sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Natureza






Uma manhã de trabalho no feriado compensada com essa visão maravilhosa. Um tucano visitou a Rádio 103 FM nesta sexta-feira (02) e nos deixou estarrecidos com a sua beleza.

- Foto: Camila Pompeo

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

DROGAS


Como elas agem no organismo de um usuário? 

 O consumo de drogas ou entorpecentes modifica as funções normais do  organismo humano. As drogas naturais e as drogas sintéticas causam dependência química e psicológica, levando o usuário ao “fundo do poço”. Conheça os efeitos dos narcóticos no corpo humano e os tratamentos que podem ajudar os usuários a abandonar o vício

Camila Pompeo

Maconha, cocaína, LSD, ecstasy e crack são algumas das drogas mais conhecidas no território brasileiro. Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são a curiosidade, a influência de amigos ou ainda a dificuldade em enfrentar situações complexas. Por conta disso, tem aumentado o número de casos de dependentes de drogas no Brasil. Apesar da intensidade dos efeitos que as drogas causam no corpo humano, por meio de tratamento é possível abandonar o vício.
Josemir Werlang é médico especialista em dependência química. O médico atua em um consultório próprio em São Miguel do Oeste e no Posto de Saúde Central da cidade. No município de Descanso, Josemir atua como clínico-geral. Nos consultórios de São Miguel do Oeste, Josemir atende dependentes químicos de diversas idades.
O médico explica que as drogas se tornam atraentes por conta da sensação de prazer que provocam. A sensação é parecida com a que sentimos quando comemos chocolate. “A droga predispõe um prazer muito intenso com uso prolongado e no dia-dia o prazer que a gente teria com a nossa rotina, se torna desinteressante para aquela pessoa. A droga proporciona um extremo prazer em um curto período de tempo, esse prazer é tão intenso que a pessoa acaba se tornando dependente”, explica.
Ao consumir uma determinada droga, o usuário tem os neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios para enviar informação às células, modulados pelas substâncias que ocasionam o prazer. Dentre as principais estão a dopamina, serotonina e endorfina. “Dentro do nosso cérebro nós temos neurotransmissores que são modulados por substâncias químicas responsáveis pelo prazer. Quando a pessoa usa a droga, o corpo vai liberar essas substâncias em altas doses”, relata.
O médico aponta que a principal droga causadora de dependência na atualidade é a bebida alcóolica. Apesar disso, ele acrescenta que, na região Extremo-Oeste catarinense, o crack é uma das drogas mais consumidas. “A droga com maiores problemas é o crack, é a mais forte e é a droga com mais alto grau de dependência e efeitos muito sérios no nosso organismo. Mas a droga que mais causa dependência na sociedade é a bebida alcóolica”, declara.


DEPENDÊNCIA E ABSTINÊNCIA

A maioria das drogas é produzida a partir de plantas como é o caso da maconha. Outras, no entanto, são desenvolvidas em laboratório a partir de composições químicas. A maioria causa dependência química ou psicológica, e podem levar à morte em caso de overdose.
            O médico especialista em dependência química explica que a dependência pode ser observada quando o usuário precisa estar perto da droga para se sentir bem. “O tabaco é o que mais provoca dependência física e psíquica. Muitas pessoas que querem parar de fumar, sempre costumam carregar o cigarro junto, colocam na boca pra acalmar aquele hábito”, destaca.
            A dependência psicológica diz respeito aos efeitos que determinada droga causa no organismo do usuário. Quando o usuário fica longe do contato com os entorpecentes, ele passa a desenvolver características que definem a Síndrome de Abstinência. A ansiedade, a irritação, os tremores, a insônia, os delírios e a alteração comportamental são algumas das principais características de um usuário de drogas em abstinência. “A abstinência é um conjunto de sinais, uma síndrome que caracteriza o efeito da ausência da droga no organismo. A droga que mais provoca síndrome de abstinência é a bebida alcoólica”, enfatiza.

TRATAMENTO: A hora de lutar contra o vício

Apesar de causar forte dependência, o uso de drogas pode ser controlado por meio de tratamentos. Um dos principais fatores que colaboram para que o usuário abandone o vício, é a força de vontade. Porém, muitas vezes, isso não é o suficiente para que o usuário se mantenha longe das drogas. Nesse caso, o paciente deve ser encaminhado para internação. “O principal problema do dependente é você conseguir convencê-lo de que a droga está lhe fazendo mal. Se é uma dependência de droga forte, é preciso partir para internação. Internado, esse paciente vai se tratar, vai se desintoxicar e vai fazer terapia de apoio. Depois da alta, ele é encaminhado à um serviço de referência que vai dar acompanhamento ao caso”, explica.
Josemir enfatiza ainda a importância da base familiar para que o usuário de drogas abandone o vício. “Hoje é muito importante a questão social. É fundamental que esse paciente ganhe uma estrutura social para que ele não volte para o mundo das drogas. Para isso existem os grupos de autoajuda”, destaca.



  • Em 2008, o Brasil tinha 870 mil usuários de cocaína, sendo o segundo maior mercado da América Latina. Já a maconha era consumida por 2,6% da população.
  • A quantidade de cocaína apreendida no Brasil aumentou 21% nos últimos dois anos, chegando a 20 toneladas da droga.
  • Em 2009, mais de 86 mil pessoas estavam nas prisões por tráfico de entorpecentes.
  • De acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo, a porta de entrada para o mundo das drogas é o álcool. A bebida leva 46% dos adolescentes entre 13 e 18 anos a adquirir o vício.
  • De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 14% dos adolescentes brasileiros com idade entre 12 e 16 anos já experimentaram algum tipo de droga que não álcool ou cigarro.
 Os tipos de drogas e seus efeitos no corpo humano

Anfetaminas -  Sua ação dura cerca de quatro horas e os principais efeitos são a sensação de grande força e iniciativa, excitação, euforia e insônia. A médio prazo, a droga pode produzir tremores, inquietude, desidratação da mucosa, taquicardia, efeitos psicóticos e dependência psicológica.

