quinta-feira, 7 de março de 2013

Um Brasil Chorão

O adeus ao vocalista do Charlie Brown Jr.

Texto de Camila Pompeo

O dia de ontem foi triste para milhares de adultos que viram sua geração crescer embalada pelas canções de Charlie Brown Jr. Também foi tristes para os jovens que estavam crescendo embalados por muitas cações da banda. No dia de ontem, morreu o âncora da banda, aquele que impulsionava e compunha as canções. Morreu Chorão. 

A família diz que Chorão morreu de amor e solidão. A mídia, no entanto, aponta as hipóteses de morte por overdose. O vocalista da banda passava por uma situação difícil desde a separação da esposa com quem viveu por cerca de 15 anos. Segundo a família do artista, ele não conseguia superar o fim do relacionamento e, desde então, mantinha crises de depressão. Chorão se sentia perseguido, perseguido por uma solidão a qual não conseguia dominar.

De ontem pra hoje, toda uma geração ficou triste. Quem nunca cantou a música "Te levar" ou quem nunca afirmou que "Só os loucos sabem"? Quem nunca quis ser o "Senhor do Tempo" da sua própria via e para isso teve que enfrentar "Dias de Luta e Dias de Glória"? 

Muitos têm julgado o fato da comoção nacional ser maior do que a esperada. Muitos têm dito que Chorão não era um exemplo de pessoa a ser seguido por ninguém e realmente não era. Chorão era dependente químico e não escondia isso, mas não escondia também uma rebeldia corajosa de poder colocar pra fora tudo que achava conveniente. 

Chorão era um menino, um menino adulto. E é uma pena que tenha se envolvido com o mundo das drogas. Muitos ídolos já se foram por esse motivo. Muitos ídolos fizeram e continuam fazendo falta. Como dizia o grande Renato Russo, "Os bons morrem jovens".

Renato também se foi. Morreu de Aids porque se drogava e nem por isso deixou de ser o ídolo de uma geração. Ainda hoje em dia, o cara é homenageado no Brasil inteiro e suas músicas tocam no coração de todos nós. Cazuza também morreu de Aids, também era dependente químico. Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, também faleceu por overdose e deixou todo um público órfão. Assim foi com Amy Winehouse, com Cássia Eller e outros tantos bons artistas.

Chorão era um bom artista e é isso que tem deixado o Brasil inteiro choroso. De ontem pra hoje, nós viramos os chorões e temos nos queixado antecipadamente pelas músicas novas que não virão mais. Chorão tinha seus problemas pessoais e seus defeitos, assim como todos nós temos. Ele não era exemplo pra ninguém, mas era um bom poeta e fazia bem aquilo que se propunha: A música.


Trecho da música "Aquela paz".

"Lidei com coisas que eu jamais entenderei
Ah! Se eu pudesse estar em pazMe livrar do pesadelo de vê-lo nesse estado,E não poder ajudá-lo, nãoMais triste é não poder mudar, porque está tão revoltado irmão?
Ouvi dizer que só era triste quem queria..."




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

59 anos de São Miguel


A memória viva de São Miguel do Oeste

Equipe de reportagem do Jornal O Líder conversou com Romeu Neis, 
um dos primeiros moradores da antiga Vila Oeste

