Família abre as portas de casa
para
abrigar animais abandonados
ANCHIETA
Texto e fotos: Camila Hundertmarck
Unidos pelo ideal de diminuir o sofrimento
dos animais de rua, a família Della Méa abriga, medica e alimenta cerca de 24
“boquinhas”. Baseado na cooperação, na ajuda mútua e no carinho, Natália Della
Méa, 11 anos, abrigou, desde os seus primeiros anos de idade, mais de 30 gatos
abandonados e mal tratados pelos antigos donos.
Ela conta que o carinho pelos animais passou de mãe para filha. “Minha mãe
começou a cuidar deles e depois eu também quis ajudar. Tenho pena de vê-los
abandonados na rua”, justifica.
Natália revela que os cuidados começaram por
conta dos inúmeros abandonos e maus tratos a animais na cidade. “Tem gente que
solta os gatos em sacolas e caixas na rua. Às vezes encontro alguns embaixo dos
motores dos carros, sujos de óleo ou amarrados. Eu os tiro de lá e os trago
para casa para cuidar”, relata.
Hoje em dia todos os gatos estão
recuperados, mas nem sempre foi assim. Natália conta que já encontrou gatos
muito machucados por atropelamentos e até mesmo por outros animais. Quando isso
acontece, a família Della Méa se disponibiliza a prestar o socorro necessário e
dar abrigo aos gatinhos. “Nós cuidamos deles até se recuperarem e depois eles
acabam ficando aqui em casa”, explica Natália.
Um exemplo é o gato Michi,
com seis anos de idade, o mais idoso do grupo. Quem o vê hoje não imagina o que
o bichano já passou. A mãe de Natália, Bernadete Della Méa, conta que o gato
estava muito debilitado quando a família o encontrou. “Ele foi atropelado,
tinha perdido todo o pêlo e andava apenas com as duas patinhas de trás”,
lembra. Apesar de o estado de saúde de Michi ter sido grave na época, mãe e
filha uniram-se e conseguiram recuperar boa parte dos seus movimentos. “Nós
acabamos cuidando dele. Pegamos ele e começamos alimentá-lo e a movimentá-lo
todo dia, até que se recuperou”, conta.
A família se dispôs
ainda a cuidar de um cão que apareceu na residência com o maxilar quebrado. O
defeito na boca do animal jamais foi curado, mas os cuidados à base de remédios
e muito carinho fizeram com que o cão se recuperasse parcialmente. “Ele
apareceu por aqui e colocamos remédio na sua boca. Ele até melhorou, mas a
mordida continuou atravessada. Por isso temos que dar coisas mais macias pra
ele comer”, relata.
Apesar da paixão por gatos ter aumentado nos
últimos anos, Bernadete conta que não é de hoje que se disponibiliza a cuidar e
dar abrigo aos animais. “Cuidamos de gatos há quase 20 anos. É de família. Já
tivemos muitos outros, mas alguns deles morreram envenenados e atropelados e
outros foram embora”, relembra. Os gatos dividem o porão da casa de Natália com
dois cachorros, mas Bernadete afirma que o que não falta é conforto para os
felinos. “Tem cama pra todo mundo”, garante.
A mãe de Natália relembra
ainda que no começo era possível contar com a ajuda de um restaurante da cidade
que doava as sobras de comidas para que a família alimentasse os gatos. Após a
decisão de um promotor de justiça, no entanto, a família não pôde mais contar
com esse tipo de doação e, por isso, teve de procurar soluções para que não
faltassem alimentos e remédios aos animais.
“De vez em quando não tem comida. Quando isso acontece, a gente cozinha
arroz, pega carne e dá para todos. Nós não gastamos com medicação para a família,
mas para os bichos sempre tem que ter”, revela.
A DOR QUE VEM COM O APEGO
Mesmo trazendo muitas alegrias para a
família, cuidar de animais de estimação também tem uma parte ruim. O apego e o
carinho que aumentam com o passar do tempo fazem com que a hora da despedida
seja sempre muito dolorosa. Natália pretende cuidar dos gatinhos por muito
tempo, mas conta que a parte mais triste é quando algum deles morre. “Esses
dias morreu nas minhas mãos um dos meus gatinhos pretos que sofreu
envenenamento. Eu chorei muito”, lembra.
Bernadete explica que a preocupação com os
animais abandonados existe, pois não há um local apropriado para deixá-los.
“Deviam fundar uma ONG e ter mais consciência para não colocar os animais nas
portas das casas. Quem tem um animalzinho tem que cuidar”, finaliza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário