As
revelações sobre o estudo que ensina a lidar com os espíritos que nos rodeiam
Camila Pompeo
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Allan Kardec |
Ainda é muito
comum, nos dias atuais, encontrar pessoas constrangidas ou mesmo aterrorizadas
quando ouvem falar de Espiritismo ou quando presenciam algum fenômeno ligado ao
mundo espiritual. Para esclarecer seus principais fundamentos é que a doutrina
espírita é a primeira de uma série de reportagens sobre religiões, seitas, e
doutrinas.
O Espiritismo
é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos e de suas
relações com o mundo corporal. A
doutrina é baseada em livros escritos pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, conhecido
pelo pseudônimo de Allan Kardec. “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”, são os cinco livros
responsáveis pela codificação e estudo da doutrina espírita no mundo.
As
primeiras manifestações espirituais aconteceram ainda no século XIX, na Europa.
Na época, mesas e cadeiras se moviam ou flutuavam sem nenhuma causa aparente. Após
o relato dos fenômenos, Allan Kardec começou os estudos sobre o Espiritismo e
se dedicou a busca de fatores que provassem cientificamente a influência de
espíritos no mundo corporal.
Em
1857, o estudioso Kardecista (como também é chamada a Doutrina Espírita), sistematizou
o espiritismo com o lançamento do primeiro livro sobre o assunto. A partir daí,
outros diversos livros foram escritos para esclarecer os fenômenos
sobrenaturais e explicar sobre a doutrina que conquistaria uma série de
adeptos.
Para
atender esses milhares de simpatizantes é que os espíritas criam um local de
reuniões. Os famosos Centros Espíritas espalhados pelo país e pelo mundo são
entidades filantrópicas que desenvolvem atividades baseadas nas obras de Allan
Kardec. Os Centros realizam reuniões assistenciais, reuniões de educação
mediúnica, trabalhos sociais, e até disponibilizam receituário mediúnico. Os
atendimentos são gratuitos e os receituários destinados às pessoas que
descrevem problemas de saúde física ou mental. Para aliviar as dores ou
amenizar os problemas é que os homens, mediados pelos espíritos, recomendam
remédios compostos por meio da Homeopatia, ou seja, por meio de medicamentos
preparados a partir de substâncias extraídas da natureza.
CENTRO ESPÍRITA SEARA DA FÉ
A busca pelo entendimento do mundo dos espíritos
Centro Espírita de São Miguel do Oeste
surgiu em 1983 através da parceria de duas amigas para ajudar um filho doente.
Quase 30 anos depois, o Centro recebe centenas de pessoas em ações sociais,
palestras e grupos de estudos sobre o espiritismo
Os
Centros Espíritas se espalharam por todo o território brasileiro como uma forma
de estudar a doutrinas dos espíritos e ajudar as pessoas que querem desenvolver
a mediunidade e entender o mundo dos fenômenos sobrenaturais. Em São Miguel do
Oeste, o Centro Espírita Seara da Fé foi criado em 25 de junho de 1983 por três
amigas. A ideia surgiu quando uma das fundadoras descobriu a doença do filho. O
Centro funcionou como uma “mão amiga” para que a família conseguisse superar a doença.
Hoje,
quase 30 anos depois, o Centro Espírita está sobre a presidência de Nilo
Sturmer. A casa conta ainda com a participação de voluntários que trabalham
gratuitamente para levar ao público um pouco dos fundamentos que Allan Kardec
eternizou nas páginas dos livros espíritas. Reunidos no prédio onde acontecem
os encontros, o voluntário e presidente da União Regional Espírita, Jânio
Dreyer Schreiner e também voluntária, Taís Pires da Rocha respondem algumas das
principais questões sobre o espiritismo.
A
doutrina espírita, segundo eles, surgiu ainda antes de Cristo quando Moisés, ao
pé do Monte Sinai, recebeu as Tábuas da Lei contendo os 10 mandamentos. Moisés teria sido o mediador entre Deus e os
homens. “Ele recebeu de Deus as Tábuas da Lei. Isso é
um fenômeno mediúnico. Essa foi a primeira revelação de Deus para nós. A
segunda revelação foi a de Jesus que nos trouxe a lei do amor. E a terceira
revelação seria a doutrina espírita que não está centralizada em uma única
pessoa. Kardec pesquisou, mas a doutrina é dos espíritos”, explica Taís.
