quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ESPÍRITOS: Eles estão entre nós


As revelações sobre o estudo que ensina a
lidar com os espíritos que nos rodeiam

 Camila Pompeo

Allan Kardec
Ainda é muito comum, nos dias atuais, encontrar pessoas constrangidas ou mesmo aterrorizadas quando ouvem falar de Espiritismo ou quando presenciam algum fenômeno ligado ao mundo espiritual. Para esclarecer seus principais fundamentos é que a doutrina espírita é a primeira de uma série de reportagens sobre religiões, seitas, e doutrinas.
O Espiritismo  é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas relações com o mundo corporal. A doutrina é baseada em livros escritos pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec. “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”, são os cinco livros responsáveis pela codificação e estudo da doutrina espírita no mundo.
As primeiras manifestações espirituais aconteceram ainda no século XIX, na Europa. Na época, mesas e cadeiras se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Após o relato dos fenômenos, Allan Kardec começou os estudos sobre o Espiritismo e se dedicou a busca de fatores que provassem cientificamente a influência de espíritos no mundo corporal.
Em 1857, o estudioso Kardecista (como também é chamada a Doutrina Espírita), sistematizou o espiritismo com o lançamento do primeiro livro sobre o assunto. A partir daí, outros diversos livros foram escritos para esclarecer os fenômenos sobrenaturais e explicar sobre a doutrina que conquistaria uma série de adeptos.
Para atender esses milhares de simpatizantes é que os espíritas criam um local de reuniões. Os famosos Centros Espíritas espalhados pelo país e pelo mundo são entidades filantrópicas que desenvolvem atividades baseadas nas obras de Allan Kardec. Os Centros realizam reuniões assistenciais, reuniões de educação mediúnica, trabalhos sociais, e até disponibilizam receituário mediúnico. Os atendimentos são gratuitos e os receituários destinados às pessoas que descrevem problemas de saúde física ou mental. Para aliviar as dores ou amenizar os problemas é que os homens, mediados pelos espíritos, recomendam remédios compostos por meio da Homeopatia, ou seja, por meio de medicamentos preparados a partir de substâncias extraídas da natureza.


CENTRO ESPÍRITA SEARA DA FÉ
A busca pelo entendimento do mundo dos espíritos

Centro Espírita de São Miguel do Oeste surgiu em 1983 através da parceria de duas amigas para ajudar um filho doente. Quase 30 anos depois, o Centro recebe centenas de pessoas em ações sociais, palestras e grupos de estudos sobre o espiritismo

Os Centros Espíritas se espalharam por todo o território brasileiro como uma forma de estudar a doutrinas dos espíritos e ajudar as pessoas que querem desenvolver a mediunidade e entender o mundo dos fenômenos sobrenaturais. Em São Miguel do Oeste, o Centro Espírita Seara da Fé foi criado em 25 de junho de 1983 por três amigas. A ideia surgiu quando uma das fundadoras descobriu a doença do filho. O Centro funcionou como uma “mão amiga” para que a família conseguisse superar a doença.
Hoje, quase 30 anos depois, o Centro Espírita está sobre a presidência de Nilo Sturmer. A casa conta ainda com a participação de voluntários que trabalham gratuitamente para levar ao público um pouco dos fundamentos que Allan Kardec eternizou nas páginas dos livros espíritas. Reunidos no prédio onde acontecem os encontros, o voluntário e presidente da União Regional Espírita, Jânio Dreyer Schreiner e também voluntária, Taís Pires da Rocha respondem algumas das principais questões sobre o espiritismo.
A doutrina espírita, segundo eles, surgiu ainda antes de Cristo quando Moisés, ao pé do Monte Sinai, recebeu as Tábuas da Lei contendo os 10 mandamentos.  Moisés teria sido o mediador entre Deus e os homens. “Ele recebeu de Deus as Tábuas da Lei. Isso é um fenômeno mediúnico. Essa foi a primeira revelação de Deus para nós. A segunda revelação foi a de Jesus que nos trouxe a lei do amor. E a terceira revelação seria a doutrina espírita que não está centralizada em uma única pessoa. Kardec pesquisou, mas a doutrina é dos espíritos”, explica Taís.

