terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SÉRIE HAITIANOS NO BRASIL: O recomeço do outro lado do mundo


Camila Pompeo

Um país e um povo em constante reconstrução. É essa a realidade da comunidade Haitiana desde janeiro de 2010, quando um forte terremoto devastou o país, a vida e a esperança de muitos. Cerca de 240 mil pessoas morreram vítimas da tragédia que abalou as estruturas das cidades, destruindo casas, prédios e lembranças de toda uma vida. Uma tragédia que abalou também a esperança de uma população que já vivia à margem de condições básicas de sobrevivência e que já implorava por uma vida melhor e mais digna.
Antes mesmo de assistir a realidade mais dura de sua história, o Haiti já lutava por melhores momentos. Com uma população de cerca de 10,4 milhões de habitantes, o país caribenho procurou seguir em meio à uma guerra civil provocada por grupos de esquerda. Gradualmente, a violência se espalhava por todo o país, tirando o pouco de paz que ainda havia. Foi então que no ano de 2004, uma ajuda foi enviada. Em junho daquele ano foi estabelecida a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), envolvendo exércitos de diversos países, entre eles o Brasil. Mais de seis mil soldados de diversas nacionalidades foram enviados para o outro lado do mundo na missão de paz de reestruturação do Haiti.
Com a permanência dos soldados nas ruas do país, principalmente na Capital Porto Príncipe, aos poucos se tinha a sensação de que a tranquilidade voltava a reinar. O medo que se instalou assim que os militares chegaram ao país ia, aos poucos, dando espaço à uma intensa ligação de orgulho e amizade. Com ruas mais tranquilas, era possível que se andasse sem medo. Era possível sair para trabalhar, assim como também era possível ver crianças brincando e sonhando acordadas com um amanhã ainda melhor.
Mas a realidade mais dura de suas vidas ainda estava por vir e chegou com o terremoto catastrófico de 7.0 pontos de magnitude, ocorrido quatro anos atrás. Desde então, o Haiti passou a depender de ajuda humanitária de diversos países que contribuíram com fundos, alimentação, expedições de resgate, equipes médicas e engenheiros. Além dos milhares de mortos, o saldo final foi ainda de cerca de 1,5 milhão de desabrigados.
E mesmo hoje, anos após a ocorrência da catástrofe, o país ainda busca emergir em meio aos escombros da desesperança, lutando para reconstruir o que ficou. E foi em busca da reconstrução da esperança e da vida que desde 2010, milhares de haitianos migraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida.
A viagem até o Brasil é longa. Dura até dois meses quando a feita por países da América Central e América do Sul. Os imigrantes deixam o Haiti em direção à República Dominicana, onde pegam um voo para o Panamá e depois ao Equador. Alguns partem de navio direto para o Panamá e seguem em embarcações até o Equador. O trajeto de lá é igual: pegam um ônibus para atravessar o Peru e finalmente chegar ao Brasil. A parte final da viagem costuma ser feita a pé.
Os imigrantes entram no país por Assis Brasil (AC) e seguem para Brasiléia, onde fazem a solicitação de ingresso no país e iniciam o processo para conseguir documentos, já que a vinda ao Brasil tem como principal objetivo de realizar o sonho de conseguir emprego e melhorar vida, bem como ajudar a família que ficou no Haiti. Após a legalização, inicia a fase de recrutamento pelas empresas, em que sua maioria são dos ramos da construção civil e da metalúrgica. Segundo o governo do Acre, desde dezembro de 2010, cerca de 15 mil haitianos entraram pela fronteira do Peru com o Estado.

São Miguel do Oeste também é uma das muitas cidades brasileiras que está recebendo imigrantes haitianos. Assim como outros milhares de haitianos que estão no Brasil, os grupos que já residem no município chegaram ao país pelo Estado do Acre que faz fronteira com o Peru, e lá, depois de acertar toda a documentação, foram recrutados para o trabalho em São Miguel. O Jornal O Líder entrou no cotidiano e buscou as história de vida das dezenas de haitianos que aqui trabalham, em busca de uma realidade não tão dura. 

quinta-feira, 7 de março de 2013

Um Brasil Chorão

O adeus ao vocalista do Charlie Brown Jr.

Texto de Camila Pompeo

O dia de ontem foi triste para milhares de adultos que viram sua geração crescer embalada pelas canções de Charlie Brown Jr. Também foi tristes para os jovens que estavam crescendo embalados por muitas cações da banda. No dia de ontem, morreu o âncora da banda, aquele que impulsionava e compunha as canções. Morreu Chorão. 

A família diz que Chorão morreu de amor e solidão. A mídia, no entanto, aponta as hipóteses de morte por overdose. O vocalista da banda passava por uma situação difícil desde a separação da esposa com quem viveu por cerca de 15 anos. Segundo a família do artista, ele não conseguia superar o fim do relacionamento e, desde então, mantinha crises de depressão. Chorão se sentia perseguido, perseguido por uma solidão a qual não conseguia dominar.

De ontem pra hoje, toda uma geração ficou triste. Quem nunca cantou a música "Te levar" ou quem nunca afirmou que "Só os loucos sabem"? Quem nunca quis ser o "Senhor do Tempo" da sua própria via e para isso teve que enfrentar "Dias de Luta e Dias de Glória"? 

Muitos têm julgado o fato da comoção nacional ser maior do que a esperada. Muitos têm dito que Chorão não era um exemplo de pessoa a ser seguido por ninguém e realmente não era. Chorão era dependente químico e não escondia isso, mas não escondia também uma rebeldia corajosa de poder colocar pra fora tudo que achava conveniente. 

