seus efeitos. Para a ciência, os efeitos atribuídos à reza são guiados pela fé daqueles que se submetem à cura.
O benzedor em geral é alguém da própria comunidade que recebeu os ensinamentos dos antigos. A oração feita sempre de forma oral é um dos principais motivos pelo qual não se tem registros sobre eventuais fórmulas curadoras. A reza feita para curar uma pessoa de determinada doença é, na maioria das vezes, guardada em segredo pelo benzedor. As atividades exercidas por ele geralmente não são cobradas.
Os rezadores ou benzedores são mais comuns nas regiões remotas, onde os médicos são escassos e os remédios inacessíveis. Apesar disso, a maioria dos benzedores não trabalham com o intuito de substituir o atendimento médico. A origem dessa prática vem dos pajés indígenas com a aplicação de elementos próprios da religião cristã.

O endereço para a cura do amarelão

Dona Lucíola Frigo - Foto: Camila Pompeo
A medicina vêm se aperfeiçoando a cada dia e com isso, encontra cura para doençãs que antes pareciam incuráveis. A ciência também continua fazendo descobertas e a fé ainda move a cada ano milhares e milhares de fiéis em busca da realizações de pedidos. Porém, algumas doenças ou até mesmo pequenas alergias são curados por efeitos sobrenaturais que não conseguem ser curados pela medicina convencional. Neste caso, entram as benzedeiras, famosas conhecidas da comunidade e que tem um grande poder de cura, movido pela fé.
Lucíola Frigo é mais que uma conhecida da comunidade no município de Descanso. Lá, a senhora de 74 anos é conhecida como Dona Lucíola e sua casa é, todos os dias, procurada por dezenas de pessoas que buscam a cura para o amarelão, um tipo comum de anemia. Dona Lucíola começou sua história com a benzedura há muitos anos atrás, quando ainda era ministra dos enfermos em uma Igreja do município. No trabalho que desempenhava, a senhora visitava os doentes nas casas e hospitais e resava pela sua cura.
Foi exatamente no hospital que dona Lucíola começou a história da benzedura. Em uma visita a um doente, a então ministra foi apresentada a uma oração e surpreendida pelo pedido do doente para que seguisse com as bençãos guiadas pela fé. “Um senhor estava muito, muito doente e eu fui rezar pra ele no hospital. Um dia ele me chamou e me entregou a oração e pediu que eu continuasse com as benzeduras e eu aceitei. Naquele mesmo dia ele morreu”, relata.
Mas a primeira experiência com a benzedura veio com a necessidade de cura do filho de uma amiga, internado há mais de 15 dias com amarelão. Lucíola conta que os pais já não sabiam mais o que fazer para que o jovem se curasse da doença. Foi naquele dia que dona Lucíola colocou em prática a oração que havia recebido no hospital. Com o tempo, a vocação preencheu tanto a vida de Lucíola que ela precisou largar a função que exercia na Igreja. “Um moço estava muito mal no hospital, eu cheguei lá e falei com ele. Eu vim pra casa, mandei chamar a mãe dele e disse que eu iria benzer. A mãe dele chorou de alegria. Eu comecei a benzer ele e no terceiro dia ele foi pra casa”, relembra.
Desde então, dona Lucíola tem aplicado o conhecimento que recebeu e, por conta disso, já se tornou figura conhecida no município. Na rua onde mora, a benzedeira é citada com carinho pela comunidade. É difícil encontrar quem não conheça o poder da cura pela fé da benzedeira. As portas da casa de dona Lucíola estão sempre abertas para atender a todos que necessitem, sem nenhum tipo de cobrança.
Além do dom da cura pelas orações que faz, dona Lucíola conseguiu ainda, através da sabedoria popular, uma receita feita essencialmente de ervas para curar a anemia. Todos os dias, pessoas das mais diversas classes sociais procuram a benzedeira para adquirir o famoso xarope. “Eu faço um xarope de ervas, um remédio caseiro com plantas. É bastante procurado. Para os que têm diabete, eu faço com adoçante e tem ajudado muito as pessoas”, ecxplica. 
Dona Lucíola explica que a benzedura que realiza é apenas uma oração. No próprio antebraço, a benzedeira realiza uma prova, ou seja, uma medição com a palma da própria mão. Uma possível diferença na medição, realizada duas vezes, aponta que a pessoa benzida sofre de amarelão. O tipo de benzedura realizado por ela pode ser feito até mesmo longe da pessoa a ser curada. “Eu faço uma prova em nome do Divino Espírito Santo e vejo se a pessoa está tomada ou não de amarelão. Mas eu só benzo para amarelão e já é bastante pra mim. Várias pessoas vêm aqui, tem dias que fico atarefada”, destaca.
Na casa onde mora, dona Lucíola tem o armário e a parede da sala repletas de presentes trazidos por pessoas que quiseram agradecer a cura. Logo na entrada da porta da sala da benzedeira é possível ver a pomba branca (Divino Espírito Santo) em gesso, pendurada na parede. Lucíola ainda mostra com orgulho outros presentes que recebeu de pessoas de outros estados que ficaram agradecidos pela cura da doença. Ela lembra, no entanto, que os atendimentos são realizados de coração, sem nenhum tipo de cobrança. “O Divino Espírito Santo, os santinhos, essas coisas tudo vem de pessoas que vem me agradecer e me trazem as lembrancinhas. Mas eu não cobro nada, eu sou muito simples. Me sinto no paraíso por poder ajudar as pessoas”, argumenta.
A concentração para realizar a benzedura vem, segundo ela, atravéz da oração. Além da benzedura, Lucíola ainda aconselha os benzidos a realizar orações por pelo menos nove dias depois da benzedura. É uma continuidade do trabalho, regido pela fé da pessoa benzida. 