Reencarnação: Renascer para regenerar
   
Uma das principais crenças do Espiritismo é a reencarnação. Reencarnar, segundo a doutrina espírita, é o renascimento de um espírito já desencarnado em um novo corpo. O objetivo é o de aperfeiçoar o espírito através de uma nova oportunidade na Terra. Nos dias de hoje a reencarnação é amplamente discutida e debatida entre todos os seguimentos da sociedade. Apesar disso, Taís argumenta que a reencarnação está assegurada na própria Bíblia. “A reencarnação está na Bíblia. Existem várias passagens que falam desta questão. Existem também muitos estudos que nos provam que a reencarnação existe”, defende.
A reencarnação, segundo a teoria espírita, é uma possibilidade concedida a alguns espíritos para se regenerar de questões mal resolvidas em outras vidas. “Nós temos que evoluir e a reencarnação é essa porta que nos dá a condição do saber. Quando viemos para a Terra, viemos para aprender, para evoluir, para melhorar. A gente vive aqui um tempo e depois somos chamados. Depois de um tempo voltamos, fazemos nova caminhada, acumulamos novos conhecimentos, passamos por novas provas, até que consigamos desenvolver virtudes”, esclarece.
A teoria espírita explica que os espíritos desencarnados da Terra vão para um mundo onde recebem assistência e onde conhecem os pontos em que pecaram na vida terrena. Depois de algum tempo e já regenerados espiritualmente, eles recebem a oportunidade e voltam à Terra para praticar o bem e resolver questões como desafetos de vidas passadas. Taís enfatiza que a maioria dos espíritos aptos a voltar à vida terrena reencarna como membros da mesma família para melhorar relacionamentos e estreitar laços. “A gente, muitas vezes, reencarna naquela mesma família porque a gente precisa aperfeiçoar aqueles sentimentos. Uma hora você vem como mãe, outra hora vem como pai, outra hora vem como filho porque os espíritos não tem sexo. A gente muda o sexo de acordo com a necessidade de aprendizado”, justifica.
Um dos casos mais comuns de regeneração, segundo o Espiritismo, é o caso de mãe e filho. “O amor materno é uma das coisas mais sublimes. Por exemplo, se a pessoa tem alguma dificuldade nessa vida, uma briga, um desafeto e desencarna. No mundo espiritual é feita uma conversa por um tempo, e você tem o entendimento do porque foi falho. Depois disso, recebe a oportunidade de voltar e melhorar. Geralmente quando a pessoa reencarna e é mãe, o filho é aquele grande desafeto de outra vida, porque o amor mais sublime é o de mãe e serve como superação”, explica.
Os espíritas explicam que os espíritos que trabalharam pelo bem na Terra, podem reencarnar em mundos melhores. No entanto, espíritos como o do médium Chico Xavier e de Madre Tereza de Calcutá, por exemplo, provavelmente voltarão à Terra para continuar o caminho do bem. “A pessoa pode ir para mundos melhores. Nós temos muitos mundos habitados. Só há um mundo pior que a terra que é o primitivo e depois nós temos os mundos da regeneração. Pessoas muito boas podem reencarnar em mundos mais ditosos, em mundo mais felizes. Porém esses espíritos acabam retornando para a Terra para fazer o bem, para amar novamente”, garante.

FIO DE PRATA: 
O contato espiritual por meio do sonho

Você já deve ter vivido a experiência de reencontrar em sonhos, amigos ou familiares que já faleceram ou que não vê há anos. Segundo a doutrina espírita, esse contato é estabelecido porque quando dormimos, nosso espírito se emancipa do corpo físico e fica ligado somente por um Fio de Prata. Pelo sonho, nosso espírito consegue fazer contatos espirituais e ir a diversos lugares enquanto o corpo repousa.
Taís explica que o sonho depende muito do que a pessoa viu e fez durante o dia. “Quando a gente dorme, só o que precisa descansar é o corpo físico. O espírito não descansa, então ele vai à mundos. Para onde ele vai depende mundo do que a gente pensa e faz durante o dia. Se eu sou uma pessoa vinculada ao bem e ao amor, quando eu for dormir, eu irei para um lugar bom, de luz onde eu conseguirei encontrar com pessoas queridas. Essa porta que a noite nos abre é a alegria de estar encarnado. É como se você morresse todas as noites”, declara.