Chorão era um menino, um menino adulto. E é uma pena que tenha se envolvido com o mundo das drogas. Muitos ídolos já se foram por esse motivo. Muitos ídolos fizeram e continuam fazendo falta. Como dizia o grande Renato Russo, "Os bons morrem jovens".

Renato também se foi. Morreu de Aids porque se drogava e nem por isso deixou de ser o ídolo de uma geração. Ainda hoje em dia, o cara é homenageado no Brasil inteiro e suas músicas tocam no coração de todos nós. Cazuza também morreu de Aids, também era dependente químico. Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana, também faleceu por overdose e deixou todo um público órfão. Assim foi com Amy Winehouse, com Cássia Eller e outros tantos bons artistas.

Chorão era um bom artista e é isso que tem deixado o Brasil inteiro choroso. De ontem pra hoje, nós viramos os chorões e temos nos queixado antecipadamente pelas músicas novas que não virão mais. Chorão tinha seus problemas pessoais e seus defeitos, assim como todos nós temos. Ele não era exemplo pra ninguém, mas era um bom poeta e fazia bem aquilo que se propunha: A música.


Trecho da música "Aquela paz".

"Lidei com coisas que eu jamais entenderei
Ah! Se eu pudesse estar em pazMe livrar do pesadelo de vê-lo nesse estado,E não poder ajudá-lo, nãoMais triste é não poder mudar, porque está tão revoltado irmão?
Ouvi dizer que só era triste quem queria..."




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

59 anos de São Miguel


A memória viva de São Miguel do Oeste

Equipe de reportagem do Jornal O Líder conversou com Romeu Neis, 
um dos primeiros moradores da antiga Vila Oeste

Romeu Neis
Camila Pompeo

Na semana que antecedeu a semana de aniversário de 59 anos de São Miguel do Oeste, a equipe de reportagem do Jornal O Líder conversou com o dono das principais lembranças da cidade quando ainda era um pequeno vilarejo, a chamada Vila Oeste. Este que é um dos pioneiros do município, mora no mesmo local há pelo menos 50 anos e ainda tem na garagem o primeiro carro que adquiriu em Vila Oeste, um Corcel de 1970.
Romeu Neis é um senhor de 92 anos, com muitas histórias para contar. Para garantir que a memória não se apagasse com o tempo, ele decidiu marcar as lembranças em um pequeno livro. Nas 36 páginas do livro “Você sabia?”, o migueloestino de coração relatou suas lembranças sobre a formação e o desenvolvimento de São Miguel do Oeste desde o princípio, quando ainda era uma pequena vila cercada por terra e muito verde.
Em seus primeiros relatos, Neis descreve como ele, gaúcho de Farroupilha, veio parar no local que futuramente se chamaria São Miguel do Oeste. O jovem veio para a Vila Oeste em 1947 à convite de Waldemar Rangrab, morador do pequeno vilarejo e sócio de uma madeireira.  Neis aceitou o convite e foi até Vila Oeste para visitar um irmão que morava no local.
Em 1948, Neis retornou à Vila Oeste na carona de um caminhão de mudanças. Depois de sete dias de estrada, os viajantes chegaram ao destino. Ainda durante a viagem, Neis fechou um negócio e comprou um bar em Vila Oeste, onde começou a trabalhar na parceria do irmão. O bar, na época, estava localizado na esquina das ruas Duque de Caxias e Almirante Tamandaré. Além de administrar o bar, Neis trabalhou como fotógrafo profissional e foi o primeiro gaiteiro de Vila Oeste. “Durante a semana, Vila Oeste era quase deserta. Pegava a gaita, começava a tocar de um jeito que se ouvisse nos quatro cantos da Vila. Sempre vinha alguma pessoa até o bar para escutar o som da gaita”, recorda.
Na época, a colonização na região visava a extração de madeira por via fluvial. O material era destinado aos mercados do Prata, onde era comercializado. Para conseguir transportar as madeiras até os locais de destino, os trabalhadores construíam balsas e esperavam a chuva para colocá-las nas águas do rio e levá-las para a venda. Neis lembra que no vilarejo, todos eram amigos e muito unidos. “Nos anos 1950, vinham para cá muitas pessoas do Rio Grande do Sul interessadas em comprar terras. Os moradores eram uma grande família. Todos se davam muito bem. De manhã a gente acordava com o badalar do sino. Com o passar do tempo começou a era da política, gerando rivalidade entre os partidos”, conta.
Neis recorda ainda as dificuldades na época em que Vila Oeste ainda era um pequeno distrito de estradas de terra. Os moradores tinham dificuldades em conter o barro formado pela água da chuva ou até mesmo a poeira trazida pelos períodos de seca. “Os primeiros moradores chegaram em Vila Oeste em 1942. Eles tinham que amassar o barro das ruas. Se o tempo estivesse ensolarado, era a poeira que incomodava. Tomar banho também era uma tarefa difícil. Como não havia água encanada nem energia elétrica, as pessoas tinham que acionar bombas de água e improvisar chuveiros utilizando recipientes de latão adaptados com uma pequena torneira e ralo no fundo”, relembra.
No final do ano de 1964, a população de São Miguel do Oeste viveu um momento de alegria e de fundamental importância para o avanço da economia e para a melhoria da vida da população. A luz elétrica começou a ser distribuída no município através de uma usina do litoral. “Parecia um sonho. As ruas iluminadas por potentes lâmpadas de sódio. Muitas pessoas andavam pelas ruas soltando exclamações de alegria”, lembra.
Em quase 70 anos que mora em São Miguel do Oeste, o pioneiro relata que ainda não pôde ver um sonho realizado. Ele lembra de Leopoldo Olavo Erich, um dos vereadores do município na época, e de como ele trabalhou pelo progresso de São Miguel do Oeste. Neis acrescenta que pelo trabalho realizado por Erich, ele mereceria ter seu nome homenageado em algum espaço público. “São Miguel do Oeste muito deve ao senhor Leopoldo. Ele era um homem decidido em suas pretensões. Durante seu mandato de vereador, ele conseguiu realizar tudo aquilo que tinha prometido. No entanto, não há nenhuma referência a esta figura que tanto fez pela nossa região e que merecia ser homenageado com seu nome em um espaço público”, destaca.
Romeu Neis mora há 50 anos na Avenida Getúlio Vargas, em São Miguel do Oeste. Há pelo menos oito meses perdeu a esposa com quem teve três filhos. O livro com as memórias de São Miguel do Oeste e da antiga Vila Oeste foi escrito e impresso com recursos próprios. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Natureza






