segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Gírias, a estranha comunicação entre os jovens


SÃO MIGUEL DO OESTE

Camila Hundertmarck
                                                                                                Guilherme Giongo - 17 anos

Uma linguagem irreverente e cheia de palavras novas. Significados que confundem a cabeça da gente e que só a garotada mesmo consegue entender. A gíria é um fenômeno de linguagem especial usada por certos grupos sociais pertencentes a uma classe ou a uma profissão em que se usa uma palavra não convencional para designar outras palavras formais da língua com intuito de fazer segredo, humor ou distinguir o grupo dos demais, criando um jargão próprio. É fato. As conhecidas gírias fizeram por gerações a cabeça dos jovens e é quase impossível não ver um deles usar essa forma de comunicação. É um “irado” pra cá, um “sussa” pra lá, um vai e vem de estilos e palavras que tornam o diálogo entre eles bem mais simples e descontraído.
Guilherme Giongo, 17 anos, está no 3º ano do ensino médio e garante que na escola onde estuda as gírias estão sempre presentes no bate-papo com os colegas. “Usamos a gíria porque ela possibilita um clima de descontração e uma espécie de vínculo com o grupo”, conta. Para ele, esta é uma forma de mostrar a identidade de cada um. “A gente cria uma linguagem própria, uma forma de nos diferenciarmos do resto das pessoas”, relata o estudante.
Porém, mesmo quem faz uso freqüente de gírias no dia-dia sabe que há momentos inoportunos para o seu uso. Guilherme, por exemplo, afirma que sabe bem selecionar esses momentos.  “Sei quando eu posso falar ou não desse jeito. Em uma entrevista de emprego, por exemplo, não podemos falar usando gírias porque com certeza não vamos conseguir a vaga. Isso certamente prejudica nessas horas”, afirma Guilherme.
O ambiente escolar é um dos locais mais passiveis ao uso desse tipo de linguagem. No intervalo das aulas, por exemplo, a garotada se encontra para colocar o papo em dia. A partir daí, surgem dezenas de novas palavras que devem compor o estilo e identidade de cada um. Conforme o professor Vinícius Pompéo, a gíria surge como uma forma de personalizar a comunicação entre os jovens. A gíria dá um sentido próprio à comunicação de cada geração e isso se confirma quando analisamos que as gírias de hoje são completamente diferentes das usadas há 10 anos”, afirma.
Segundo Pompéo, além de construir e identificar o estilo de cada um, as gírias possibilitam ainda facilidade nas relações de convívio em grupo. “Acredito que a gíria funciona como um mecanismo usado para aproximar e facilitar as relações através de um modelo de linguagem próprio”, relata. Para ele, que é professor nos ensinos fundamental e médio, a gíria usada em sala de aula pode auxiliar no interesse e aprendizado do aluno. “Em sala de aula, quando uso algumas gírias, sinto meus alunos bem mais próximos e respeitosos em relação ao ensino e aprendizagem. Eles se identificam”, conta.
Marisa da Silva, 18 anos, se prepara para prestar vestibular em um cursinho preparatório da cidade. A estudante acredita que, apesar de ter virado moda entre a garotada, a gíria pode prejudicar na hora de escrever redações em processos seletivos. “A gente precisa estar atento na hora de escrever uma redação, pois acaba se acostumando a falar assim e isso pode nos prejudicar na hora de escrever”, afirma a estudante.
Ao contrário de Marisa, Pompéo acredita que as conseqüências do uso desse tipo de linguagem, não são de todo ruins. “Acredito que as conseqüências podem ser boas também, pois isso facilita a comunicação. No meu caso, uso isso a meu favor e a favor da aprendizagem do aluno”, relata Pompéo.
A irreverente linguagem das gírias é compreendida apenas por aqueles que pertencem à mesma tribo e, mesmo caindo cada vez mais em aceitação na sociedade, ainda causa certo desconforto para aqueles que defendem o uso da linguagem culta. Porém, não se pode negar que as gírias estão com tudo no universo da garotada e têm importante papel na hora de mostrar a personalidade e identidade de cada um. “Como educador não posso fechar os olhos para esta realidade. Cabe a nós, pais e professores, limitar e direcionar o uso destas gírias e expressões de linguagem”, finaliza Pompéo.

ESSA MODA É DA HORA!
         Conforme definição dos principais dicionários, a palavra “gíria” é um fenômeno de linguagem usada por indivíduos pertencentes a determinados grupos sociais ou profissões. Mas não é de hoje que a garotada cria novas palavras para se comunicar. Há cinquenta ou sessenta anos, por exemplo, as primeiras gírias começaram a surgir, se tornando mania entre os jovens e adultos. A expressão “broto”, por exemplo, era usada por nossos pais e avós para definir uma mulher jovem e atraente. Além desta, outras centenas de gírias deixaram de existir porque caíram em desuso com o passar do tempo.
De certa forma, todos os grupos sociais possuem necessidade de criar palavras e expressões novas para usar no dia a dia do trabalho e lazer. Assim, os jovens não são os únicos a criar e utilizar esses novos conceitos. Advogados, médicos, bombeiros e policiais, por exemplo, possuem um modo específico de falar ligado à profissão, são os chamados “jargões”.
As gírias variam ainda de acordo com determinada região. O Estado de Santa Catarina, por exemplo, possui gírias e expressões específicas que vão surgindo no dia a dia da população. Uma das mais conhecidas entre a população catarinense é a expressão “Ei Tchó”. Quando ouvir por aí “Ei Tchó não leve por xingamento, não. A expressão é usada para quando se quer chamar uma pessoa.
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