Cocaína - Nos primeiros minutos, o usuário tem alucinações agradáveis, euforia, sensação de força muscular e mental. Depois, ele pode ser náuseas e insônia. Em pessoas que têm problemas psiquiátricos, o uso de cocaína pode desencadear surtos paranóides, crises psicóticas e condutas perigosas a ele próprio ou a terceiros.

Heroína - Resulta em forte sonolência, náuseas, retenção urinária e prisão de ventre – efeitos que duram cerca de quatro horas. A médio prazo, leva à perda do apetite e do desejo sexual e torna a respiração e os batimentos cardíacos mais lentos.

Morfina - Os derivados da morfina são explorados pela Medicina há várias décadas, principalmente no alívio da dor de pacientes com câncer em estado terminal.

Maconha e haxixe - Inicialmente, o usuário tem a sensação de maior consciência e desinibição. Com o tempo, pode causar conjuntivite, bronquite e dependência. Em excesso, pode produzir efeitos paranóicos e pode ativar episódios esquizofrênicos em pacientes psicóticos.

LSD - Inicialmente, a droga intensifica as percepções sensoriais, principalmente a visão, e produz alucinações. Com o tempo, pode causar danos cromossômicos sérios, além de intensificar a ansiedade. O usuário costuma dizer que ouve, toca ou enxerga cores e sons estranhos.

Cogumelo - Seu efeito dura cerca de seis a oito horas, propiciando relaxamento muscular, náuseas e dores de cabeça, seguidos de alucinações visuais e auditivas.

Ecstasy - Seus efeitos são alucinógenos, como no caso do LSD e a dependência é inevitável.



ESPÍRITOS: Eles estão entre nós


As revelações sobre o estudo que ensina a
lidar com os espíritos que nos rodeiam

 Camila Pompeo

Allan Kardec
Ainda é muito comum, nos dias atuais, encontrar pessoas constrangidas ou mesmo aterrorizadas quando ouvem falar de Espiritismo ou quando presenciam algum fenômeno ligado ao mundo espiritual. Para esclarecer seus principais fundamentos é que a doutrina espírita é a primeira de uma série de reportagens sobre religiões, seitas, e doutrinas.
O Espiritismo  é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo corporal. A doutrina é baseada em livros escritos pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”, são os cinco livros responsáveis pela codificação e estudo da doutrina espírita no mundo.
As primeiras manifestações espirituais aconteceram ainda no século XIX, na Europa. Na época, mesas e cadeiras se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Após o relato dos fenômenos, Allan Kardec começou os estudos sobre o Espiritismo e se dedicou a busca de fatores que provassem cientificamente a influência de espíritos no mundo corporal.
Em 1857, o estudioso Kardecista (como também é chamada a Doutrina Espírita), sistematizou o espiritismo com o lançamento do primeiro livro sobre o assunto. A partir daí, outros diversos livros foram escritos para esclarecer os fenômenos sobrenaturais e explicar sobre a doutrina que conquistaria uma série de adeptos.
Para atender esses milhares de simpatizantes é que os espíritas criam um local de reuniões. Os famosos Centros Espíritas espalhados pelo país e pelo mundo são entidades filantrópicas que desenvolvem atividades baseadas nas obras de Allan Kardec. Os Centros realizam reuniões assistenciais, reuniões de educação mediúnica, trabalhos sociais, e até disponibilizam receituário mediúnico. Os atendimentos são gratuitos e os receituários destinados às pessoas que descrevem problemas de saúde física ou mental. Para aliviar as dores ou amenizar os problemas é que os homens, mediados pelos espíritos, recomendam remédios compostos por meio da Homeopatia, ou seja, por meio de medicamentos preparados a partir de substâncias extraídas da natureza.


CENTRO ESPÍRITA SEARA DA FÉ
A busca pelo entendimento do mundo dos espíritos

Centro Espírita de São Miguel do Oeste surgiu em 1983 através da parceria de duas amigas para ajudar um filho doente. Quase 30 anos depois, o Centro recebe centenas de pessoas em ações sociais, palestras e grupos de estudos sobre o espiritismo

Os Centros Espíritas se espalharam por todo o território brasileiro como uma forma de estudar a doutrinas dos espíritos e ajudar as pessoas que querem desenvolver a mediunidade e entender o mundo dos fenômenos sobrenaturais. Em São Miguel do Oeste, o Centro Espírita Seara da Fé foi criado em 25 de junho de 1983 por três amigas. A ideia surgiu quando uma das fundadoras descobriu a doença do filho. O Centro funcionou como uma “mão amiga” para que a família conseguisse superar a doença.
Hoje, quase 30 anos depois, o Centro Espírita está sobre a presidência de Nilo Sturmer. A casa conta ainda com a participação de voluntários que trabalham gratuitamente para levar ao público um pouco dos fundamentos que Allan Kardec eternizou nas páginas dos livros espíritas. Reunidos no prédio onde acontecem os encontros, o voluntário e presidente da União Regional Espírita, Jânio Dreyer Schreiner e também voluntária, Taís Pires da Rocha respondem algumas das principais questões sobre o espiritismo.
A doutrina espírita, segundo eles, surgiu ainda antes de Cristo quando Moisés, ao pé do Monte Sinai, recebeu as Tábuas da Lei contendo os 10 mandamentos.  Moisés teria sido o mediador entre Deus e os homens. “Ele recebeu de Deus as Tábuas da Lei. Isso é um fenômeno mediúnico. Essa foi a primeira revelação de Deus para nós. A segunda revelação foi a de Jesus que nos trouxe a lei do amor. E a terceira revelação seria a doutrina espírita que não está centralizada em uma única pessoa. Kardec pesquisou, mas a doutrina é dos espíritos”, explica Taís.

Reencarnação: Renascer para regenerar
   
Uma das principais crenças do Espiritismo é a reencarnação. Reencarnar, segundo a doutrina espírita, é o renascimento de um espírito já desencarnado em um novo corpo. O objetivo é o de aperfeiçoar o espírito através de uma nova oportunidade na Terra. Nos dias de hoje a reencarnação é amplamente discutida e debatida entre todos os seguimentos da sociedade. Apesar disso, Taís argumenta que a reencarnação está assegurada na própria Bíblia. “A reencarnação está na Bíblia. Existem várias passagens que falam desta questão. Existem também muitos estudos que nos provam que a reencarnação existe”, defende.
A reencarnação, segundo a teoria espírita, é uma possibilidade concedida a alguns espíritos para se regenerar de questões mal resolvidas em outras vidas. “Nós temos que evoluir e a reencarnação é essa porta que nos dá a condição do saber. Quando viemos para a Terra, viemos para aprender, para evoluir, para melhorar. A gente vive aqui um tempo e depois somos chamados. Depois de um tempo voltamos, fazemos nova caminhada, acumulamos novos conhecimentos, passamos por novas provas, até que consigamos desenvolver virtudes”, esclarece.
A teoria espírita explica que os espíritos desencarnados da Terra vão para um mundo onde recebem assistência e onde conhecem os pontos em que pecaram na vida terrena. Depois de algum tempo e já regenerados espiritualmente, eles recebem a oportunidade e voltam à Terra para praticar o bem e resolver questões como desafetos de vidas passadas. Taís enfatiza que a maioria dos espíritos aptos a voltar à vida terrena reencarna como membros da mesma família para melhorar relacionamentos e estreitar laços. “A gente, muitas vezes, reencarna naquela mesma família porque a gente precisa aperfeiçoar aqueles sentimentos. Uma hora você vem como mãe, outra hora vem como pai, outra hora vem como filho porque os espíritos não tem sexo. A gente muda o sexo de acordo com a necessidade de aprendizado”, justifica.
Um dos casos mais comuns de regeneração, segundo o Espiritismo, é o caso de mãe e filho. “O amor materno é uma das coisas mais sublimes. Por exemplo, se a pessoa tem alguma dificuldade nessa vida, uma briga, um desafeto e desencarna. No mundo espiritual é feita uma conversa por um tempo, e você tem o entendimento do porque foi falho. Depois disso, recebe a oportunidade de voltar e melhorar. Geralmente quando a pessoa reencarna e é mãe, o filho é aquele grande desafeto de outra vida, porque o amor mais sublime é o de mãe e serve como superação”, explica.
Os espíritas explicam que os espíritos que trabalharam pelo bem na Terra, podem reencarnar em mundos melhores. No entanto, espíritos como o do médium Chico Xavier e de Madre Tereza de Calcutá, por exemplo, provavelmente voltarão à Terra para continuar o caminho do bem. “A pessoa pode ir para mundos melhores. Nós temos muitos mundos habitados. Só há um mundo pior que a terra que é o primitivo e depois nós temos os mundos da regeneração. Pessoas muito boas podem reencarnar em mundos mais ditosos, em mundo mais felizes. Porém esses espíritos acabam retornando para a Terra para fazer o bem, para amar novamente”, garante.

FIO DE PRATA: 
O contato espiritual por meio do sonho

Você já deve ter vivido a experiência de reencontrar em sonhos, amigos ou familiares que já faleceram ou que não vê há anos. Segundo a doutrina espírita, esse contato é estabelecido porque quando dormimos, nosso espírito se emancipa do corpo físico e fica ligado somente por um Fio de Prata. Pelo sonho, nosso espírito consegue fazer contatos espirituais e ir a diversos lugares enquanto o corpo repousa.
Taís explica que o sonho depende muito do que a pessoa viu e fez durante o dia. “Quando a gente dorme, só o que precisa descansar é o corpo físico. O espírito não descansa, então ele vai à mundos. Para onde ele vai depende mundo do que a gente pensa e faz durante o dia. Se eu sou uma pessoa vinculada ao bem e ao amor, quando eu for dormir, eu irei para um lugar bom, de luz onde eu conseguirei encontrar com pessoas queridas. Essa porta que a noite nos abre é a alegria de estar encarnado. É como se você morresse todas as noites”, declara.

O PASSE: 
Energias positivas por meio de um mediador

Uma das ações mais conhecidas realizadas nos Centros Espíritas é o Passe. O passe é uma prática difundida entre os espíritas, que teria o poder de canalizar “fluidos” ou “energias” benéficos do próprio passista, de bons espíritos, ou ainda de ambas as fontes somadas. “É um auxílio do mundo espiritual que todas as casas possuem. São energias que a gente canaliza para aquela pessoa. Pode ser espiritual. Pode ser só magnetismo da pessoa. O passe que se faz normalmente na casa espírita é misto, ou seja, é o passista com auxilio da espiritualidade”, explica.
Taís destaca que é importante que as pessoas procurem o passe por livre e espontânea vontade e que participem da prática de coração aberto. “As pessoas pensam que vão entrar ali e vão sair felizes, mas não é assim, porque não existe mágica. Tudo tem a ver com o seu empenho. Você entra ali porque quer ajuda. É um fortalecimento. Às vezes a pessoa entra na cabine de passe, mas sai igual porque não é receptiva”, justifica.

MEDIUNIDADE AFLORADA
“Eu vejo espíritos”. Como lidar com essas visões mediúnicas?

Adepta da doutrina espírita relata experiências sobre fenômenos mediúnicos desde os primeiros anos de idade