Uma manhã de trabalho no feriado compensada com essa visão maravilhosa. Um tucano visitou a Rádio 103 FM nesta sexta-feira (02) e nos deixou estarrecidos com a sua beleza.

- Foto: Camila Pompeo

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

DROGAS


Como elas agem no organismo de um usuário? 

 O consumo de drogas ou entorpecentes modifica as funções normais do  organismo humano. As drogas naturais e as drogas sintéticas causam dependência química e psicológica, levando o usuário ao “fundo do poço”. Conheça os efeitos dos narcóticos no corpo humano e os tratamentos que podem ajudar os usuários a abandonar o vício

Camila Pompeo

Maconha, cocaína, LSD, ecstasy e crack são algumas das drogas mais conhecidas no território brasileiro. Pesquisas recentes apontam que os principais motivos que levam um indivíduo a utilizar drogas são a curiosidade, a influência de amigos ou ainda a dificuldade em enfrentar situações complexas. Por conta disso, tem aumentado o número de casos de dependentes de drogas no Brasil. Apesar da intensidade dos efeitos que as drogas causam no corpo humano, por meio de tratamento é possível abandonar o vício.
Josemir Werlang é médico especialista em dependência química. O médico atua em um consultório próprio em São Miguel do Oeste e no Posto de Saúde Central da cidade. No município de Descanso, Josemir atua como clínico-geral. Nos consultórios de São Miguel do Oeste, Josemir atende dependentes químicos de diversas idades.
O médico explica que as drogas se tornam atraentes por conta da sensação de prazer que provocam. A sensação é parecida com a que sentimos quando comemos chocolate. “A droga predispõe um prazer muito intenso com uso prolongado e no dia-dia o prazer que a gente teria com a nossa rotina, se torna desinteressante para aquela pessoa. A droga proporciona um extremo prazer em um curto período de tempo, esse prazer é tão intenso que a pessoa acaba se tornando dependente”, explica.
Ao consumir uma determinada droga, o usuário tem os neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios para enviar informação às células, modulados pelas substâncias que ocasionam o prazer. Dentre as principais estão a dopamina, serotonina e endorfina. “Dentro do nosso cérebro nós temos neurotransmissores que são modulados por substâncias químicas responsáveis pelo prazer. Quando a pessoa usa a droga, o corpo vai liberar essas substâncias em altas doses”, relata.
O médico aponta que a principal droga causadora de dependência na atualidade é a bebida alcóolica. Apesar disso, ele acrescenta que, na região Extremo-Oeste catarinense, o crack é uma das drogas mais consumidas. “A droga com maiores problemas é o crack, é a mais forte e é a droga com mais alto grau de dependência e efeitos muito sérios no nosso organismo. Mas a droga que mais causa dependência na sociedade é a bebida alcóolica”, declara.


DEPENDÊNCIA E ABSTINÊNCIA

A maioria das drogas é produzida a partir de plantas como é o caso da maconha. Outras, no entanto, são desenvolvidas em laboratório a partir de composições químicas. A maioria causa dependência química ou psicológica, e podem levar à morte em caso de overdose.
            O médico especialista em dependência química explica que a dependência pode ser observada quando o usuário precisa estar perto da droga para se sentir bem. “O tabaco é o que mais provoca dependência física e psíquica. Muitas pessoas que querem parar de fumar, sempre costumam carregar o cigarro junto, colocam na boca pra acalmar aquele hábito”, destaca.
            A dependência psicológica diz respeito aos efeitos que determinada droga causa no organismo do usuário. Quando o usuário fica longe do contato com os entorpecentes, ele passa a desenvolver características que definem a Síndrome de Abstinência. A ansiedade, a irritação, os tremores, a insônia, os delírios e a alteração comportamental são algumas das principais características de um usuário de drogas em abstinência. “A abstinência é um conjunto de sinais, uma síndrome que caracteriza o efeito da ausência da droga no organismo. A droga que mais provoca síndrome de abstinência é a bebida alcoólica”, enfatiza.

TRATAMENTO: A hora de lutar contra o vício

Apesar de causar forte dependência, o uso de drogas pode ser controlado por meio de tratamentos. Um dos principais fatores que colaboram para que o usuário abandone o vício, é a força de vontade. Porém, muitas vezes, isso não é o suficiente para que o usuário se mantenha longe das drogas. Nesse caso, o paciente deve ser encaminhado para internação. “O principal problema do dependente é você conseguir convencê-lo de que a droga está lhe fazendo mal. Se é uma dependência de droga forte, é preciso partir para internação. Internado, esse paciente vai se tratar, vai se desintoxicar e vai fazer terapia de apoio. Depois da alta, ele é encaminhado à um serviço de referência que vai dar acompanhamento ao caso”, explica.
Josemir enfatiza ainda a importância da base familiar para que o usuário de drogas abandone o vício. “Hoje é muito importante a questão social. É fundamental que esse paciente ganhe uma estrutura social para que ele não volte para o mundo das drogas. Para isso existem os grupos de autoajuda”, destaca.