Romeu Neis
Camila Pompeo

Na semana que antecedeu a semana de aniversário de 59 anos de São Miguel do Oeste, a equipe de reportagem do Jornal O Líder conversou com o dono das principais lembranças da cidade quando ainda era um pequeno vilarejo, a chamada Vila Oeste. Este que é um dos pioneiros do município, mora no mesmo local há pelo menos 50 anos e ainda tem na garagem o primeiro carro que adquiriu em Vila Oeste, um Corcel de 1970.
Romeu Neis é um senhor de 92 anos, com muitas histórias para contar. Para garantir que a memória não se apagasse com o tempo, ele decidiu marcar as lembranças em um pequeno livro. Nas 36 páginas do livro “Você sabia?”, o migueloestino de coração relatou suas lembranças sobre a formação e o desenvolvimento de São Miguel do Oeste desde o princípio, quando ainda era uma pequena vila cercada por terra e muito verde.
Em seus primeiros relatos, Neis descreve como ele, gaúcho de Farroupilha, veio parar no local que futuramente se chamaria São Miguel do Oeste. O jovem veio para a Vila Oeste em 1947 à convite de Waldemar Rangrab, morador do pequeno vilarejo e sócio de uma madeireira.  Neis aceitou o convite e foi até Vila Oeste para visitar um irmão que morava no local.
Em 1948, Neis retornou à Vila Oeste na carona de um caminhão de mudanças. Depois de sete dias de estrada, os viajantes chegaram ao destino. Ainda durante a viagem, Neis fechou um negócio e comprou um bar em Vila Oeste, onde começou a trabalhar na parceria do irmão. O bar, na época, estava localizado na esquina das ruas Duque de Caxias e Almirante Tamandaré. Além de administrar o bar, Neis trabalhou como fotógrafo profissional e foi o primeiro gaiteiro de Vila Oeste. “Durante a semana, Vila Oeste era quase deserta. Pegava a gaita, começava a tocar de um jeito que se ouvisse nos quatro cantos da Vila. Sempre vinha alguma pessoa até o bar para escutar o som da gaita”, recorda.
Na época, a colonização na região visava a extração de madeira por via fluvial. O material era destinado aos mercados do Prata, onde era comercializado. Para conseguir transportar as madeiras até os locais de destino, os trabalhadores construíam balsas e esperavam a chuva para colocá-las nas águas do rio e levá-las para a venda. Neis lembra que no vilarejo, todos eram amigos e muito unidos. “Nos anos 1950, vinham para cá muitas pessoas do Rio Grande do Sul interessadas em comprar terras. Os moradores eram uma grande família. Todos se davam muito bem. De manhã a gente acordava com o badalar do sino. Com o passar do tempo começou a era da política, gerando rivalidade entre os partidos”, conta.
Neis recorda ainda as dificuldades na época em que Vila Oeste ainda era um pequeno distrito de estradas de terra. Os moradores tinham dificuldades em conter o barro formado pela água da chuva ou até mesmo a poeira trazida pelos períodos de seca. “Os primeiros moradores chegaram em Vila Oeste em 1942. Eles tinham que amassar o barro das ruas. Se o tempo estivesse ensolarado, era a poeira que incomodava. Tomar banho também era uma tarefa difícil. Como não havia água encanada nem energia elétrica, as pessoas tinham que acionar bombas de água e improvisar chuveiros utilizando recipientes de latão adaptados com uma pequena torneira e ralo no fundo”, relembra.
No final do ano de 1964, a população de São Miguel do Oeste viveu um momento de alegria e de fundamental importância para o avanço da economia e para a melhoria da vida da população. A luz elétrica começou a ser distribuída no município através de uma usina do litoral. “Parecia um sonho. As ruas iluminadas por potentes lâmpadas de sódio. Muitas pessoas andavam pelas ruas soltando exclamações de alegria”, lembra.
Em quase 70 anos que mora em São Miguel do Oeste, o pioneiro relata que ainda não pôde ver um sonho realizado. Ele lembra de Leopoldo Olavo Erich, um dos vereadores do município na época, e de como ele trabalhou pelo progresso de São Miguel do Oeste. Neis acrescenta que pelo trabalho realizado por Erich, ele mereceria ter seu nome homenageado em algum espaço público. “São Miguel do Oeste muito deve ao senhor Leopoldo. Ele era um homem decidido em suas pretensões. Durante seu mandato de vereador, ele conseguiu realizar tudo aquilo que tinha prometido. No entanto, não há nenhuma referência a esta figura que tanto fez pela nossa região e que merecia ser homenageado com seu nome em um espaço público”, destaca.
Romeu Neis mora há 50 anos na Avenida Getúlio Vargas, em São Miguel do Oeste. Há pelo menos oito meses perdeu a esposa com quem teve três filhos. O livro com as memórias de São Miguel do Oeste e da antiga Vila Oeste foi escrito e impresso com recursos próprios.