Conforme o que defende a Doutrina Espírita, todos nós, sem exceção, somos dotados de mediunidade espírita. Alguns possuem esta capacidade humana mais aflorada e por isso têm mais facilidade no contato ou comunicação com os espíritos. Glane Ermelinda Tiezerini, 51 anos, é uma das milhares de pessoas que tem o dom da mediunidade mais aflorado.
Desde muito pequena, Glaene presencia fenômenos espirituais. Naquela época, a pequena era amparada pelos pais, estudiosos da doutrina espírita. A funcionária pública estadual explica que no começo sofreu muito com as visões e sonhos premonitórios. “Quando eu era pequena, eu era um pouco diferente. Eu via as coisas, eu pressentia, eu tinha ataques de choros sem explicação. Depois com o tempo, eu comecei a sofrer muito, tive medo. Eu sofri de não conseguir dormir, de ouvir passos, de ver gente, de pressentir coisas que aconteciam. Muitas vezes aconteceu de eu sentar à mesa pra jantar e começar a passar mal. Eu via um clarão e desmaiava. Então era bem sofrido, por isso eu tive que procurar ajuda”, explica.
A primeira ajuda para entender os fenômenos que a pequena garotinha estava presenciando, partiu do pai. Com auxílio dos livros do Kardecismo pelos quais o pai estudava a doutrina, Glaene conta que aprendeu a conviver com o dom. “Isso vem de casa, meu pai sempre leu muito sobre o espiritismo. Meu pai era um médium muito elevado e estudava muito. Ele dizia que minha mediunidade era muito grande e que eu precisava desenvolver”, relata.
            Em Chapecó, os pais de Glaene fundaram o Centro Espírita Bezerra de Menezes, local onde faziam atendimentos mediúnicos e palestras assistenciais sobre a doutrina. Com o falecimento do pai, o centro foi fechado. De lá pra cá, Glaene relata que aprendeu muito sobre o Espiritismo. “A gente procura o espiritismo ou pela dor ou pelo amor. É muito difícil ouvir alguém dizer que procurou um Centro Espírita por quis conhecer. A maioria das pessoas que procuram o Centro, são pessoas que precisam de ajuda”, justifica.
            Por conta da experiência que viveu quando criança, Glaene entende o medo que algumas pessoas têm de se aperfeiçoarem sobre o espiritismo. Ela aconselha, no entanto, que as pessoas que tenham algum tipo de mediunidade mais aflorado, procurem ajuda em um Centro Espírita para poder entender a doutrina e se aperfeiçoar. “É um pouco temeroso porque as pessoas não conhecem, mas o Espiritismo é uma coisa muito bonita. As pessoas deveriam desenvolver esse lado que todos nós temos, é um modo de se conhecer”, declara.


REGRESSÃO: A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

            Com o passar do tempo, com a ajuda dos pais e o estudo do espiritismo através dos livros, Glaene aprendeu a conviver com o dom. Hoje, anos após, ela conta que ainda vê espíritos, mas não sofre tanto como no passado. Além dos familiares que já faleceram, Glaene conta que recebe constantemente a visita de um espírito desconhecido. Segundo ela, o espírito de um senhor já de idade a acompanha há bastante tempo. “Muitas noites eu acordo e o vejo. Ele fica em pé, na guarda da minha cama. No começo isso me incomodava, mas depois eu vi que ele me protegia”, relata.
            Para tentar descobrir a identidade do espírito misterioso, Glaene recorreu à uma regressão, terapia que possibilita através da hipnose, uma consulta às vidas passadas.
Na regressão, o paciente, consciente, revive campos de seu passado e utiliza a experiência como remédio para medos, depressão e doenças. “Eu fiz regressão pra conseguir identificar ele e realmente consegui. É um espírito guardião. Muitas vezes eu perguntei o nome dele, mas nunca tive resposta. Ele apenas sorri pra mim e fica junto comigo”, enfatiza.
            Depois de várias sessões de regressão, Glaene conseguiu visitar diversas vidas do passado. Ela conta que procurou a terapia por curiosidade de saber como foi no passado e de que forma viveu as outras vidas. “Eu queria ver como eu fui em outras vidas porque hoje eu tenho 51 anos e nunca fui casada, nunca tive filhos. Em nenhuma das vidas que eu visitei eu fui casada, em nenhuma eu tive filhos”, explica.
            Ela conta ainda que outro motivo que a levou a procurar a regressão era desvendar o mistério sobre um dor que sente no lado esquerdo do peito. Ela conta que a descoberta do mistério foi o que mais a marcou em toda a terapia. “Tem algo que me marcou muito. Foi uma vida em que eu me matei. Eu tenho uma dor muito grande no lado esquerdo. Se eu chego perto de uma pessoa que está muito carregada de energias negativas, sinto uma dor muito forte. Na regressão eu descobri que em uma dessas vidas me matei com facadas no lado esquerdo do peito”, responde emocionada.
           Glaene resgata a sensação que sentiu quando estava vagando sobre as lembranças que se reascendiam aos poucos na memória. “Nesse tipo de regressão, você fica mais consciente. É um filme. Vi pessoas conhecidas que convivo ainda hoje. É uma mistura de sentimentos. Eu tinha feições diferentes das que eu tenho hoje. Em uma das vidas eu era alta de cabelo comprido e preto, era uma cigana. Na outra eu era diferente, bem magrinha, com o rosto bem fino. A gente se vê muito diferente, mas sabe que é você que está ali, você se identifica, se reconhece naquelas feições”, relata.
            Glaene conta que no começo a terapia causa um estado de choque mas aconselha que as pessoas que tenham algum problema de doença ou de medo, procurem a terapia. “Talvez uma pessoa que não tenha conhecimento sobre isso se choque. Mas foi bom pra mim. Eu aconselho que quem tenha problema de relacionamento, de doenças, de fobias, procurem a regressão”, finaliza.


Chico Xavier e a cartas e livros psicografados

Chico Xavier
O crescimento da doutrina espírita no Brasil ganhou novo fôlego com o surgimento de uma figura emblemática dessa religião: o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Por meio de suas obras psicografadas, Chico passou a popularizar ainda mais o espiritismo.
Psicografia, segundo o vocabulário espírita, é a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas pelos Espíritos. A psicografia está entre as principais expressões mediúnicas existentes.
Entre as obras de Chico Xavier, está “Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, onde ele narra a intervenção dos espíritos em diferentes acontecimentos da história nacional. Outro sucesso do médium é o livro “Nosso Lar”, ditado pelo espírito André Luiz. O livro rendeu a produção de um filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria no Brasil. Chico morreu aos 92 anos, no dia 30 de junho de 20012.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UMBANDA


SARAVÁ! - Centro de Umbanda abre suas portas e revela os mistérios da religião dos caboclos e orixás

Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto

Reportagem e Fotos: Camila Pompeo

            O Brasil é um país plural em religiões. Se no passado a pluralidade religiosa era criticada, hoje são muitos os que simpatizam com religiões que envolvem o espiritismo e outros fenômenos sobrenaturais. Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto. A partir de agora, você leitor, está convidado a conhecer os relatos dos médiuns que fazem a Umbanda em São Miguel do Oeste.