  • Em 2008, o Brasil tinha 870 mil usuários de cocaína, sendo o segundo maior mercado da América Latina. Já a maconha era consumida por 2,6% da população.
  • A quantidade de cocaína apreendida no Brasil aumentou 21% nos últimos dois anos, chegando a 20 toneladas da droga.
  • Em 2009, mais de 86 mil pessoas estavam nas prisões por tráfico de entorpecentes.
  • De acordo com pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo, a porta de entrada para o mundo das drogas é o álcool. A bebida leva 46% dos adolescentes entre 13 e 18 anos a adquirir o vício.
  • De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 14% dos adolescentes brasileiros com idade entre 12 e 16 anos já experimentaram algum tipo de droga que não álcool ou cigarro.
 Os tipos de drogas e seus efeitos no corpo humano

Anfetaminas -  Sua ação dura cerca de quatro horas e os principais efeitos são a sensação de grande força e iniciativa, excitação, euforia e insônia. A médio prazo, a droga pode produzir tremores, inquietude, desidratação da mucosa, taquicardia, efeitos psicóticos e dependência psicológica.

Cocaína - Nos primeiros minutos, o usuário tem alucinações agradáveis, euforia, sensação de força muscular e mental. Depois, ele pode ser náuseas e insônia. Em pessoas que têm problemas psiquiátricos, o uso de cocaína pode desencadear surtos paranóides, crises psicóticas e condutas perigosas a ele próprio ou a terceiros.

Heroína - Resulta em forte sonolência, náuseas, retenção urinária e prisão de ventre – efeitos que duram cerca de quatro horas. A médio prazo, leva à perda do apetite e do desejo sexual e torna a respiração e os batimentos cardíacos mais lentos.

Morfina - Os derivados da morfina são explorados pela Medicina há várias décadas, principalmente no alívio da dor de pacientes com câncer em estado terminal.

Maconha e haxixe - Inicialmente, o usuário tem a sensação de maior consciência e desinibição. Com o tempo, pode causar conjuntivite, bronquite e dependência. Em excesso, pode produzir efeitos paranóicos e pode ativar episódios esquizofrênicos em pacientes psicóticos.

LSD - Inicialmente, a droga intensifica as percepções sensoriais, principalmente a visão, e produz alucinações. Com o tempo, pode causar danos cromossômicos sérios, além de intensificar a ansiedade. O usuário costuma dizer que ouve, toca ou enxerga cores e sons estranhos.

Cogumelo - Seu efeito dura cerca de seis a oito horas, propiciando relaxamento muscular, náuseas e dores de cabeça, seguidos de alucinações visuais e auditivas.

Ecstasy - Seus efeitos são alucinógenos, como no caso do LSD e a dependência é inevitável.



ESPÍRITOS: Eles estão entre nós


As revelações sobre o estudo que ensina a
lidar com os espíritos que nos rodeiam

 Camila Pompeo

Allan Kardec
Ainda é muito comum, nos dias atuais, encontrar pessoas constrangidas ou mesmo aterrorizadas quando ouvem falar de Espiritismo ou quando presenciam algum fenômeno ligado ao mundo espiritual. Para esclarecer seus principais fundamentos é que a doutrina espírita é a primeira de uma série de reportagens sobre religiões, seitas, e doutrinas.
O Espiritismo  é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo corporal. A doutrina é baseada em livros escritos pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”, são os cinco livros responsáveis pela codificação e estudo da doutrina espírita no mundo.
As primeiras manifestações espirituais aconteceram ainda no século XIX, na Europa. Na época, mesas e cadeiras se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Após o relato dos fenômenos, Allan Kardec começou os estudos sobre o Espiritismo e se dedicou a busca de fatores que provassem cientificamente a influência de espíritos no mundo corporal.
Em 1857, o estudioso Kardecista (como também é chamada a Doutrina Espírita), sistematizou o espiritismo com o lançamento do primeiro livro sobre o assunto. A partir daí, outros diversos livros foram escritos para esclarecer os fenômenos sobrenaturais e explicar sobre a doutrina que conquistaria uma série de adeptos.
Para atender esses milhares de simpatizantes é que os espíritas criam um local de reuniões. Os famosos Centros Espíritas espalhados pelo país e pelo mundo são entidades filantrópicas que desenvolvem atividades baseadas nas obras de Allan Kardec. Os Centros realizam reuniões assistenciais, reuniões de educação mediúnica, trabalhos sociais, e até disponibilizam receituário mediúnico. Os atendimentos são gratuitos e os receituários destinados às pessoas que descrevem problemas de saúde física ou mental. Para aliviar as dores ou amenizar os problemas é que os homens, mediados pelos espíritos, recomendam remédios compostos por meio da Homeopatia, ou seja, por meio de medicamentos preparados a partir de substâncias extraídas da natureza.


CENTRO ESPÍRITA SEARA DA FÉ
A busca pelo entendimento do mundo dos espíritos

Centro Espírita de São Miguel do Oeste surgiu em 1983 através da parceria de duas amigas para ajudar um filho doente. Quase 30 anos depois, o Centro recebe centenas de pessoas em ações sociais, palestras e grupos de estudos sobre o espiritismo