O padre que distribui bênçãos para famílias de vários Estados

Padre Ermindo Estraich - Foto: Camila Pompeo
            Além de dona Lucíola, o município de Descanso possui outra figura carimbada quando o assunto é a cura pela fé. No município, o padre Ermindo Estraich, desempenha um importante papel na busca pela cura espiritual e física daqueles que procuram seu santuário localizado na saída para a Linha Pratinha. Nos dias de mais movimento, Ermindo chega a atender até 20 pessoas.
Mas a história do padre com o sacerdócio começou em 1996 quando ele foi ordenado diácono pela Igreja Católica Apostólica Conservadora do Brasil, ramificação da Igreja Católica que permite que os padres constituam família. No ano seguinte foi ordenado sacerdote e exerceu o trabalho por quatro anos em Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul.
Foi ainda na paróquia que o padre começou o trabalho de bênçãos. Com o tempo, ele foi transferido para o município de Bandeirante, onde continuou os trabalhos na Igreja Católica Apostólica da Doutrina de Cristo. Padre Ermindo teve a oportunidade de, ao longo do tempo, realizar ainda dois cursos, um de massoterapeuta e outro a área da manipulação de remédios fitoterápicos. “Temos salas de massagem. Temos também os produtos fitoterápicos e as bênçãos para as pessoas que precisam de algum tipo de oração. Medicamento quem receita é o médico. Temos apenas os remédios naturais, fitoterápicos para auxiliar as pessoas na cura de algumas doenças”, explica.
No santuário onde atende, Ermindo realiza as bênçãos sempre nas segundas, terças, quintas e sextas-feiras, sempre pela parte da tarde. Na rua que dá acesso para a Linha Pratinha não há quem não conheça o Padre. Ele conta que as pessoas que procuram suas orações, vão em busca de melhoria nos negócios, no casamento e na saúde física e mental. Para o atendimento é cobrado, segundo ele, apenas uma taxa simbólica. “Uns chamam benzimento, outros chamam de benção, outros ainda chamam de reza. Na verdade é a mesma coisa porque tudo é guiado pela palavra de Deus. As pessoas com problemas de saúde, mentais, espirituais, casamento, desentendimento na família, problemas nos negócios, todos vem pedir a benção que é algo que vem de Deus. Ele deixou os escolhidos para seguir esse trabalho aqui na Terra, segundo o que Ele fazia”, argumenta.
Realizando as benções há pelo menos 13 anos, o padre já possui uma lista de bons frequentadores de seu santuário e de pessoas agradecidas pelas graças recebidas tanto para a saúde quanto para a vida pessoal. Ele explica que o sentimento é de dever cumprido e diz que o desejo é levar o trabalho em frente ainda por muitos anos. “É muito gratificante. A minha maior alegria como sacerdote é quando você realiza uma novena, uma oração, dá uma benção e a pessoa encontra a gente na rua e diz que está tudo bem. Isso me enche de alegria e de prazer de poder levar, cada vez mais, esse trabalho adiante”, relata.
Além do trabalho que desempenha na Paróquia e dos atendimentos realizados em seu santuário, o padre divide seu tempo ainda com a família. Casado, ele diz se sentir completo e feliz com sua condição. “Sou casado, tenho filhos e é maravilhoso. É muito gratificante ser um sacerdote casado, sou feliz por isso. Tenho uma boa esposa, que me apoia em tudo que faço, então estou muito feliz”, justifica.
Durante os mais de dez anos em que trabalha dando as bênçãos separadamente, o padre Ermindo já presenciou diversos casos marcantes. Ele lembra que um deles é o de um senhor morador do município de Romelândia que parou de andar com muletas depois que exercitou sua fé. “Não adianta o sacerdote fazer uma benção se a pessoa que vier não tem fé porque, na verdade, o que mais funciona é a fé da pessoa que procura. O caso que mais me marcou foi de um senhor que andava de muletas. Ele veio até mim depois de algumas recomendações. Ele saiu da casa dele com a mente pronta de que ia ficar bom. Dei a benção para ele. Em 18 dias aquele senhor estava andando sem muletas e hoje trabalha na lavoura”, relembra.
O padre lembra ainda que nunca divulgou o trabalho na mídia mas que a divulgação ocorre de forma indireta, ou seja, pelo boca a boca das pessoas que procuram as bençãos como forma de auxílio para a melhora da vida pessoal e da saúde mental e física. A fama é tanta que Ermindo já chegou a atender pessoas de Portugal, Bolívia e Argentina. “Meu trabalho nunca foi divulgado. São as próprias pessoas que vão falando umas para as outras e vêm até aqui com fé. Eu atendo pessoas de outras regiões, estados e países”, conclui.