segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Solidariedade

Família abre as portas de casa para 
abrigar animais abandonados

ANCHIETA

Texto e fotos: Camila Hundertmarck


Unidos pelo ideal de diminuir o sofrimento dos animais de rua, a família Della Méa abriga, medica e alimenta cerca de 24 “boquinhas”. Baseado na cooperação, na ajuda mútua e no carinho, Natália Della Méa, 11 anos, abrigou, desde os seus primeiros anos de idade, mais de 30 gatos abandonados e mal tratados pelos antigos donos.  Ela conta que o carinho pelos animais passou de mãe para filha. “Minha mãe começou a cuidar deles e depois eu também quis ajudar. Tenho pena de vê-los abandonados na rua”, justifica.
Natália revela que os cuidados começaram por conta dos inúmeros abandonos e maus tratos a animais na cidade. “Tem gente que solta os gatos em sacolas e caixas na rua. Às vezes encontro alguns embaixo dos motores dos carros, sujos de óleo ou amarrados. Eu os tiro de lá e os trago para casa para cuidar”, relata.

Hoje em dia todos os gatos estão recuperados, mas nem sempre foi assim. Natália conta que já encontrou gatos muito machucados por atropelamentos e até mesmo por outros animais. Quando isso acontece, a família Della Méa se disponibiliza a prestar o socorro necessário e dar abrigo aos gatinhos. “Nós cuidamos deles até se recuperarem e depois eles acabam ficando aqui em casa”, explica Natália.
         Um exemplo é o gato Michi, com seis anos de idade, o mais idoso do grupo. Quem o vê hoje não imagina o que o bichano já passou. A mãe de Natália, Bernadete Della Méa, conta que o gato estava muito debilitado quando a família o encontrou. “Ele foi atropelado, tinha perdido todo o pêlo e andava apenas com as duas patinhas de trás”, lembra. Apesar de o estado de saúde de Michi ter sido grave na época, mãe e filha uniram-se e conseguiram recuperar boa parte dos seus movimentos. “Nós acabamos cuidando dele. Pegamos ele e começamos alimentá-lo e a movimentá-lo todo dia, até que se recuperou”, conta.
         A família se dispôs ainda a cuidar de um cão que apareceu na residência com o maxilar quebrado. O defeito na boca do animal jamais foi curado, mas os cuidados à base de remédios e muito carinho fizeram com que o cão se recuperasse parcialmente. “Ele apareceu por aqui e colocamos remédio na sua boca. Ele até melhorou, mas a mordida continuou atravessada. Por isso temos que dar coisas mais macias pra ele comer”, relata.
Apesar da paixão por gatos ter aumentado nos últimos anos, Bernadete conta que não é de hoje que se disponibiliza a cuidar e dar abrigo aos animais. “Cuidamos de gatos há quase 20 anos. É de família. Já tivemos muitos outros, mas alguns deles morreram envenenados e atropelados e outros foram embora”, relembra. Os gatos dividem o porão da casa de Natália com dois cachorros, mas Bernadete afirma que o que não falta é conforto para os felinos. “Tem cama pra todo mundo”, garante.
         A mãe de Natália relembra ainda que no começo era possível contar com a ajuda de um restaurante da cidade que doava as sobras de comidas para que a família alimentasse os gatos. Após a decisão de um promotor de justiça, no entanto, a família não pôde mais contar com esse tipo de doação e, por isso, teve de procurar soluções para que não faltassem alimentos e remédios aos animais.  “De vez em quando não tem comida. Quando isso acontece, a gente cozinha arroz, pega carne e dá para todos. Nós não gastamos com medicação para a família, mas para os bichos sempre tem que ter”, revela.

A DOR QUE VEM COM O APEGO

Mesmo trazendo muitas alegrias para a família, cuidar de animais de estimação também tem uma parte ruim. O apego e o carinho que aumentam com o passar do tempo fazem com que a hora da despedida seja sempre muito dolorosa. Natália pretende cuidar dos gatinhos por muito tempo, mas conta que a parte mais triste é quando algum deles morre. “Esses dias morreu nas minhas mãos um dos meus gatinhos pretos que sofreu envenenamento. Eu chorei muito”, lembra.
Bernadete explica que a preocupação com os animais abandonados existe, pois não há um local apropriado para deixá-los. “Deviam fundar uma ONG e ter mais consciência para não colocar os animais nas portas das casas. Quem tem um animalzinho tem que cuidar”, finaliza.

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