AFINAL, O QUE É A UMBANDA?

            A Umbanda é a religião brasileira que mistura o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras e indígenas.  Os terreiros ou centros de Umbanda são comandados pelo médium mais experiente, geralmente o fundador da casa. Este médium, conhecido como Pai de Santo ou Mãe de Santo, incorpora o orixá que comanda a casa e auxilia na incorporação dos demais médiuns. Na Umbanda, os Santos conhecidos na Igreja Católica, mudam de imagem e nomes. Em um grande altar eles sãos dispostos e recebem oferendas e velas de diversas cores.
            A religião desenvolve seu trabalho com o auxilio das entidades espirituais dos caboclos e pretos-velhos, espíritos de indígenas e escravos. Essas entidades se apresentam nos terreiros de Umbanda e são espíritos com alto grau espiritual de evolução. Segundo os umbandistas, a religião foi criada em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência da entidade espiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas. 
Antes disso, já existiam manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que a religião foi organizada com rituais e contornos bem definidos.
Em 1939 foi fundada a Federação Espírita de Umbanda. Dois anos depois, em 1941, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de Umbanda fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conquistou junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.

Pai de Santo explica trabalhos realizados pelo Centro de Umbanda que fundou dentro da própria casa

Morador de São Miguel do Oeste estuda a Umbanda desde os seis anos de idade e, desde os 13, incorpora entidades para o atendimento à população

             Em um dia frio e chuvoso é que Clóvis Luiz da Silva, 41 anos, nos recebe em sua casa.  Clóvis é mecânico e “Pai de Santo” do Centro de Umbanda Tenda de Oxossi, de São Miguel do Oeste. O Centro foi construído há cerca de 10 anos na residência onde o Pai de Santo mora com a esposa e as três filhas.
        Criado dentro das crenças da religião dos pretos-velhos, caboclos e orixás, Clóvis desenvolveu o dom que serviria, no futuro, como auxílio à muitas pessoas. Com apenas seis anos de idade, o ainda menino, já frequentava o Centro de Umbanda mantido pelo pai. Como era acostumado com a rotina do Centro, Clóvis nunca teve medo e sequer hesitou quando lhe foi dada a oportunidade de trabalhar melhor sua mediunidade. “Eu nasci dentro disso. São 41 anos dentro da Umbanda. Tive minhas primeiras experiências depois de dois anos de preparação com seis anos de idade. Mas eu só comecei a atender as pessoas com os meus 13 anos de idade”, relata.
         Depois da morte do pai, estudioso da Umbanda, Clóvis decidiu prosseguir com o terreiro. Ele e a esposa foram tocando o Centro até resolverem trazê-lo para dentro de casa. Na casa onde mora, o casal construiu uma peça para dedicar aos trabalhos mediúnicos da Umbanda e uma estrutura implícita de cabos de aço para afastar a negatividade. Clóvis revela que com o desenvolvimento da mediunidade passou a ter visões dentro de casa. Apesar disso, ele afirma que nunca teve medo. “Para acontecer isso, eu preciso estar muito preparado. Mas eu não tenho medo. Também nunca aconteceu de eu incorporar sem querer. É preciso respeitar a entidade que está contigo para que isso não aconteça”, esclarece.
          Nas noites de segunda-feira, ele e os 16 voluntários da Tenda de Oxossi atendem os presentes em sessões de passes, descarrego e consultas. “Toda a segunda-feira tem atendimento às 19h30. Os passes são livres, mas as consultas custam R$ 10. Quem não tiver dinheiro, não tem problema. O dinheiro que arrecadamos é revertido em alimentos não perecíveis para doação. São os próprios frequentadores que distribuem as cestas básicas”, explica.

O APOIO DA ESPOSA
O medo que se transformou em amor 

        Meri Rose De Prá da Silva, 41 anos, é esposa de Clóvis. Rose ajuda na tradução da linguagem cabocla das entidades para a população e nos encaminhamentos do Centro de Umbanda da família. Ela não quis desenvolver a mediunidade e, por isso, apenas ajuda o marido no andamento da celebração. Porém, nem sempre foi assim. Rose conta que pouco depois de conhecer o marido, descobriu que ele trabalhava no Centro de Umbanda do pai. Ela relata que a primeira reação foi de choque e medo. “Quando ele falou que o pai dele trabalhava com isso eu fiquei apavorada. Mas foi no centro do meu sogro que eu me curei de um reumatismo. Hoje eu amo o que eu faço, não tem dinheiro que pague”, conta.
       Trabalhando como empregada doméstica durante o dia, Rose afirma que a noite da segunda-feira é sempre especial. O casal reserva este dia da semana para se dedicar aos trabalhos do Centro e às consultas que duram até cinco horas. “A gente faz esse trabalho em função dos outros. Nós abrimos mão de ficar com as nossas filhas para estar aqui porque gostamos disso”, enfatiza.


“É HORA DE TRABALHAR...”
Concentração, cânticos e oferendas para evocar as entidades

