segunda-feira, 29 de outubro de 2012

UMBANDA


SARAVÁ! - Centro de Umbanda abre suas portas e revela os mistérios da religião dos caboclos e orixás

Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto

Reportagem e Fotos: Camila Pompeo

            O Brasil é um país plural em religiões. Se no passado a pluralidade religiosa era criticada, hoje são muitos os que simpatizam com religiões que envolvem o espiritismo e outros fenômenos sobrenaturais. Para esclarecer os mistérios da Umbanda, uma das religiões mais polêmicas do Brasil, a equipe do Jornal O Líder preparou uma reportagem completa sobre o assunto. A partir de agora, você leitor, está convidado a conhecer os relatos dos médiuns que fazem a Umbanda em São Miguel do Oeste.

AFINAL, O QUE É A UMBANDA?

            A Umbanda é a religião brasileira que mistura o catolicismo, o espiritismo e as religiões afro-brasileiras e indígenas.  Os terreiros ou centros de Umbanda são comandados pelo médium mais experiente, geralmente o fundador da casa. Este médium, conhecido como Pai de Santo ou Mãe de Santo, incorpora o orixá que comanda a casa e auxilia na incorporação dos demais médiuns. Na Umbanda, os Santos conhecidos na Igreja Católica, mudam de imagem e nomes. Em um grande altar eles sãos dispostos e recebem oferendas e velas de diversas cores.
            A religião desenvolve seu trabalho com o auxilio das entidades espirituais dos caboclos e pretos-velhos, espíritos de indígenas e escravos. Essas entidades se apresentam nos terreiros de Umbanda e são espíritos com alto grau espiritual de evolução. Segundo os umbandistas, a religião foi criada em 1908 pelo Médium Zélio Fernandino de Moraes, sob a influência da entidade espiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas. 
Antes disso, já existiam manifestações religiosas espontâneas cujos rituais envolviam incorporações e o louvor aos orixás. Entretanto, foi através de Zélio que a religião foi organizada com rituais e contornos bem definidos.
Em 1939 foi fundada a Federação Espírita de Umbanda. Dois anos depois, em 1941, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda. Em 1945, José Álvares Pessoa, dirigente de uma das sete casas de Umbanda fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, conquistou junto ao Congresso Nacional a legalização da prática da Umbanda.

Pai de Santo explica trabalhos realizados pelo Centro de Umbanda que fundou dentro da própria casa

Morador de São Miguel do Oeste estuda a Umbanda desde os seis anos de idade e, desde os 13, incorpora entidades para o atendimento à população

             Em um dia frio e chuvoso é que Clóvis Luiz da Silva, 41 anos, nos recebe em sua casa.  Clóvis é mecânico e “Pai de Santo” do Centro de Umbanda Tenda de Oxossi, de São Miguel do Oeste. O Centro foi construído há cerca de 10 anos na residência onde o Pai de Santo mora com a esposa e as três filhas.
        Criado dentro das crenças da religião dos pretos-velhos, caboclos e orixás, Clóvis desenvolveu o dom que serviria, no futuro, como auxílio à muitas pessoas. Com apenas seis anos de idade, o ainda menino, já frequentava o Centro de Umbanda mantido pelo pai. Como era acostumado com a rotina do Centro, Clóvis nunca teve medo e sequer hesitou quando lhe foi dada a oportunidade de trabalhar melhor sua mediunidade. “Eu nasci dentro disso. São 41 anos dentro da Umbanda. Tive minhas primeiras experiências depois de dois anos de preparação com seis anos de idade. Mas eu só comecei a atender as pessoas com os meus 13 anos de idade”, relata.
         Depois da morte do pai, estudioso da Umbanda, Clóvis decidiu prosseguir com o terreiro. Ele e a esposa foram tocando o Centro até resolverem trazê-lo para dentro de casa. Na casa onde mora, o casal construiu uma peça para dedicar aos trabalhos mediúnicos da Umbanda e uma estrutura implícita de cabos de aço para afastar a negatividade. Clóvis revela que com o desenvolvimento da mediunidade passou a ter visões dentro de casa. Apesar disso, ele afirma que nunca teve medo. “Para acontecer isso, eu preciso estar muito preparado. Mas eu não tenho medo. Também nunca aconteceu de eu incorporar sem querer. É preciso respeitar a entidade que está contigo para que isso não aconteça”, esclarece.
          Nas noites de segunda-feira, ele e os 16 voluntários da Tenda de Oxossi atendem os presentes em sessões de passes, descarrego e consultas. “Toda a segunda-feira tem atendimento às 19h30. Os passes são livres, mas as consultas custam R$ 10. Quem não tiver dinheiro, não tem problema. O dinheiro que arrecadamos é revertido em alimentos não perecíveis para doação. São os próprios frequentadores que distribuem as cestas básicas”, explica.