Os Centros Espíritas se espalharam por todo o território brasileiro como uma forma de estudar a doutrinas dos espíritos e ajudar as pessoas que querem desenvolver a mediunidade e entender o mundo dos fenômenos sobrenaturais. Em São Miguel do Oeste, o Centro Espírita Seara da Fé foi criado em 25 de junho de 1983 por três amigas. A ideia surgiu quando uma das fundadoras descobriu a doença do filho. O Centro funcionou como uma “mão amiga” para que a família conseguisse superar a doença.
Hoje, quase 30 anos depois, o Centro Espírita está sobre a presidência de Nilo Sturmer. A casa conta ainda com a participação de voluntários que trabalham gratuitamente para levar ao público um pouco dos fundamentos que Allan Kardec eternizou nas páginas dos livros espíritas. Reunidos no prédio onde acontecem os encontros, o voluntário e presidente da União Regional Espírita, Jânio Dreyer Schreiner e também voluntária, Taís Pires da Rocha respondem algumas das principais questões sobre o espiritismo.
A doutrina espírita, segundo eles, surgiu ainda antes de Cristo quando Moisés, ao pé do Monte Sinai, recebeu as Tábuas da Lei contendo os 10 mandamentos.  Moisés teria sido o mediador entre Deus e os homens. “Ele recebeu de Deus as Tábuas da Lei. Isso é um fenômeno mediúnico. Essa foi a primeira revelação de Deus para nós. A segunda revelação foi a de Jesus que nos trouxe a lei do amor. E a terceira revelação seria a doutrina espírita que não está centralizada em uma única pessoa. Kardec pesquisou, mas a doutrina é dos espíritos”, explica Taís.

Reencarnação: Renascer para regenerar
   
Uma das principais crenças do Espiritismo é a reencarnação. Reencarnar, segundo a doutrina espírita, é o renascimento de um espírito já desencarnado em um novo corpo. O objetivo é o de aperfeiçoar o espírito através de uma nova oportunidade na Terra. Nos dias de hoje a reencarnação é amplamente discutida e debatida entre todos os seguimentos da sociedade. Apesar disso, Taís argumenta que a reencarnação está assegurada na própria Bíblia. “A reencarnação está na Bíblia. Existem várias passagens que falam desta questão. Existem também muitos estudos que nos provam que a reencarnação existe”, defende.
A reencarnação, segundo a teoria espírita, é uma possibilidade concedida a alguns espíritos para se regenerar de questões mal resolvidas em outras vidas. “Nós temos que evoluir e a reencarnação é essa porta que nos dá a condição do saber. Quando viemos para a Terra, viemos para aprender, para evoluir, para melhorar. A gente vive aqui um tempo e depois somos chamados. Depois de um tempo voltamos, fazemos nova caminhada, acumulamos novos conhecimentos, passamos por novas provas, até que consigamos desenvolver virtudes”, esclarece.
A teoria espírita explica que os espíritos desencarnados da Terra vão para um mundo onde recebem assistência e onde conhecem os pontos em que pecaram na vida terrena. Depois de algum tempo e já regenerados espiritualmente, eles recebem a oportunidade e voltam à Terra para praticar o bem e resolver questões como desafetos de vidas passadas. Taís enfatiza que a maioria dos espíritos aptos a voltar à vida terrena reencarna como membros da mesma família para melhorar relacionamentos e estreitar laços. “A gente, muitas vezes, reencarna naquela mesma família porque a gente precisa aperfeiçoar aqueles sentimentos. Uma hora você vem como mãe, outra hora vem como pai, outra hora vem como filho porque os espíritos não tem sexo. A gente muda o sexo de acordo com a necessidade de aprendizado”, justifica.
Um dos casos mais comuns de regeneração, segundo o Espiritismo, é o caso de mãe e filho. “O amor materno é uma das coisas mais sublimes. Por exemplo, se a pessoa tem alguma dificuldade nessa vida, uma briga, um desafeto e desencarna. No mundo espiritual é feita uma conversa por um tempo, e você tem o entendimento do porque foi falho. Depois disso, recebe a oportunidade de voltar e melhorar. Geralmente quando a pessoa reencarna e é mãe, o filho é aquele grande desafeto de outra vida, porque o amor mais sublime é o de mãe e serve como superação”, explica.
Os espíritas explicam que os espíritos que trabalharam pelo bem na Terra, podem reencarnar em mundos melhores. No entanto, espíritos como o do médium Chico Xavier e de Madre Tereza de Calcutá, por exemplo, provavelmente voltarão à Terra para continuar o caminho do bem. “A pessoa pode ir para mundos melhores. Nós temos muitos mundos habitados. Só há um mundo pior que a terra que é o primitivo e depois nós temos os mundos da regeneração. Pessoas muito boas podem reencarnar em mundos mais ditosos, em mundo mais felizes. Porém esses espíritos acabam retornando para a Terra para fazer o bem, para amar novamente”, garante.

FIO DE PRATA: 
O contato espiritual por meio do sonho

Você já deve ter vivido a experiência de reencontrar em sonhos, amigos ou familiares que já faleceram ou que não vê há anos. Segundo a doutrina espírita, esse contato é estabelecido porque quando dormimos, nosso espírito se emancipa do corpo físico e fica ligado somente por um Fio de Prata. Pelo sonho, nosso espírito consegue fazer contatos espirituais e ir a diversos lugares enquanto o corpo repousa.
Taís explica que o sonho depende muito do que a pessoa viu e fez durante o dia. “Quando a gente dorme, só o que precisa descansar é o corpo físico. O espírito não descansa, então ele vai à mundos. Para onde ele vai depende mundo do que a gente pensa e faz durante o dia. Se eu sou uma pessoa vinculada ao bem e ao amor, quando eu for dormir, eu irei para um lugar bom, de luz onde eu conseguirei encontrar com pessoas queridas. Essa porta que a noite nos abre é a alegria de estar encarnado. É como se você morresse todas as noites”, declara.

