terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SÉRIE HAITIANOS NO BRASIL: O recomeço do outro lado do mundo


Camila Pompeo

Um país e um povo em constante reconstrução. É essa a realidade da comunidade Haitiana desde janeiro de 2010, quando um forte terremoto devastou o país, a vida e a esperança de muitos. Cerca de 240 mil pessoas morreram vítimas da tragédia que abalou as estruturas das cidades, destruindo casas, prédios e lembranças de toda uma vida. Uma tragédia que abalou também a esperança de uma população que já vivia à margem de condições básicas de sobrevivência e que já implorava por uma vida melhor e mais digna.
Antes mesmo de assistir a realidade mais dura de sua história, o Haiti já lutava por melhores momentos. Com uma população de cerca de 10,4 milhões de habitantes, o país caribenho procurou seguir em meio à uma guerra civil provocada por grupos de esquerda. Gradualmente, a violência se espalhava por todo o país, tirando o pouco de paz que ainda havia. Foi então que no ano de 2004, uma ajuda foi enviada. Em junho daquele ano foi estabelecida a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), envolvendo exércitos de diversos países, entre eles o Brasil. Mais de seis mil soldados de diversas nacionalidades foram enviados para o outro lado do mundo na missão de paz de reestruturação do Haiti.
Com a permanência dos soldados nas ruas do país, principalmente na Capital Porto Príncipe, aos poucos se tinha a sensação de que a tranquilidade voltava a reinar. O medo que se instalou assim que os militares chegaram ao país ia, aos poucos, dando espaço à uma intensa ligação de orgulho e amizade. Com ruas mais tranquilas, era possível que se andasse sem medo. Era possível sair para trabalhar, assim como também era possível ver crianças brincando e sonhando acordadas com um amanhã ainda melhor.
Mas a realidade mais dura de suas vidas ainda estava por vir e chegou com o terremoto catastrófico de 7.0 pontos de magnitude, ocorrido quatro anos atrás. Desde então, o Haiti passou a depender de ajuda humanitária de diversos países que contribuíram com fundos, alimentação, expedições de resgate, equipes médicas e engenheiros. Além dos milhares de mortos, o saldo final foi ainda de cerca de 1,5 milhão de desabrigados.
E mesmo hoje, anos após a ocorrência da catástrofe, o país ainda busca emergir em meio aos escombros da desesperança, lutando para reconstruir o que ficou. E foi em busca da reconstrução da esperança e da vida que desde 2010, milhares de haitianos migraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida.
A viagem até o Brasil é longa. Dura até dois meses quando a feita por países da América Central e América do Sul. Os imigrantes deixam o Haiti em direção à República Dominicana, onde pegam um voo para o Panamá e depois ao Equador. Alguns partem de navio direto para o Panamá e seguem em embarcações até o Equador. O trajeto de lá é igual: pegam um ônibus para atravessar o Peru e finalmente chegar ao Brasil. A parte final da viagem costuma ser feita a pé.
Os imigrantes entram no país por Assis Brasil (AC) e seguem para Brasiléia, onde fazem a solicitação de ingresso no país e iniciam o processo para conseguir documentos, já que a vinda ao Brasil tem como principal objetivo de realizar o sonho de conseguir emprego e melhorar vida, bem como ajudar a família que ficou no Haiti. Após a legalização, inicia a fase de recrutamento pelas empresas, em que sua maioria são dos ramos da construção civil e da metalúrgica. Segundo o governo do Acre, desde dezembro de 2010, cerca de 15 mil haitianos entraram pela fronteira do Peru com o Estado.

São Miguel do Oeste também é uma das muitas cidades brasileiras que está recebendo imigrantes haitianos. Assim como outros milhares de haitianos que estão no Brasil, os grupos que já residem no município chegaram ao país pelo Estado do Acre que faz fronteira com o Peru, e lá, depois de acertar toda a documentação, foram recrutados para o trabalho em São Miguel. O Jornal O Líder entrou no cotidiano e buscou as história de vida das dezenas de haitianos que aqui trabalham, em busca de uma realidade não tão dura.