Reencarnação: Renascer para
regenerar
Uma das principais crenças do Espiritismo é a
reencarnação. Reencarnar, segundo a doutrina espírita, é o renascimento de um
espírito já desencarnado em um novo corpo. O objetivo é o de aperfeiçoar o
espírito através de uma nova oportunidade na Terra. Nos dias de hoje a
reencarnação é amplamente discutida e debatida entre todos os seguimentos da
sociedade. Apesar disso, Taís argumenta que a reencarnação está assegurada na
própria Bíblia. “A reencarnação está na Bíblia. Existem várias
passagens que falam desta questão. Existem também muitos estudos que nos provam
que a reencarnação existe”, defende.
A reencarnação, segundo a teoria espírita, é
uma possibilidade concedida a alguns espíritos para se regenerar de questões
mal resolvidas em outras vidas. “Nós temos que evoluir e a reencarnação é essa
porta que nos dá a condição do saber. Quando viemos para a Terra, viemos para
aprender, para evoluir, para melhorar. A gente vive aqui um tempo e depois
somos chamados. Depois de um tempo voltamos, fazemos nova caminhada, acumulamos
novos conhecimentos, passamos por novas provas, até que consigamos desenvolver
virtudes”, esclarece.
A teoria espírita explica que os espíritos
desencarnados da Terra vão para um mundo onde recebem assistência e onde
conhecem os pontos em que pecaram na vida terrena. Depois de algum tempo e já
regenerados espiritualmente, eles recebem a oportunidade e voltam à Terra para
praticar o bem e resolver questões como desafetos de vidas passadas. Taís
enfatiza que a maioria dos espíritos aptos a voltar à vida terrena reencarna
como membros da mesma família para melhorar relacionamentos e estreitar laços.
“A gente, muitas vezes, reencarna naquela mesma família porque a
gente precisa aperfeiçoar aqueles sentimentos. Uma hora você vem como mãe,
outra hora vem como pai, outra hora vem como filho porque os espíritos não tem
sexo. A gente muda o sexo de acordo com a necessidade de aprendizado”,
justifica.
Um dos casos mais comuns de regeneração,
segundo o Espiritismo, é o caso de mãe e filho. “O amor materno é uma
das coisas mais sublimes. Por exemplo, se a pessoa tem alguma dificuldade nessa
vida, uma briga, um desafeto e desencarna. No mundo espiritual é feita uma
conversa por um tempo, e você tem o entendimento do porque foi falho. Depois
disso, recebe a oportunidade de voltar e melhorar. Geralmente quando a pessoa
reencarna e é mãe, o filho é aquele grande desafeto de outra vida, porque o
amor mais sublime é o de mãe e serve como superação”, explica.
Os
espíritas explicam que os espíritos que trabalharam pelo bem na Terra, podem reencarnar
em mundos melhores. No entanto, espíritos como o do médium Chico Xavier e de
Madre Tereza de Calcutá, por exemplo, provavelmente voltarão à Terra para
continuar o caminho do bem. “A pessoa pode ir para mundos melhores. Nós temos
muitos mundos habitados. Só há um mundo pior que a terra que é o primitivo e
depois nós temos os mundos da regeneração. Pessoas muito boas podem reencarnar
em mundos mais ditosos, em mundo mais felizes. Porém esses espíritos acabam
retornando para a Terra para fazer o bem, para amar novamente”, garante.
FIO DE
PRATA:
O contato espiritual por meio do sonho
Você
já deve ter vivido a experiência de reencontrar em sonhos, amigos ou familiares
que já faleceram ou que não vê há anos. Segundo a doutrina espírita, esse
contato é estabelecido porque quando dormimos, nosso espírito se emancipa do
corpo físico e fica ligado somente por um Fio de Prata. Pelo sonho, nosso
espírito consegue fazer contatos espirituais e ir a diversos lugares enquanto o
corpo repousa.
Taís
explica que o sonho depende muito do que a pessoa viu e fez durante o dia. “Quando
a gente dorme, só o que precisa descansar é o corpo físico. O espírito não
descansa, então ele vai à mundos. Para onde ele vai depende mundo do que a
gente pensa e faz durante o dia. Se eu sou uma pessoa vinculada ao bem e ao
amor, quando eu for dormir, eu irei para um lugar bom, de luz onde eu conseguirei
encontrar com pessoas queridas. Essa porta que a noite nos abre é a alegria de
estar encarnado. É como se você morresse todas as noites”, declara.