O PASSE: 
Energias positivas por meio de um mediador

Uma das ações mais conhecidas realizadas nos Centros Espíritas é o Passe. O passe é uma prática difundida entre os espíritas, que teria o poder de canalizar “fluidos” ou “energias” benéficos do próprio passista, de bons espíritos, ou ainda de ambas as fontes somadas. “É um auxílio do mundo espiritual que todas as casas possuem. São energias que a gente canaliza para aquela pessoa. Pode ser espiritual. Pode ser só magnetismo da pessoa. O passe que se faz normalmente na casa espírita é misto, ou seja, é o passista com auxilio da espiritualidade”, explica.
Taís destaca que é importante que as pessoas procurem o passe por livre e espontânea vontade e que participem da prática de coração aberto. “As pessoas pensam que vão entrar ali e vão sair felizes, mas não é assim, porque não existe mágica. Tudo tem a ver com o seu empenho. Você entra ali porque quer ajuda. É um fortalecimento. Às vezes a pessoa entra na cabine de passe, mas sai igual porque não é receptiva”, justifica.

MEDIUNIDADE AFLORADA
“Eu vejo espíritos”. Como lidar com essas visões mediúnicas?

Adepta da doutrina espírita relata experiências sobre fenômenos mediúnicos desde os primeiros anos de idade

Conforme o que defende a Doutrina Espírita, todos nós, sem exceção, somos dotados de mediunidade espírita. Alguns possuem esta capacidade humana mais aflorada e por isso têm mais facilidade no contato ou comunicação com os espíritos. Glane Ermelinda Tiezerini, 51 anos, é uma das milhares de pessoas que tem o dom da mediunidade mais aflorado.
Desde muito pequena, Glaene presencia fenômenos espirituais. Naquela época, a pequena era amparada pelos pais, estudiosos da doutrina espírita. A funcionária pública estadual explica que no começo sofreu muito com as visões e sonhos premonitórios. “Quando eu era pequena, eu era um pouco diferente. Eu via as coisas, eu pressentia, eu tinha ataques de choros sem explicação. Depois com o tempo, eu comecei a sofrer muito, tive medo. Eu sofri de não conseguir dormir, de ouvir passos, de ver gente, de pressentir coisas que aconteciam. Muitas vezes aconteceu de eu sentar à mesa pra jantar e começar a passar mal. Eu via um clarão e desmaiava. Então era bem sofrido, por isso eu tive que procurar ajuda”, explica.
A primeira ajuda para entender os fenômenos que a pequena garotinha estava presenciando, partiu do pai. Com auxílio dos livros do Kardecismo pelos quais o pai estudava a doutrina, Glaene conta que aprendeu a conviver com o dom. “Isso vem de casa, meu pai sempre leu muito sobre o espiritismo. Meu pai era um médium muito elevado e estudava muito. Ele dizia que minha mediunidade era muito grande e que eu precisava desenvolver”, relata.
            Em Chapecó, os pais de Glaene fundaram o Centro Espírita Bezerra de Menezes, local onde faziam atendimentos mediúnicos e palestras assistenciais sobre a doutrina. Com o falecimento do pai, o centro foi fechado. De lá pra cá, Glaene relata que aprendeu muito sobre o Espiritismo. “A gente procura o espiritismo ou pela dor ou pelo amor. É muito difícil ouvir alguém dizer que procurou um Centro Espírita por quis conhecer. A maioria das pessoas que procuram o Centro, são pessoas que precisam de ajuda”, justifica.
            Por conta da experiência que viveu quando criança, Glaene entende o medo que algumas pessoas têm de se aperfeiçoarem sobre o espiritismo. Ela aconselha, no entanto, que as pessoas que tenham algum tipo de mediunidade mais aflorado, procurem ajuda em um Centro Espírita para poder entender a doutrina e se aperfeiçoar. “É um pouco temeroso porque as pessoas não conhecem, mas o Espiritismo é uma coisa muito bonita. As pessoas deveriam desenvolver esse lado que todos nós temos, é um modo de se conhecer”, declara.


REGRESSÃO: A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

            Com o passar do tempo, com a ajuda dos pais e o estudo do espiritismo através dos livros, Glaene aprendeu a conviver com o dom. Hoje, anos após, ela conta que ainda vê espíritos, mas não sofre tanto como no passado. Além dos familiares que já faleceram, Glaene conta que recebe constantemente a visita de um espírito desconhecido. Segundo ela, o espírito de um senhor já de idade a acompanha há bastante tempo. “Muitas noites eu acordo e o vejo. Ele fica em pé, na guarda da minha cama. No começo isso me incomodava, mas depois eu vi que ele me protegia”, relata.
            Para tentar descobrir a identidade do espírito misterioso, Glaene recorreu à uma regressão, terapia que possibilita através da hipnose, uma consulta às vidas passadas.
Na regressão, o paciente, consciente, revive campos de seu passado e utiliza a experiência como remédio para medos, depressão e doenças. “Eu fiz regressão pra conseguir identificar ele e realmente consegui. É um espírito guardião. Muitas vezes eu perguntei o nome dele, mas nunca tive resposta. Ele apenas sorri pra mim e fica junto comigo”, enfatiza.
            Depois de várias sessões de regressão, Glaene conseguiu visitar diversas vidas do passado. Ela conta que procurou a terapia por curiosidade de saber como foi no passado e de que forma viveu as outras vidas. “Eu queria ver como eu fui em outras vidas porque hoje eu tenho 51 anos e nunca fui casada, nunca tive filhos. Em nenhuma das vidas que eu visitei eu fui casada, em nenhuma eu tive filhos”, explica.
            Ela conta ainda que outro motivo que a levou a procurar a regressão era desvendar o mistério sobre um dor que sente no lado esquerdo do peito. Ela conta que a descoberta do mistério foi o que mais a marcou em toda a terapia. “Tem algo que me marcou muito. Foi uma vida em que eu me matei. Eu tenho uma dor muito grande no lado esquerdo. Se eu chego perto de uma pessoa que está muito carregada de energias negativas, sinto uma dor muito forte. Na regressão eu descobri que em uma dessas vidas me matei com facadas no lado esquerdo do peito”, responde emocionada.
           Glaene resgata a sensação que sentiu quando estava vagando sobre as lembranças que se reascendiam aos poucos na memória. “Nesse tipo de regressão, você fica mais consciente. É um filme. Vi pessoas conhecidas que convivo ainda hoje. É uma mistura de sentimentos. Eu tinha feições diferentes das que eu tenho hoje. Em uma das vidas eu era alta de cabelo comprido e preto, era uma cigana. Na outra eu era diferente, bem magrinha, com o rosto bem fino. A gente se vê muito diferente, mas sabe que é você que está ali, você se identifica, se reconhece naquelas feições”, relata.
            Glaene conta que no começo a terapia causa um estado de choque mas aconselha que as pessoas que tenham algum problema de doença ou de medo, procurem a terapia. “Talvez uma pessoa que não tenha conhecimento sobre isso se choque. Mas foi bom pra mim. Eu aconselho que quem tenha problema de relacionamento, de doenças, de fobias, procurem a regressão”, finaliza.


