segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Opinião

Foto de Camila Hundertmarck - Todos os direitos reservados

 Experiência

Falta pouco para eu me formar jornalista. Mas é na academia que creio ter as experiências mais marcantes. O medo, a insegurança da pauta, da finalização da reportagem fazem parte do cotidiano do futuro jornalista. Uma das experiências mais marcantes que já tive foi há algumas semanas atrás. Recebemos na Universidade a tarefa de entrevistar presidiários, garotas de programa, usuários químicos, enfim, pessoas que são excluídos da sociedade por consequência dos seus atos. 
Em primeiro momento fiquei insegura. Todas as opções dadas pelo professora me deixavam apavorada de certa forma. E eu pensava comigo: "Como é que eu vou chegar nessas pessoas?" Confesso que pensei em não fazer a reportagem. O medo era realmente grande. Chegando em casa eu refleti, pensei que aquele era apenas uma das várias pautas que eu teria que enfrentar ao longo da minha carreira e, com certeza, não seria a mais difícil de produzir. Me encoirajei e decidi: "Vou até o presídio."
Numa sexta-feira do começo do mês de outubro redigi um ofício de solicitação para a entrevista e elaborasção da reportagem e me dirigi até a Unidade Prisional de São Miguel do Oeste. Lá chegando, entreguei a folha ao diretor e, por alguns segundos, tive medo que ele negasse a entrevista. O que não aconteceu. Fui autorizada. Dali há alguns minutos eu estaria entrevistando três dos vários presos daquela Unidade. O primeiro deles foi escolhido a dedo. Tinha homicídio ou tentativa (como ele preferiu dizer). Já fui tratando logo de explicar a ele o intuito da reportagem e de deixar claro que ele era livre para decidir se queria ou não participar da reportagem. Ele aceitou. 
Uma carcereira pegou as algemas e o algemou nos pés e nás mãos. Logo após, abriram a cela e ele veio em minha direção. A salinha da entrevista estava pronta e vazia. Apenas eu e ele e eu confesso estar tremendo por dentro. Expliquei a ele que não poderia identificá-los na reportagem e que, dessa forma, eu teria que substituir os nomes na hora de redigir. Notei que ele se chateou. Me surpreendi pois a impressão que tive é que ele gostaria de pôr o seu nome na reportagem. 
Começamos a conversar e com o passar dos minutos comecei a me tranquilizar. Nada aconteceria comigo. Ele me contou sua vida. O problema com os filhos, os sonhos que ainda tem. Me contou dos erros e demonstrou querer mudar. Os outros dois presos que entrevistei agiram da mesma forma. Um era viciado em drogas, o outro tinha sido preso pela 4ª vez por roubo. Tive algumas lições. Apesar de não serem perfis que aprovo e que seguiria na minha vida, tive lições. Apesar do medo que tive de primeiro momento, a reportagem foi feita e foi uma das que mais gostei de escrever. Logo posto aqui no blog para quem se interessar em ler. :)

Camila Hundertmarck


Nenhum comentário:

Postar um comentário