A memória viva de São Miguel do Oeste
Equipe
de reportagem do Jornal O Líder conversou com Romeu Neis,
um dos primeiros
moradores da antiga Vila Oeste
Romeu Neis |
Camila Pompeo
Na semana que antecedeu a semana de
aniversário de 59 anos de São Miguel do Oeste, a equipe de reportagem do Jornal
O Líder conversou com o dono das principais lembranças da cidade quando ainda
era um pequeno vilarejo, a chamada Vila Oeste. Este que é um dos pioneiros do
município, mora no mesmo local há pelo menos 50 anos e ainda tem na garagem o
primeiro carro que adquiriu em Vila Oeste, um Corcel de 1970.
Romeu Neis é um senhor de 92 anos, com
muitas histórias para contar. Para garantir que a memória não se apagasse com o
tempo, ele decidiu marcar as lembranças em um pequeno livro. Nas 36 páginas do
livro “Você sabia?”, o migueloestino de coração relatou suas lembranças sobre a
formação e o desenvolvimento de São Miguel do Oeste desde o princípio, quando
ainda era uma pequena vila cercada por terra e muito verde.
Em seus primeiros relatos, Neis descreve
como ele, gaúcho de Farroupilha, veio parar no local que futuramente se
chamaria São Miguel do Oeste. O jovem veio para a Vila Oeste em 1947 à convite
de Waldemar Rangrab, morador do pequeno vilarejo e sócio de uma madeireira. Neis aceitou o convite e foi até Vila Oeste
para visitar um irmão que morava no local.
Em 1948, Neis retornou à Vila Oeste na
carona de um caminhão de mudanças. Depois de sete dias de estrada, os viajantes
chegaram ao destino. Ainda durante a viagem, Neis fechou um negócio e comprou
um bar em Vila Oeste, onde começou a trabalhar na parceria do irmão. O bar, na
época, estava localizado na esquina das ruas Duque de Caxias e Almirante
Tamandaré. Além de administrar o bar, Neis trabalhou como fotógrafo
profissional e foi o primeiro gaiteiro de Vila Oeste. “Durante a semana, Vila
Oeste era quase deserta. Pegava a gaita, começava a tocar de um jeito que se
ouvisse nos quatro cantos da Vila. Sempre vinha alguma pessoa até o bar para
escutar o som da gaita”, recorda.
Na época, a colonização na região visava
a extração de madeira por via fluvial. O material era destinado aos mercados do
Prata, onde era comercializado. Para conseguir transportar as madeiras até os
locais de destino, os trabalhadores construíam balsas e esperavam a chuva para
colocá-las nas águas do rio e levá-las para a venda. Neis lembra que no
vilarejo, todos eram amigos e muito unidos. “Nos anos 1950, vinham para cá
muitas pessoas do Rio Grande do Sul interessadas em comprar terras. Os
moradores eram uma grande família. Todos se davam muito bem. De manhã a gente
acordava com o badalar do sino. Com o passar do tempo começou a era da
política, gerando rivalidade entre os partidos”, conta.
Neis recorda ainda as dificuldades na
época em que Vila Oeste ainda era um pequeno distrito de estradas de terra. Os
moradores tinham dificuldades em conter o barro formado pela água da chuva ou
até mesmo a poeira trazida pelos períodos de seca. “Os primeiros moradores chegaram
em Vila Oeste em 1942. Eles tinham que amassar o barro das ruas. Se o tempo
estivesse ensolarado, era a poeira que incomodava. Tomar banho também era uma
tarefa difícil. Como não havia água encanada nem energia elétrica, as pessoas
tinham que acionar bombas de água e improvisar chuveiros utilizando recipientes
de latão adaptados com uma pequena torneira e ralo no fundo”, relembra.
No final do ano de 1964, a população de
São Miguel do Oeste viveu um momento de alegria e de fundamental importância
para o avanço da economia e para a melhoria da vida da população. A luz
elétrica começou a ser distribuída no município através de uma usina do
litoral. “Parecia um sonho. As ruas iluminadas por potentes lâmpadas de sódio.
Muitas pessoas andavam pelas ruas soltando exclamações de alegria”, lembra.
Em quase 70 anos que mora em São Miguel
do Oeste, o pioneiro relata que ainda não pôde ver um sonho realizado. Ele
lembra de Leopoldo Olavo Erich, um dos vereadores do município na época, e de
como ele trabalhou pelo progresso de São Miguel do Oeste. Neis acrescenta que
pelo trabalho realizado por Erich, ele mereceria ter seu nome homenageado em
algum espaço público. “São Miguel do Oeste muito deve ao senhor Leopoldo. Ele
era um homem decidido em suas pretensões. Durante seu mandato de vereador, ele
conseguiu realizar tudo aquilo que tinha prometido. No entanto, não há nenhuma
referência a esta figura que tanto fez pela nossa região e que merecia ser
homenageado com seu nome em um espaço público”, destaca.
Romeu Neis mora há 50 anos na Avenida
Getúlio Vargas, em São Miguel do Oeste. Há pelo menos oito meses perdeu a
esposa com quem teve três filhos. O livro com as memórias de São Miguel do
Oeste e da antiga Vila Oeste foi escrito e impresso com recursos próprios.