       Segunda-feira, dia 18 de junho, noite de trabalhos no Centro de Umbanda Tenda de Oxossi. Pouco a pouco as pessoas chegam para acompanhar a sessão da noite, enquanto os médiuns aguardam frente ao altar repleto de orixás, velas e bebidas. As 19h30 em ponto começa a sessão da semana. Cerca de 10 pessoas acompanham a explicação de Clóvis sobre os trabalhos do dia.
        Vestidos de branco e com as guias de proteção coloridas no pescoço, os cinco médiuns dão início aos trabalhos com os cânticos umbandistas. Os simpatizantes da Umbanda assistem a tudo com atenção e acompanham a letra das músicas. De pés descalços, Clóvis, coordenador dos trabalhos, precisa de muita concentração para receber a entidade cabocla. De repente, ele começa a rodar em meio aos demais médiuns e tem sua voz e maneira de andar totalmente transformada. A voz e o andar lembram a de um ancião.
         Todos os presentes saudam a chegada da entidade que bebe vinho ansiosamente em uma taça fixada no centro do altar. “As bebidas e charutos são oferendas para as entidades. Não que ela precise disso para trabalhar, para te ajudar, mas é um agrado que a gente faz. Cada entidade tem a sua bebida e por isso deixam sua assinatura nas garrafas”, explica. 
           A incorporação de Clóvis acontece de forma inconsciente, ou seja, depois do término dos trabalhos, o Pai de Santo não lembra de nada do que aconteceu enquanto esteve incorporado pela entidade. “A entidade vem para nos ajudar. Existe a incorporação consciente, inconsciente e semi inconsciente. Uns lembram vagamente, outros lembram de tudo e tem o médium que não lembra de nada”, enfatiza.
           Depois de incorporada, a entidade que ocupa o corpo de Clóvis ajuda os outros médiuns na concentração. Um por um, outros dois médiuns incorporam enquanto outras duas pessoas ajudam nos encaminhamentos. “São 16 médiuns voluntários trabalhando dentro do Centro. Com o tempo, eles vão desenvolvendo melhor o dom. Muitos desistem porque a própria entidade exige muito de nós, exigem dignidade e ética. Mas para desistir você não pode chutar seu passado. Você precisa pedir permissão para o orixá que comanda a casa para parar”, justifica.
         Após a incorporação de todos os médiuns, têm início os trabalhos de passes. Os passes são rápidos, mas as consultas duram até meia hora.  As pessoas que desejam consultar as entidades põe o nome em uma lista antes mesmo dos trabalhos da noite começarem. Quando as consultas têm início, cada pessoa é chamada de acordo com a ordem da lista e tem o direito de fazerem quantas perguntas quiserem. “Os principais assuntos das consultas são saúde, relacionamento familiar e negócios. Muitas pessoas vêm aqui para solucionar uma intriga de casal e as entidades tentam apaziguar a situação. A Umbanda prega a paz, nunca a discórdia dentro de uma casa. A Umbanda vêm pra unir a família, unir um casal e mostrar que independente de religião, Deus é um só”, esclarece.
       No final da noite quando todas as pessoas são atendidas, os médiuns se despedem das entidades sem lembrar o que fizeram momentos antes. Clóvis ressalta que a única sensação que tem é de um corpo muito gelado. Ele acrescenta ainda que precisam obedecer algumas exigências feitas pelos pretos-velhos.“Eu não sinto nada, eu não me lembro de nada. A única coisa que acontece é que meu corpo fica muito frio depois dos trabalhos. E da meia noite até terminar o trabalho a gente não pode ter relação sexual, não pode comer carne de porco e não pode brigar”, relata.


AS POLÊMICAS DA UMBANDA:
O mito do sacrifício de animais e dos despachos

        Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
            Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
         Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
     O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.


OS PRINCIPAIS ORIXÁS DA UMBANDA: 

Na Umbanda, os Orixás são cultuados como divindades de um plano astral superior. Conheça alguns dos principais orixás da religião e quais suas designações:


Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos.
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces.
Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas.
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos.
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando chegam à Terra.
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do ferro;
Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura 'a mesa, senhor da caça;


O mito do sacrifício de animais e dos despachos


Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.

LEMBRANÇAS ETERNIZADAS


A Segunda Guerra Mundial pelas palavras de quem lutou

No dia 2 de maio é comemorado o dia do Ex-combatente. Em homenagem aos veteranos de guerra, a reportagem do Jornal O Líder preparou uma reportagem especial onde os Ex-combatentes fazem um relato completo e verdadeiro da guerra que matou mais de mil soldados brasileiros

Reportagem: Camila Pompeo

Símbolo da FEB
No dia 1º de setembro de 1939, as forças nazistas alemãs de Adolf Hitler invadiram a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. O Brasil passou a participar do conflito a partir de 1942, na época do governo de Getúlio Vargas. A princípio, a posição brasileira foi de neutralidade, mas depois de alguns ataques a navios brasileiros, Getúlio Vargas decidiu entrar em acordo com o presidente americano para dar início à participação do país na Guerra.
            Dos quase 25.500 soldados que embarcaram, pelo menos 1.230 morreram em batalha durante os 292 dias de conflito. Hoje, pouco mais de 70 anos desde o início da Segunda Guerra Mundial, a história continua viva na lembrança dos ex-combatentes brasileiros que participaram do conflito. Em homenagem aos personagens brasileiros que estiveram nas frentes de batalhas na Itália, foi criado o Dia Nacional do Ex-Combatente, comemorado no dia 2 de maio.

“ERA DE ARREPIAR SABER QUE ÍAMOS PARA A GUERRA (...)”

Ex-combatente não atuou nas frentes de batalha, mas acompanhou de perto a atuação dos colegas de farda brasileiros que lutaram e morreram durante o conflito