O PASSE: 
Energias positivas por meio de um mediador

Uma das ações mais conhecidas realizadas nos Centros Espíritas é o Passe. O passe é uma prática difundida entre os espíritas, que teria o poder de canalizar “fluidos” ou “energias” benéficos do próprio passista, de bons espíritos, ou ainda de ambas as fontes somadas. “É um auxílio do mundo espiritual que todas as casas possuem. São energias que a gente canaliza para aquela pessoa. Pode ser espiritual. Pode ser só magnetismo da pessoa. O passe que se faz normalmente na casa espírita é misto, ou seja, é o passista com auxilio da espiritualidade”, explica.
Taís destaca que é importante que as pessoas procurem o passe por livre e espontânea vontade e que participem da prática de coração aberto. “As pessoas pensam que vão entrar ali e vão sair felizes, mas não é assim, porque não existe mágica. Tudo tem a ver com o seu empenho. Você entra ali porque quer ajuda. É um fortalecimento. Às vezes a pessoa entra na cabine de passe, mas sai igual porque não é receptiva”, justifica.

MEDIUNIDADE AFLORADA
“Eu vejo espíritos”. Como lidar com essas visões mediúnicas?

Adepta da doutrina espírita relata experiências sobre fenômenos mediúnicos desde os primeiros anos de idade

Conforme o que defende a Doutrina Espírita, todos nós, sem exceção, somos dotados de mediunidade espírita. Alguns possuem esta capacidade humana mais aflorada e por isso têm mais facilidade no contato ou comunicação com os espíritos. Glane Ermelinda Tiezerini, 51 anos, é uma das milhares de pessoas que tem o dom da mediunidade mais aflorado.
Desde muito pequena, Glaene presencia fenômenos espirituais. Naquela época, a pequena era amparada pelos pais, estudiosos da doutrina espírita. A funcionária pública estadual explica que no começo sofreu muito com as visões e sonhos premonitórios. “Quando eu era pequena, eu era um pouco diferente. Eu via as coisas, eu pressentia, eu tinha ataques de choros sem explicação. Depois com o tempo, eu comecei a sofrer muito, tive medo. Eu sofri de não conseguir dormir, de ouvir passos, de ver gente, de pressentir coisas que aconteciam. Muitas vezes aconteceu de eu sentar à mesa pra jantar e começar a passar mal. Eu via um clarão e desmaiava. Então era bem sofrido, por isso eu tive que procurar ajuda”, explica.
A primeira ajuda para entender os fenômenos que a pequena garotinha estava presenciando, partiu do pai. Com auxílio dos livros do Kardecismo pelos quais o pai estudava a doutrina, Glaene conta que aprendeu a conviver com o dom. “Isso vem de casa, meu pai sempre leu muito sobre o espiritismo. Meu pai era um médium muito elevado e estudava muito. Ele dizia que minha mediunidade era muito grande e que eu precisava desenvolver”, relata.
            Em Chapecó, os pais de Glaene fundaram o Centro Espírita Bezerra de Menezes, local onde faziam atendimentos mediúnicos e palestras assistenciais sobre a doutrina. Com o falecimento do pai, o centro foi fechado. De lá pra cá, Glaene relata que aprendeu muito sobre o Espiritismo. “A gente procura o espiritismo ou pela dor ou pelo amor. É muito difícil ouvir alguém dizer que procurou um Centro Espírita por quis conhecer. A maioria das pessoas que procuram o Centro, são pessoas que precisam de ajuda”, justifica.
            Por conta da experiência que viveu quando criança, Glaene entende o medo que algumas pessoas têm de se aperfeiçoarem sobre o espiritismo. Ela aconselha, no entanto, que as pessoas que tenham algum tipo de mediunidade mais aflorado, procurem ajuda em um Centro Espírita para poder entender a doutrina e se aperfeiçoar. “É um pouco temeroso porque as pessoas não conhecem, mas o Espiritismo é uma coisa muito bonita. As pessoas deveriam desenvolver esse lado que todos nós temos, é um modo de se conhecer”, declara.