O APOIO DA ESPOSA
O medo que se transformou em amor 

        Meri Rose De Prá da Silva, 41 anos, é esposa de Clóvis. Rose ajuda na tradução da linguagem cabocla das entidades para a população e nos encaminhamentos do Centro de Umbanda da família. Ela não quis desenvolver a mediunidade e, por isso, apenas ajuda o marido no andamento da celebração. Porém, nem sempre foi assim. Rose conta que pouco depois de conhecer o marido, descobriu que ele trabalhava no Centro de Umbanda do pai. Ela relata que a primeira reação foi de choque e medo. “Quando ele falou que o pai dele trabalhava com isso eu fiquei apavorada. Mas foi no centro do meu sogro que eu me curei de um reumatismo. Hoje eu amo o que eu faço, não tem dinheiro que pague”, conta.
       Trabalhando como empregada doméstica durante o dia, Rose afirma que a noite da segunda-feira é sempre especial. O casal reserva este dia da semana para se dedicar aos trabalhos do Centro e às consultas que duram até cinco horas. “A gente faz esse trabalho em função dos outros. Nós abrimos mão de ficar com as nossas filhas para estar aqui porque gostamos disso”, enfatiza.


“É HORA DE TRABALHAR...”
Concentração, cânticos e oferendas para evocar as entidades

       Segunda-feira, dia 18 de junho, noite de trabalhos no Centro de Umbanda Tenda de Oxossi. Pouco a pouco as pessoas chegam para acompanhar a sessão da noite, enquanto os médiuns aguardam frente ao altar repleto de orixás, velas e bebidas. As 19h30 em ponto começa a sessão da semana. Cerca de 10 pessoas acompanham a explicação de Clóvis sobre os trabalhos do dia.
        Vestidos de branco e com as guias de proteção coloridas no pescoço, os cinco médiuns dão início aos trabalhos com os cânticos umbandistas. Os simpatizantes da Umbanda assistem a tudo com atenção e acompanham a letra das músicas. De pés descalços, Clóvis, coordenador dos trabalhos, precisa de muita concentração para receber a entidade cabocla. De repente, ele começa a rodar em meio aos demais médiuns e tem sua voz e maneira de andar totalmente transformada. A voz e o andar lembram a de um ancião.
         Todos os presentes saudam a chegada da entidade que bebe vinho ansiosamente em uma taça fixada no centro do altar. “As bebidas e charutos são oferendas para as entidades. Não que ela precise disso para trabalhar, para te ajudar, mas é um agrado que a gente faz. Cada entidade tem a sua bebida e por isso deixam sua assinatura nas garrafas”, explica. 
           A incorporação de Clóvis acontece de forma inconsciente, ou seja, depois do término dos trabalhos, o Pai de Santo não lembra de nada do que aconteceu enquanto esteve incorporado pela entidade. “A entidade vem para nos ajudar. Existe a incorporação consciente, inconsciente e semi inconsciente. Uns lembram vagamente, outros lembram de tudo e tem o médium que não lembra de nada”, enfatiza.
           Depois de incorporada, a entidade que ocupa o corpo de Clóvis ajuda os outros médiuns na concentração. Um por um, outros dois médiuns incorporam enquanto outras duas pessoas ajudam nos encaminhamentos. “São 16 médiuns voluntários trabalhando dentro do Centro. Com o tempo, eles vão desenvolvendo melhor o dom. Muitos desistem porque a própria entidade exige muito de nós, exigem dignidade e ética. Mas para desistir você não pode chutar seu passado. Você precisa pedir permissão para o orixá que comanda a casa para parar”, justifica.
         Após a incorporação de todos os médiuns, têm início os trabalhos de passes. Os passes são rápidos, mas as consultas duram até meia hora.  As pessoas que desejam consultar as entidades põe o nome em uma lista antes mesmo dos trabalhos da noite começarem. Quando as consultas têm início, cada pessoa é chamada de acordo com a ordem da lista e tem o direito de fazerem quantas perguntas quiserem. “Os principais assuntos das consultas são saúde, relacionamento familiar e negócios. Muitas pessoas vêm aqui para solucionar uma intriga de casal e as entidades tentam apaziguar a situação. A Umbanda prega a paz, nunca a discórdia dentro de uma casa. A Umbanda vêm pra unir a família, unir um casal e mostrar que independente de religião, Deus é um só”, esclarece.
       No final da noite quando todas as pessoas são atendidas, os médiuns se despedem das entidades sem lembrar o que fizeram momentos antes. Clóvis ressalta que a única sensação que tem é de um corpo muito gelado. Ele acrescenta ainda que precisam obedecer algumas exigências feitas pelos pretos-velhos.“Eu não sinto nada, eu não me lembro de nada. A única coisa que acontece é que meu corpo fica muito frio depois dos trabalhos. E da meia noite até terminar o trabalho a gente não pode ter relação sexual, não pode comer carne de porco e não pode brigar”, relata.