Lindolfo Guilherme Arend - Foto: Camila Pompeo
            O primeiro grupo de militares brasileiros chegou à Itália em julho de 1944. O Brasil enviou pouco mais de 25 mil homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB), 42 pilotos e 400 homens de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB). O objetivo era ajudar os norte-americanos na libertação da Itália, que, na época, estava parcialmente nas mãos do exército alemão. Com 92 anos, Lindolfo Guilherme Arend lembra de cada detalhe da batalha ocorrida nos anos 1940 e conta emocionado o que viu da Guerra.
            Na manhã do dia 25 de dezembro de 1944, o jovem Lindolfo, de 25 anos, e os colegas de farda saíram da cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul rumo ao Rio de Janeiro onde as tropas foram preparadas. Em fevereiro de 1945, o navio partiu rumo à Itália. Os pais do jovem militar só descobriram o paradeiro do filho quando ele já estava no país italiano. “Era de arrepiar saber que nós íamos para a guerra. Quando chegamos em Napoles, nos arrepiamos e pensamos: “Onde nós fomos nos meter?”. Nós fomos no terceiro escalão, fomos para repor as baixas de militares que haviam sido mortos ou feridos em batalha”, lembra.
Assim que colocaram os pés em solo italiano, a realidade começou a apontar frente aos militares. Com a pressão do exército alemão, a população italiana fugia de suas casas e saía às ruas em busca de alimento e proteção das tropas aliadas. “A trincheira era um lixo. Tinha gente maltrapilha pedindo comida, pedindo cigarro. Não tenho nem como explicar, era uma miséria. Foi muito triste chegar em um ambiente daquele”, relata.
Lindolfo não atuou nas frentes de batalha, mas trabalhou no depósito pessoal das tropas brasileiras. As tropas precisavam estar sempre completas para atuarem contra o exército inimigo, por isso, quando alguns soldados morriam ou eram feridos, outros eram convocados para os substituir. “Nós éramos da Centro de Recompletamento. O efetivo precisava estar completo então quando havia baixa na tropa, eles iam nos buscar. Mas eu tive muita sorte porque quando cheguei, me colocaram na administração do depósito. Eu era bom nisso, mas participei ativamente de instruções e aprendi a manusear novas armas”, conta.
Nos quase 300 dias de conflito, muitos homens integrantes das tropas brasileiras morreram. Porém, na época, os soldados brasileiros não encontravam tempo sequer para sentir medo da morte. “Medo de bala ninguém tinha. A gente estava lá, então não adiantava ficar triste. Precisávamos ficar com a cabeça erguida”, afirma.
Foto da 2ª Guerra Mundial
O longo período o qual os militares precisaram ficar longe da família motivava alguns a escrever cartas. Muitos, no entanto, deixaram de escrever por conta da rígida censura imposta durante a guerra. “As cartas passavam pela censura. Qualquer palavra que eles não gostassem, eles cortavam. Eu nunca escrevi para os meus pais”, explica.
Na sala de administração, os militares controlavam com a ajuda de um mapa, o avanço das tropas brasileiras no território italiano. Com a chegada do inverno, as tropas não saiam da posição e utilizavam artilharia pesada para bombardear-se à distância. “Nos bombardeamos pela artilharia. O gelo tomou conta. Tinha neve de 60 cm a 80 cm de altura, por isso ninguém saía. Quando o gelo começou a derreter, a coisa foi para frente. O Monte Castelo era intransponível”, enfatiza.
Questionado sobre o momento mais difícil em toda a Segunda Guerra, Lindolfo não hesita em responder. “Foi a tomada do Monte Castelo, pois na primeira tentativa, as nossas tropas fracassaram”, justifica.  A batalha do Monte Castelo foi travada entre as tropas aliadas e o Exército alemão, no final da guerra. O objetivo era conter o avanço dos alemães pelo Norte da Itália. Durante a batalha, que durou cerca de três meses, foram efetuados diversos ataques. Muitos soldados não resistiram ao frio e as armas de grosso calibre do Exército alemão.
Os militares integrantes da Força Expedicionária que morriam durante a batalha, eram sepultados no Cemitério de Pistoia, na Itália. “No Monte Castelo perdemos muitos soldados. De um pelotão de 48 soldados, voltaram 17. O resto morreu e só foi encontrado depois que o gelo derreteu. Conhecemos eles apenas por conta da placa de identificação que eles traziam junto ao peito. Perdi muitos amigos também na guerra e só descobri quando fomos visitar o cemitério brasileiro na Itália e encontramos as plaquetas na cruz”, relata.
Em setembro de 1945 chegava ao fim a Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos e os aliados saiam vencedores no conflito que matou cerca de 60 milhões de pessoas, entre civis e militares. Enquanto muitas tropas se preparavam para voltar para o Brasil outras, continuavam em solo italiano trabalhando em combate a qualquer tipo de doença. “Os americanos eram muito exigentes, não queriam deixar doenças para trás. Nós íamos de casa em casa procurar o mosquito da malária. Onde achávamos um foco do mosquito, colocávamos veneno dentro e acabávamos com ele”, lembra.
Na volta ao Brasil, os expedicionários foram recepcionados calorosamente pela população brasileira e pelas famílias que aguardavam ansiosas por notícias. A festa de recepção durou dias no Rio de Janeiro, na época Capital da República. “No Brasil a recepção foi muito bonita, os familiares estavam esperando. Eu não tinha familiar presente, por isso fiquei assistindo. Estava feliz porque tinha voltado”, revela.
Cerca de três anos depois do fim da Guerra, Lindolfo, conheceu a esposa e se casou. O casal teve um filho e passou a viver do dinheiro que a produção rural rendia. Hoje eles vivem em São Miguel do Oeste. Ao lado da esposa e bem pertinho do fogão à lenha, seu Lindolfo revela que a vida foi generosa, mas que ainda tem muito o que viver. “Nossa vida não foi folgada, nem apertada. O que dá para dizer é que vivemos bem nesses anos todos. Apesar da minha idade, tenho saúde de ferro, pretendo viver mais alguns anos”, conclui.

MEMÓRIAS DE UM EX-COMBATENTE
Veterano escreve livro baseado nas experiências vividas na Guerra

O livro foi escrito durante a guerra e guardado à sete chaves, até ser publicado no ano de 2000 em Mondaí

            “Estou escrevendo estas linhas à noite, na barraca, apoiando o caderno encima dos joelhos, segurando minha lanterna com a mão esquerda, pois não tenho mais velas. O Wilson, meu companheiro de barraca, em geral dorme antes de mim. Ele fica resmungando porque eu tenho a luz da lanterna acesa. Ele que tenha um pouco de paciência. Ontem, o Wilson e eu apostamos uma janta em um bom restaurante do Rio de Janeiro se nós estivermos de volta ao Brasil antes de 31 de dezembro de 1945. Eu terei de pagar. Se for depois dessa data, é ele quem vai pagar. Só que ninguém pensou em caso de morte”. O relato foi escrito pelo jovem sargento José Edgar Eckert no dia 14 de novembro de 1944, uma terça-feira.
            Este trecho e outros diversos relatos foram eternizados nas 455 páginas do livro “Memórias de um ex-combatente”, escrito pelo militar durante toda a Segunda Guerra Mundial. O senhor de 92 anos, foi um dos soldados convocados para atuar no conflito. Hoje, o gaúcho natural da cidade de Selbach, mora na cidade catarinense de Mondaí e está debilitado em função da idade. Porém, em uma antiga entrevista, o veterano de guerra relata algumas das lembranças guardadas nas páginas dos antigos diários de guerra.