Chico Xavier e a cartas e livros psicografados

Chico Xavier
O crescimento da doutrina espírita no Brasil ganhou novo fôlego com o surgimento de uma figura emblemática dessa religião: o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Por meio de suas obras psicografadas, Chico passou a popularizar ainda mais o espiritismo.
Psicografia, segundo o vocabulário espírita, é a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas pelos Espíritos. A psicografia está entre as principais expressões mediúnicas existentes.
Entre as obras de Chico Xavier, está “Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, onde ele narra a intervenção dos espíritos em diferentes acontecimentos da história nacional. Outro sucesso do médium é o livro “Nosso Lar”, ditado pelo espírito André Luiz. O livro rendeu a produção de um filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria no Brasil. Chico morreu aos 92 anos, no dia 30 de junho de 20012.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UMBANDA


SARAVÁ! - Centro de Umbanda abre suas portas e revela os mistérios da religião dos caboclos e orixás

Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto

Reportagem e Fotos: Camila Pompeo

            O Brasil é um país plural em religiões. Se no passado a pluralidade religiosa era criticada, hoje são muitos os que simpatizam com religiões que envolvem o espiritismo e outros fenômenos sobrenaturais. Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto. A partir de agora, você leitor, está convidado a conhecer os relatos dos médiuns que fazem a Umbanda em São Miguel do Oeste.

AFINAL, O QUE É A UMBANDA?

            A Umbanda é a religião brasileira que mistura o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras e indígenas.  Os terreiros ou centros de Umbanda são comandados pelo médium mais experiente, geralmente o fundador da casa. Este médium, conhecido como Pai de Santo ou Mãe de Santo, incorpora o orixá que comanda a casa e auxilia na incorporação dos demais médiuns. Na Umbanda, os Santos conhecidos na Igreja Católica, mudam de imagem e nomes. Em um grande altar eles sãos dispostos e recebem oferendas e velas de diversas cores.
            A religião desenvolve seu trabalho com o auxilio das entidades espirituais dos caboclos e pretos-velhos, espíritos de indígenas e escravos. Essas entidades se apresentam nos terreiros de Umbanda e são espíritos com alto grau espiritual de evolução. Segundo os umbandistas, a religião foi criada em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência da entidade espiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas. 
Antes disso, já existiam manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que a religião foi organizada com rituais e contornos bem definidos.
Em 1939 foi fundada a Federação Espírita de Umbanda. Dois anos depois, em 1941, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de Umbanda fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conquistou junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.

Pai de Santo explica trabalhos realizados pelo Centro de Umbanda que fundou dentro da própria casa

Morador de São Miguel do Oeste estuda a Umbanda desde os seis anos de idade e, desde os 13, incorpora entidades para o atendimento à população

             Em um dia frio e chuvoso é que Clóvis Luiz da Silva, 41 anos, nos recebe em sua casa.  Clóvis é mecânico e “Pai de Santo” do Centro de Umbanda Tenda de Oxossi, de São Miguel do Oeste. O Centro foi construído há cerca de 10 anos na residência onde o Pai de Santo mora com a esposa e as três filhas.
        Criado dentro das crenças da religião dos pretos-velhos, caboclos e orixás, Clóvis desenvolveu o dom que serviria, no futuro, como auxílio à muitas pessoas. Com apenas seis anos de idade, o ainda menino, já frequentava o Centro de Umbanda mantido pelo pai. Como era acostumado com a rotina do Centro, Clóvis nunca teve medo e sequer hesitou quando lhe foi dada a oportunidade de trabalhar melhor sua mediunidade. “Eu nasci dentro disso. São 41 anos dentro da Umbanda. Tive minhas primeiras experiências depois de dois anos de preparação com seis anos de idade. Mas eu só comecei a atender as pessoas com os meus 13 anos de idade”, relata.
         Depois da morte do pai, estudioso da Umbanda, Clóvis decidiu prosseguir com o terreiro. Ele e a esposa foram tocando o Centro até resolverem trazê-lo para dentro de casa. Na casa onde mora, o casal construiu uma peça para dedicar aos trabalhos mediúnicos da Umbanda e uma estrutura implícita de cabos de aço para afastar a negatividade. Clóvis revela que com o desenvolvimento da mediunidade passou a ter visões dentro de casa. Apesar disso, ele afirma que nunca teve medo. “Para acontecer isso, eu preciso estar muito preparado. Mas eu não tenho medo. Também nunca aconteceu de eu incorporar sem querer. É preciso respeitar a entidade que está contigo para que isso não aconteça”, esclarece.
          Nas noites de segunda-feira, ele e os 16 voluntários da Tenda de Oxossi atendem os presentes em sessões de passes, descarrego e consultas. “Toda a segunda-feira tem atendimento às 19h30. Os passes são livres, mas as consultas custam R$ 10. Quem não tiver dinheiro, não tem problema. O dinheiro que arrecadamos é revertido em alimentos não perecíveis para doação. São os próprios frequentadores que distribuem as cestas básicas”, explica.