O PASSE:
Energias positivas por meio de um mediador
Uma
das ações mais conhecidas realizadas nos Centros Espíritas é o Passe. O passe é uma prática difundida entre os espíritas, que teria o poder de
canalizar “fluidos” ou “energias” benéficos do próprio passista, de bons
espíritos, ou ainda de ambas as fontes somadas. “É um auxílio do mundo
espiritual que todas as casas possuem. São energias que a gente canaliza para
aquela pessoa. Pode ser espiritual. Pode ser só magnetismo da pessoa. O passe
que se faz normalmente na casa espírita é misto, ou seja, é o passista com
auxilio da espiritualidade”, explica.
Taís
destaca que é importante que as pessoas procurem o passe por livre e espontânea
vontade e que participem da prática de coração aberto. “As pessoas pensam que
vão entrar ali e vão sair felizes, mas não é assim, porque não existe mágica.
Tudo tem a ver com o seu empenho. Você entra ali porque quer ajuda. É um
fortalecimento. Às vezes a pessoa entra na cabine de passe, mas sai igual
porque não é receptiva”, justifica.
MEDIUNIDADE AFLORADA
“Eu vejo espíritos”. Como lidar com essas visões mediúnicas?
Adepta da doutrina
espírita relata experiências sobre fenômenos mediúnicos desde os primeiros anos
de idade
Conforme o que defende a Doutrina Espírita, todos nós,
sem exceção, somos dotados de mediunidade espírita. Alguns possuem esta
capacidade humana mais aflorada e por isso têm mais facilidade no contato ou
comunicação com os espíritos. Glane Ermelinda Tiezerini, 51 anos, é uma das
milhares de pessoas que tem o dom da mediunidade mais aflorado.
Desde
muito pequena, Glaene presencia fenômenos espirituais. Naquela época, a pequena
era amparada pelos pais, estudiosos da doutrina espírita. A funcionária pública
estadual explica que no começo sofreu muito com as visões e sonhos
premonitórios. “Quando eu era pequena, eu era um pouco diferente. Eu via as
coisas, eu pressentia, eu tinha ataques de choros sem explicação. Depois com o
tempo, eu comecei a sofrer muito, tive medo. Eu sofri de não conseguir dormir,
de ouvir passos, de ver gente, de pressentir coisas que aconteciam. Muitas
vezes aconteceu de eu sentar à mesa pra jantar e começar a passar mal. Eu via
um clarão e desmaiava. Então era bem sofrido, por isso eu tive que procurar
ajuda”, explica.
A
primeira ajuda para entender os fenômenos que a pequena garotinha estava
presenciando, partiu do pai. Com auxílio dos livros do Kardecismo pelos quais o
pai estudava a doutrina, Glaene conta que aprendeu a conviver com o dom. “Isso
vem de casa, meu pai sempre leu muito sobre o espiritismo. Meu pai era um
médium muito elevado e estudava muito. Ele dizia que minha mediunidade era
muito grande e que eu precisava desenvolver”, relata.
Em
Chapecó, os pais de Glaene fundaram o Centro Espírita Bezerra de Menezes, local
onde faziam atendimentos mediúnicos e palestras assistenciais sobre a doutrina.
Com o falecimento do pai, o centro foi fechado. De lá pra cá, Glaene relata que
aprendeu muito sobre o Espiritismo. “A gente procura o espiritismo ou pela dor
ou pelo amor. É muito difícil ouvir alguém dizer que procurou um Centro
Espírita por quis conhecer. A maioria das pessoas que procuram o Centro, são
pessoas que precisam de ajuda”, justifica.
Por
conta da experiência que viveu quando criança, Glaene entende o medo que
algumas pessoas têm de se aperfeiçoarem sobre o espiritismo. Ela aconselha, no
entanto, que as pessoas que tenham algum tipo de mediunidade mais aflorado,
procurem ajuda em um Centro Espírita para poder entender a doutrina e se
aperfeiçoar. “É um pouco temeroso porque as pessoas não conhecem, mas o
Espiritismo é uma coisa muito bonita. As pessoas deveriam desenvolver esse lado
que todos nós temos, é um modo de se conhecer”, declara.
