Gírias, a estranha comunicação entre os jovens
SÃO MIGUEL DO OESTE
Camila Hundertmarck
Guilherme Giongo - 17 anos
Uma linguagem irreverente
e cheia de palavras novas. Significados que confundem a cabeça da gente e que
só a garotada mesmo consegue entender. A gíria é um fenômeno de linguagem
especial usada por certos grupos sociais pertencentes a uma classe ou a uma
profissão em que se usa uma palavra não convencional para designar outras
palavras formais da língua com intuito de fazer segredo, humor ou distinguir o
grupo dos demais, criando um jargão próprio. É fato. As conhecidas gírias
fizeram por gerações a cabeça dos jovens e é quase impossível não ver um deles
usar essa forma de comunicação. É um “irado” pra cá, um “sussa” pra lá, um vai
e vem de estilos e palavras que tornam o diálogo entre eles bem mais simples e
descontraído.
Guilherme Giongo, 17 anos,
está no 3º ano do ensino médio e garante que na escola onde estuda as gírias
estão sempre presentes no bate-papo com os colegas. “Usamos a gíria porque ela
possibilita um clima de descontração e uma espécie de vínculo com o grupo”,
conta. Para ele, esta é uma forma de mostrar a identidade de cada um. “A gente
cria uma linguagem própria, uma forma de nos diferenciarmos do resto das
pessoas”, relata o estudante.
Porém, mesmo quem faz uso
freqüente de gírias no dia-dia sabe que há momentos inoportunos para o seu uso.
Guilherme, por exemplo, afirma que sabe bem selecionar esses momentos. “Sei quando eu posso falar ou não desse
jeito. Em uma entrevista de emprego, por exemplo, não podemos falar usando
gírias porque com certeza não vamos conseguir a vaga. Isso certamente prejudica
nessas horas”, afirma Guilherme.
O ambiente escolar é um
dos locais mais passiveis ao uso desse tipo de linguagem. No intervalo das
aulas, por exemplo, a garotada se encontra para colocar o papo em dia. A partir
daí, surgem dezenas de novas palavras que devem compor o estilo e identidade de
cada um. Conforme o professor Vinícius Pompéo, a gíria surge como uma forma de
personalizar a comunicação entre os jovens. “A
gíria dá um sentido próprio à comunicação de cada geração e isso se confirma
quando analisamos que as gírias de hoje são completamente diferentes das usadas
há 10 anos”, afirma.
Segundo
Pompéo, além de construir e identificar o estilo de cada um, as gírias
possibilitam ainda facilidade nas relações de convívio em grupo. “Acredito que
a gíria funciona como um mecanismo usado para aproximar e facilitar as relações
através de um modelo de linguagem próprio”, relata. Para ele, que é professor
nos ensinos fundamental e médio, a gíria usada em sala de aula pode auxiliar no
interesse e aprendizado do aluno. “Em sala de aula, quando uso algumas gírias,
sinto meus alunos bem mais próximos e respeitosos em relação ao ensino e
aprendizagem. Eles se identificam”, conta.
Marisa da
Silva, 18 anos, se prepara para prestar vestibular em um cursinho preparatório
da cidade. A estudante acredita que, apesar de ter virado moda entre a
garotada, a gíria pode prejudicar na hora de escrever redações em processos
seletivos. “A gente precisa estar atento na hora de escrever uma redação, pois
acaba se acostumando a falar assim e isso pode nos prejudicar na hora de
escrever”, afirma a estudante.
Ao
contrário de Marisa, Pompéo acredita que as conseqüências do uso desse tipo de
linguagem, não são de todo ruins. “Acredito que as
conseqüências podem ser boas também, pois isso facilita a comunicação. No meu
caso, uso isso a meu favor e a favor da aprendizagem do aluno”, relata Pompéo.
A
irreverente linguagem das gírias é compreendida apenas por aqueles que
pertencem à mesma tribo e, mesmo caindo cada vez mais em aceitação na
sociedade, ainda causa certo desconforto para aqueles que defendem o uso da
linguagem culta. Porém, não se pode negar que as gírias estão com tudo no
universo da garotada e têm importante papel na hora de mostrar a personalidade
e identidade de cada um. “Como educador não posso fechar os olhos para esta realidade.
Cabe a nós, pais e professores, limitar e direcionar o uso destas gírias e
expressões de linguagem”, finaliza Pompéo.
ESSA MODA É DA HORA!
Conforme
definição dos principais dicionários, a palavra “gíria” é um fenômeno de
linguagem usada por indivíduos pertencentes a determinados grupos sociais ou
profissões. Mas não é de hoje que a garotada cria novas palavras para se
comunicar. Há cinquenta ou sessenta anos, por exemplo, as primeiras gírias
começaram a surgir, se tornando mania entre os jovens e adultos. A expressão
“broto”, por exemplo, era usada por nossos pais e avós para definir uma mulher
jovem e atraente. Além desta, outras centenas de gírias deixaram de existir
porque caíram em desuso com o passar do tempo.
De certa forma, todos os
grupos sociais possuem necessidade de criar palavras e expressões novas para
usar no dia a dia do trabalho e lazer. Assim, os jovens não são os únicos a
criar e utilizar esses novos conceitos. Advogados, médicos, bombeiros e
policiais, por exemplo, possuem um modo específico de falar ligado à profissão,
são os chamados “jargões”.
As gírias variam ainda de
acordo com determinada região. O Estado de Santa Catarina, por exemplo, possui
gírias e expressões específicas que vão surgindo no dia a dia da população. Uma
das mais conhecidas entre a população catarinense é a expressão “Ei Tchó”.
Quando ouvir por aí “Ei Tchó não leve por xingamento, não. A expressão é usada
para quando se quer chamar uma pessoa.
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