AS POLÊMICAS DA UMBANDA:
O mito do sacrifício de animais e dos despachos

        Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
            Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
         Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
     O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.


OS PRINCIPAIS ORIXÁS DA UMBANDA: 

Na Umbanda, os Orixás são cultuados como divindades de um plano astral superior. Conheça alguns dos principais orixás da religião e quais suas designações:


Exu: o mensageiro, o ponto de contato entre os Orixás e os seres humanos.
Oxalá: o senhor da força, o senhor do poder da vida.
Oxum: as águas doces.
Iemanjá: a rainha dos peixes das águas salgadas.
Iansã: os ventos, chuvas fortes, os relâmpagos.
Xangô: a força do trovão e o fogo provocado pelos relâmpagos quando chegam à Terra.
Ogum ou Ogun: senhor dos caminhos; os desbravador dos caminhos; senhor do ferro;
Oxossí: o Orixá Odé, o Orixá caçador, senhor da fartura 'a mesa, senhor da caça;


O mito do sacrifício de animais e dos despachos


Uma das principais polêmicas da Umbanda gira em torno do suposto sacrifício de animais para o sucesso dos trabalhos e magias. Muitas pessoas têm receio e até repudiam a religião por conta dos diversos comentários sobre esta prática. Segundo Clóvis, a Umbanda não realiza o sacrifício de animais. Ele argumenta que a prática da medida por outras religiões existem e é lamentável. “Não se tira uma vida para dar uma vida. Independente de qual for o animal. O animal tem tanto valor quanto nós. Da nossa parte a gente não faz e não apoia quem faz. A Umbanda nunca faz isso”, argumenta.
Outra questão comentada com preconceito gira em torno dos trabalhos realizados pela Umbanda para a melhoria de saúde, dos negócios e do lado sentimental das pessoas. O termo “saravá” soa pejorativo, mas tem um significado desconhecido fora da Umbanda. “Uma das perguntas que as pessoas mais fazem é ‘Você vai no saravá?’ Saravá significa “Salve Deus”, é uma saudação à Deus e a quem está presente na casa”, explica.
Apesar disso, Clóvis revela que o Centro de Umbanda Tenda de Oxossi realiza trabalhos encomendados pelas pessoas que visitam o centro, mas afasta qualquer possibilidade de ligação com o mal. “As pessoas confundem a Umbanda com o Candomblé. A Umbanda a gente chama de branca porque traz os orixás que vem trazer a paz. O Candomblé trabalha com a linha esquerda. Nenhuma das duas usa a religião para fazer o mal, são as pessoas que procuram as religiões pra fazer o mal para alguém. A gente prega aqui dentro a ética de sempre fazer o bem. Nós fazemos trabalhos e magias para o bem, não fazemos o mal”, justifica.
O Pai de Santo ressalta que nunca se preocupou com a divulgação do Centro e diz que prefere que as pessoas venham por livre e espontânea vontade. Clóvis afirma que todas as religiões tem seu lado bom e que as pessoas precisam se dedicar à isso. “A Umbanda tem o próprio ‘Pai Nosso’, mas a gente reza o ‘Pai Nosso’ normal porque é o que pessoal mais conhece. Acho que toda a religião é ótima, é excelente. Deus está em todo o lugar, então pouco adianta você ir até os templos se você não vai com fé. Em casa, a oração também é maravilhosa se for feita com fé”, comenta.

Um comentário:

  1. Será que poderia me enviar por e-mail onde se localiza esse centro espírita? natashaalberti@yahoo.com.

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