REGRESSÃO: A TERAPIA DAS VIDAS PASSADAS

            Com o passar do tempo, com a ajuda dos pais e o estudo do espiritismo através dos livros, Glaene aprendeu a conviver com o dom. Hoje, anos após, ela conta que ainda vê espíritos, mas não sofre tanto como no passado. Além dos familiares que já faleceram, Glaene conta que recebe constantemente a visita de um espírito desconhecido. Segundo ela, o espírito de um senhor já de idade a acompanha há bastante tempo. “Muitas noites eu acordo e o vejo. Ele fica em pé, na guarda da minha cama. No começo isso me incomodava, mas depois eu vi que ele me protegia”, relata.
            Para tentar descobrir a identidade do espírito misterioso, Glaene recorreu à uma regressão, terapia que possibilita através da hipnose, uma consulta às vidas passadas.
Na regressão, o paciente, consciente, revive campos de seu passado e utiliza a experiência como remédio para medos, depressão e doenças. “Eu fiz regressão pra conseguir identificar ele e realmente consegui. É um espírito guardião. Muitas vezes eu perguntei o nome dele, mas nunca tive resposta. Ele apenas sorri pra mim e fica junto comigo”, enfatiza.
            Depois de várias sessões de regressão, Glaene conseguiu visitar diversas vidas do passado. Ela conta que procurou a terapia por curiosidade de saber como foi no passado e de que forma viveu as outras vidas. “Eu queria ver como eu fui em outras vidas porque hoje eu tenho 51 anos e nunca fui casada, nunca tive filhos. Em nenhuma das vidas que eu visitei eu fui casada, em nenhuma eu tive filhos”, explica.
            Ela conta ainda que outro motivo que a levou a procurar a regressão era desvendar o mistério sobre um dor que sente no lado esquerdo do peito. Ela conta que a descoberta do mistério foi o que mais a marcou em toda a terapia. “Tem algo que me marcou muito. Foi uma vida em que eu me matei. Eu tenho uma dor muito grande no lado esquerdo. Se eu chego perto de uma pessoa que está muito carregada de energias negativas, sinto uma dor muito forte. Na regressão eu descobri que em uma dessas vidas me matei com facadas no lado esquerdo do peito”, responde emocionada.
           Glaene resgata a sensação que sentiu quando estava vagando sobre as lembranças que se reascendiam aos poucos na memória. “Nesse tipo de regressão, você fica mais consciente. É um filme. Vi pessoas conhecidas que convivo ainda hoje. É uma mistura de sentimentos. Eu tinha feições diferentes das que eu tenho hoje. Em uma das vidas eu era alta de cabelo comprido e preto, era uma cigana. Na outra eu era diferente, bem magrinha, com o rosto bem fino. A gente se vê muito diferente, mas sabe que é você que está ali, você se identifica, se reconhece naquelas feições”, relata.
            Glaene conta que no começo a terapia causa um estado de choque mas aconselha que as pessoas que tenham algum problema de doença ou de medo, procurem a terapia. “Talvez uma pessoa que não tenha conhecimento sobre isso se choque. Mas foi bom pra mim. Eu aconselho que quem tenha problema de relacionamento, de doenças, de fobias, procurem a regressão”, finaliza.


Chico Xavier e a cartas e livros psicografados

Chico Xavier
O crescimento da doutrina espírita no Brasil ganhou novo fôlego com o surgimento de uma figura emblemática dessa religião: o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. Por meio de suas obras psicografadas, Chico passou a popularizar ainda mais o espiritismo.
Psicografia, segundo o vocabulário espírita, é a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas pelos Espíritos. A psicografia está entre as principais expressões mediúnicas existentes.
Entre as obras de Chico Xavier, está “Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, onde ele narra a intervenção dos espíritos em diferentes acontecimentos da história nacional. Outro sucesso do médium é o livro “Nosso Lar”, ditado pelo espírito André Luiz. O livro rendeu a produção de um filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria no Brasil. Chico morreu aos 92 anos, no dia 30 de junho de 20012.

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