COMO TUDO COMEÇOU...

José Edgar Eckert
            A vida militar de José Edgar começou em Passo Fundo, no ano de 1939 onde serviu como 3º sargento. Após uma temporada na cidade gaúcha, foi transferido para o 1ª Regimento de Infantaria Sampaio, no Rio de Janeiro, onde pretendia dar continuidade aos estudos interrompidos aos 13 anos de idade. “Aos 13 anos vim com a minha família para Pinhalzinho, onde eles estavam iniciando uma madeireira na mata virgem daquele sertão. Depois de alguns anos de trabalho duro na roça, amadureceu em mim a vontade de recomeçar os estudos interrompidos. Aos 19 anos, meu pai me encaminhou ao quartel de Passo Fundo, onde me apresentei como voluntário”, relata.
             Na época, o Brasil obedecia a ditadura imposta pelo presidente Getúlio Vargas e já começava a sofrer a pressão dos Estados Unidos para participar da guerra. “Os EUA começou a exigir que o Brasil participasse da guerra contra a ditadura da Alemanha e Itália. Mas nós nos perguntávamos: “Como vamos lutar contra a ditadura da Europa se em casa também temos ditadura?” Nós que estávamos sendo preparados para ir à luta em favor da democracia, não podíamos entender isso muito bem. Mas enfim, como sargento, eu não podia decidir essas coisas, o jeito era obedecer e cumprir ordens”, relata.
            Após a convocação, os mais de 25 mil brasileiros levaram vários meses para se organizar e ficar em condições de tomar parte nas operações de guerra na linha de frente da Itália. José Edgar partiu junto com os colegas do 2º e 3º escalões no dia 20 de setembro de 1944. Os militares navegaram à bordo de um navio americano de transporte de tropa, rumo a Livorno, na Itália. “A viagem durou 15 dias. De manhã bem cedo, apreciávamos o quanto era lindo o nascer do sol entre céu e água. É no mar que se pode visualizar bem direitinho a linha do horizonte. Quando chegamos a Livorno, o acampamento já estava montado”, lembra.
Placa de identificação de José Edgar
          Durante cada dia na guerra, José Edgar tinha além dos colegas de farda, a companhia de um caderno. Nas páginas em branco, o militar escrevia diariamente tudo que os olhos viam e o coração sentia. Foram quatro cadernos escritos durante o período em que estiveram no país italiano. Na época, era proibido fazer qualquer tipo de relato sobre a situação e sobre os rumos da guerra. “São 455 páginas registradas. É um relato modesto, simples e verdadeiro de alguns acontecimentos dos quais participei. Eu queria que ficasse uma lembrança para mim e para a minha família. O livro falava de mim, dos meus companheiros. À noite, eu deitava em qualquer lugar e escrevia. Escrevi até o último dia”, recorda.
         Na página 203 do livro, José Edgar narra a conquista do temido Monte Castelo, onde as tropas brasileiras atuaram em diversas investidas. “Hoje nossos aviões e a artilharia não deixam os alemães descansar e apoiam a progressão do nosso Regimento. O Monte Castelo é envolto numa densa nuvem de fumaça e os aviões despejam constantemente bombas e mais bombas. Todos nós suspiramos, pois desta vez conseguimos dominar este Monte que até então ninguém a não ser os alemães, haviam pisado, desde a derrota da Itália”, relata.
            Em agosto de 1945, finalmente os militares se preparavam para desembarcar no Brasil e reencontrar as famílias. Em um dos últimos relatos, no dia 31 de agosto de 1945, o jovem militar decretava o fim dos diários de guerra. “Já deixou de ser um diário este meu histórico de guerra. Pretendo encerrá-lo definitivamente mesmo porque não faz mais sentido. Passaram-se oito dias após aquela nossa chegada à Pátria, o que constitui, sem dúvida, um dia inolvidável na vida de todos nós que tivemos a ventura de regressar ilesos”, escreveu.
José Edgar entre os colegas em foto tirada na Guerra
            Um ano depois, em 1946, o militar optou por deixar o Exército e recebeu como homenagem a medalha de Campanha, a Medalha de Guerra, e a Medalha Cruz de Combate. Em 1948, José Edgar foi nomeado Tenente da Reserva pelo então presidente da Republica, Eurico Gaspar Dutra.            Na véspera do natal de 1945, ele enviava do Rio de Janeiro, uma aliança de noivado para a antiga amiga Zica, que morava em Pinhalzinho.
            O noivado evoluiu, os dois se casaram e tiveram três filhos.  Hoje, o veterano vive na cidade de Mondaí, junto da esposa e dos filhos e é constantemente homenageado nos inúmeros encontros de ex-combatentes realizados em diversos Estados brasileiros. O livro foi publicado com o apoio do filho Sérgio, que percebeu o valor dos documentos. “É um sentimento de muito orgulho. Nem minha mãe sabia o conteúdo daquele diário. Ele guardava à sete chaves. Em 2000, eu ensinei ele a digitar e ele foi repassando os textos dos diários para o computador”, explica.
            Sérgio também teve participação no livro do pai. Ele escreveu a primeira orelha do livro como homenagem ao veterano, dono de um dos relatos mais completos e verdadeiros da história da Segunda Guerra Mundial. “O orgulho que se aloja incontido dentro de mim não podia, jamais, deixar de ser dito ou escrito em algum lugar”, enfatiza. Os outros dois filhos, Lúcia e Antonio, a esposa, os colegas mortos em combate e os camaradas que retornaram com ele da guerra, também foram homenageados nas dedicatórias das primeiras páginas do livro. Hoje, o veterano escreve outro livro sobre a Segunda Guerra Mundial.