O APOIO DA ESPOSA
O medo que se transformou em amor 

        Meri Rose De Prá da Silva, 41 anos, é esposa de Clóvis. Rose ajuda na tradução da linguagem cabocla das entidades para a população e nos encaminhamentos do Centro de Umbanda da família. Ela não quis desenvolver a mediunidade e, por isso, apenas ajuda o marido no andamento da celebração. Porém, nem sempre foi assim. Rose conta que pouco depois de conhecer o marido, descobriu que ele trabalhava no Centro de Umbanda do pai. Ela relata que a primeira reação foi de choque e medo. “Quando ele falou que o pai dele trabalhava com isso eu fiquei apavorada. Mas foi no centro do meu sogro que eu me curei de um reumatismo. Hoje eu amo o que eu faço, não tem dinheiro que pague”, conta.
       Trabalhando como empregada doméstica durante o dia, Rose afirma que a noite da segunda-feira é sempre especial. O casal reserva este dia da semana para se dedicar aos trabalhos do Centro e às consultas que duram até cinco horas. “A gente faz esse trabalho em função dos outros. Nós abrimos mão de ficar com as nossas filhas para estar aqui porque gostamos disso”, enfatiza.


“É HORA DE TRABALHAR...”
Concentração, cânticos e oferendas para evocar as entidades

       Segunda-feira, dia 18 de junho, noite de trabalhos no Centro de Umbanda Tenda de Oxossi. Pouco a pouco as pessoas chegam para acompanhar a sessão da noite, enquanto os médiuns aguardam frente ao altar repleto de orixás, velas e bebidas. As 19h30 em ponto começa a sessão da semana. Cerca de 10 pessoas acompanham a explicação de Clóvis sobre os trabalhos do dia.
        Vestidos de branco e com as guias de proteção coloridas no pescoço, os cinco médiuns dão início aos trabalhos com os cânticos umbandistas. Os simpatizantes da Umbanda assistem a tudo com atenção e acompanham a letra das músicas. De pés descalços, Clóvis, coordenador dos trabalhos, precisa de muita concentração para receber a entidade cabocla. De repente, ele começa a rodar em meio aos demais médiuns e tem sua voz e maneira de andar totalmente transformada. A voz e o andar lembram a de um ancião.
         Todos os presentes saudam a chegada da entidade que bebe vinho ansiosamente em uma taça fixada no centro do altar. “As bebidas e charutos são oferendas para as entidades. Não que ela precise disso para trabalhar, para te ajudar, mas é um agrado que a gente faz. Cada entidade tem a sua bebida e por isso deixam sua assinatura nas garrafas”, explica. 
           A incorporação de Clóvis acontece de forma inconsciente, ou seja, depois do término dos trabalhos, o Pai de Santo não lembra de nada do que aconteceu enquanto esteve incorporado pela entidade. “A entidade vem para nos ajudar. Existe a incorporação consciente, inconsciente e semi inconsciente. Uns lembram vagamente, outros lembram de tudo e tem o médium que não lembra de nada”, enfatiza.
           Depois de incorporada, a entidade que ocupa o corpo de Clóvis ajuda os outros médiuns na concentração. Um por um, outros dois médiuns incorporam enquanto outras duas pessoas ajudam nos encaminhamentos. “São 16 médiuns voluntários trabalhando dentro do Centro. Com o tempo, eles vão desenvolvendo melhor o dom. Muitos desistem porque a própria entidade exige muito de nós, exigem dignidade e ética. Mas para desistir você não pode chutar seu passado. Você precisa pedir permissão para o orixá que comanda a casa para parar”, justifica.
         Após a incorporação de todos os médiuns, têm início os trabalhos de passes. Os passes são rápidos, mas as consultas duram até meia hora.  As pessoas que desejam consultar as entidades põe o nome em uma lista antes mesmo dos trabalhos da noite começarem. Quando as consultas têm início, cada pessoa é chamada de acordo com a ordem da lista e tem o direito de fazerem quantas perguntas quiserem. “Os principais assuntos das consultas são saúde, relacionamento familiar e negócios. Muitas pessoas vêm aqui para solucionar uma intriga de casal e as entidades tentam apaziguar a situação. A Umbanda prega a paz, nunca a discórdia dentro de uma casa. A Umbanda vêm pra unir a família, unir um casal e mostrar que independente de religião, Deus é um só”, esclarece.
       No final da noite quando todas as pessoas são atendidas, os médiuns se despedem das entidades sem lembrar o que fizeram momentos antes. Clóvis ressalta que a única sensação que tem é de um corpo muito gelado. Ele acrescenta ainda que precisam obedecer algumas exigências feitas pelos pretos-velhos.“Eu não sinto nada, eu não me lembro de nada. A única coisa que acontece é que meu corpo fica muito frio depois dos trabalhos. E da meia noite até terminar o trabalho a gente não pode ter relação sexual, não pode comer carne de porco e não pode brigar”, relata.


AS POLÊMICAS DA UMBANDA:
O mito do sacrifício de animais e dos despachos

        Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
            Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
         Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
     O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.


OS PRINCIPAIS ORIXÁS DA UMBANDA: 

Na Umbanda, os Orixás são cultuados como divindades de um plano astral superior. Conheça alguns dos principais orixás da religião e quais suas designações:


Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos.
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces.
Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas.
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos.
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando chegam à Terra.
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do ferro;
Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura 'a mesa, senhor da caça;


O mito do sacrifício de animais e dos despachos


Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.