REGRESSÃO: A TERAPIA
DAS VIDAS PASSADAS
Com
o passar do tempo, com a ajuda dos pais e o estudo do espiritismo através dos
livros, Glaene aprendeu a conviver com o dom. Hoje, anos após, ela conta que
ainda vê espíritos, mas não sofre tanto como no passado. Além dos familiares
que já faleceram, Glaene conta que recebe constantemente a visita de um
espírito desconhecido. Segundo ela, o espírito de um senhor já de idade a
acompanha há bastante tempo. “Muitas noites eu acordo e o vejo. Ele fica em pé,
na guarda da minha cama. No começo isso me incomodava, mas depois eu vi que ele
me protegia”, relata.
Para
tentar descobrir a identidade do espírito misterioso, Glaene recorreu à uma
regressão, terapia que possibilita através da hipnose, uma consulta às vidas
passadas.
Na regressão, o paciente, consciente, revive
campos de seu passado e utiliza a experiência como remédio para medos,
depressão e doenças. “Eu fiz regressão pra conseguir identificar ele e realmente
consegui. É um espírito guardião. Muitas vezes eu perguntei o nome dele, mas
nunca tive resposta. Ele apenas sorri pra mim e fica junto comigo”, enfatiza.
Depois
de várias sessões de regressão, Glaene conseguiu visitar diversas vidas do
passado. Ela conta que procurou a terapia por curiosidade de saber como foi no
passado e de que forma viveu as outras vidas. “Eu queria ver como eu fui em
outras vidas porque hoje eu tenho 51 anos e nunca fui casada, nunca tive
filhos. Em nenhuma das vidas que eu visitei eu fui casada, em nenhuma eu tive
filhos”, explica.
Ela
conta ainda que outro motivo que a levou a procurar a regressão era desvendar o
mistério sobre um dor que sente no lado esquerdo do peito. Ela conta que a
descoberta do mistério foi o que mais a marcou em toda a terapia. “Tem algo que
me marcou muito. Foi uma vida em que eu me matei. Eu tenho uma dor muito grande
no lado esquerdo. Se eu chego perto de uma pessoa que está muito carregada de
energias negativas, sinto uma dor muito forte. Na regressão
eu descobri que em uma dessas vidas me matei com facadas no lado esquerdo
do peito”, responde emocionada.
Glaene
resgata a sensação que sentiu quando estava vagando sobre as lembranças que se
reascendiam aos poucos na memória. “Nesse tipo de regressão, você fica mais consciente.
É um filme. Vi pessoas conhecidas que convivo ainda hoje. É uma mistura de
sentimentos. Eu tinha feições diferentes das que eu tenho hoje. Em uma das
vidas eu era alta de cabelo comprido e preto, era uma cigana. Na outra eu era
diferente, bem magrinha, com o rosto bem fino. A gente se vê muito diferente,
mas sabe que é você que está ali, você se identifica, se reconhece naquelas
feições”, relata.
Glaene
conta que no começo a terapia causa um estado de choque mas aconselha que as
pessoas que tenham algum problema de doença ou de medo, procurem a terapia. “Talvez
uma pessoa que não tenha conhecimento sobre isso se choque. Mas foi bom pra
mim. Eu aconselho que quem tenha problema de relacionamento, de doenças, de
fobias, procurem a regressão”, finaliza.
Chico Xavier e a cartas e livros psicografados
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Chico Xavier |
O crescimento da
doutrina espírita no Brasil ganhou novo fôlego com o surgimento de uma figura
emblemática dessa religião: o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier.
Por meio de suas obras psicografadas, Chico passou a popularizar ainda mais o
espiritismo.
Psicografia, segundo o
vocabulário espírita, é a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas pelos Espíritos. A psicografia está entre as
principais expressões mediúnicas existentes.
Entre as obras de
Chico Xavier, está “Brasil, Coração do Mundo Pátria do Evangelho”, onde ele
narra a intervenção dos espíritos em diferentes acontecimentos da história
nacional. Outro sucesso do médium é o
livro “Nosso Lar”, ditado pelo espírito André Luiz. O livro rendeu a produção
de um filme de mesmo nome, sucesso de bilheteria no Brasil. Chico morreu aos 92
anos, no dia 30 de junho de 20012.