Camila Pompeo
Um país e um povo em constante reconstrução. É essa
a realidade da comunidade Haitiana desde janeiro de 2010, quando um forte
terremoto devastou o país, a vida e a esperança de muitos. Cerca de 240 mil
pessoas morreram vítimas da tragédia que abalou as estruturas das cidades,
destruindo casas, prédios e lembranças de toda uma vida. Uma tragédia que
abalou também a esperança de uma população que já vivia à margem de condições
básicas de sobrevivência e que já implorava por uma vida melhor e mais digna.
Antes mesmo de assistir a realidade mais dura de sua
história, o Haiti já lutava por melhores momentos. Com uma população de cerca
de 10,4 milhões de habitantes, o país caribenho procurou seguir em meio à uma
guerra civil provocada por grupos de esquerda. Gradualmente, a violência se
espalhava por todo o país, tirando o pouco de paz que ainda havia. Foi então
que no ano de 2004, uma ajuda foi enviada. Em junho daquele ano foi
estabelecida a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH),
envolvendo exércitos de diversos países, entre eles o Brasil. Mais de seis mil
soldados de diversas nacionalidades foram enviados para o outro lado do mundo
na missão de paz de reestruturação do Haiti.
Com a permanência dos soldados nas ruas do país,
principalmente na Capital Porto Príncipe, aos poucos se tinha a sensação de que
a tranquilidade voltava a reinar. O medo que se instalou assim que os militares
chegaram ao país ia, aos poucos, dando espaço à uma intensa ligação de orgulho
e amizade. Com ruas mais tranquilas, era possível que se andasse sem medo. Era
possível sair para trabalhar, assim como também era possível ver crianças
brincando e sonhando acordadas com um amanhã ainda melhor.
Mas a realidade mais dura de suas vidas ainda estava
por vir e chegou com o terremoto catastrófico de 7.0 pontos de magnitude,
ocorrido quatro anos atrás. Desde então, o Haiti passou a depender de ajuda
humanitária de diversos países que contribuíram com fundos, alimentação,
expedições de resgate, equipes médicas e engenheiros. Além dos milhares de
mortos, o saldo final foi ainda de cerca de 1,5 milhão de desabrigados.
E mesmo hoje, anos após a ocorrência da catástrofe,
o país ainda busca emergir em meio aos escombros da desesperança, lutando para
reconstruir o que ficou. E foi em busca da reconstrução da esperança e da vida
que desde 2010, milhares de haitianos migraram para o Brasil em busca de
melhores condições de vida.
A viagem até o Brasil é longa. Dura até dois meses
quando a feita por países da América Central e América do Sul. Os imigrantes
deixam o Haiti em direção à República Dominicana, onde pegam um voo para o
Panamá e depois ao Equador. Alguns partem de navio direto para o Panamá e
seguem em embarcações até o Equador. O trajeto de lá é igual: pegam um ônibus
para atravessar o Peru e finalmente chegar ao Brasil. A parte final da viagem
costuma ser feita a pé.
Os imigrantes entram no país por Assis Brasil (AC) e
seguem para Brasiléia, onde fazem a solicitação de ingresso no país e iniciam o
processo para conseguir documentos, já que a vinda ao Brasil tem como principal
objetivo de realizar o sonho de conseguir emprego e melhorar vida, bem como
ajudar a família que ficou no Haiti. Após a legalização, inicia a fase de
recrutamento pelas empresas, em que sua maioria são dos ramos da construção
civil e da metalúrgica. Segundo o governo do Acre, desde dezembro de 2010,
cerca de 15 mil haitianos entraram pela fronteira do Peru com o Estado.
São Miguel do Oeste também é uma das muitas cidades
brasileiras que está recebendo imigrantes haitianos. Assim como outros milhares
de haitianos que estão no Brasil, os grupos que já residem no município
chegaram ao país pelo Estado do Acre que faz fronteira com o Peru, e lá, depois
de acertar toda a documentação, foram recrutados para o trabalho em São Miguel.
O Jornal O Líder entrou no cotidiano e buscou as história de vida das dezenas
de haitianos que aqui trabalham, em busca de uma realidade não tão dura.