terça-feira, 13 de março de 2012

ELAS CONQUISTAM O MERCADO

Mulheres garantem lugar no mercado, mas 
salário ainda é inferior ao dos homens

A mulher, que representa a maior parcela da população, viu aumentar seu poder aquisitivo, o nível de escolaridade e conseguiu reduzir a defasagem salarial que ainda existe em relação aos homens

SÃO MIGUEL DO OESTE

Camila Hundertmarck

A cada ano que passa, a classe feminina continua a aumentar a sua inserção no mercado de trabalho.Hoje as mulheres estão adotando, cada dia mais, uma postura atuante, não apenas pelo seu próprio esforço, mas também pelas exigências do mundo moderno.  Os últimos 20 anos foram essenciais para que elas fortalecessem a sua participação no mercado e garantissem sua responsabilidade no comando da família.
A história da mulher no mercado de trabalho começou com a I e II Guerras Mundiais, nos anos de 1914 a 1918 e nos anos de 1939 a 1945. Naquela época, os homens atuavam nas frentes de batalhas e se tornava responsabilidade das mulheres o cuidado com a casa e com os negócios da família.No século XIX, no entanto, várias mudanças ocorreram na organização do trabalho feminino. Com a consolidação do sistema capitalista e com o desenvolvimento tecnológico, a maior parte da mão-de-obra feminina foi transferida para as fábricas.
Com o passar do tempo, porém, as mulheres, maior parcela da população, viram aumentar seu poder aquisitivo, seu nível de escolaridade e conseguiram reduzir a defasagem salarial que ainda existe em relação aos homens.Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas revelam que em 2010, a participação das mulheres na população economicamente ativa foi de 45,3%. Em 2003, a participação feminina era menor, com 43%.


AS MULHERES NO COMANDO
Pouco a pouco as mulheres vão ampliando seu espaço na economia nacional e garantindo a execução de funções que, antes, eram destinadas apenas para o sexo masculino. Pesquisas recentes apontamo crescimento espantoso do número de mulheres em postos diretivos nas empresas e instituições.Marilene Stertz, 56 anos, é uma delas. Pró-reitora acadêmicae professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), ela é responsável pelo controle do ensino, da pesquisa e da extensão na universidade.
Marilene conta que desde muito cedo já sabia que profissão seguiria. Sua introdução no mercado de trabalho teve início na área da educação, quando ela optou por seguir seu sonho e fez um curso no magistério. “Minha história como profissional começou com o próprio investimento na área da educação. Fiz um curso do magistério em nível de ensino médio porque eu realmente queria ser professora”, relata.
Antes de exercer a atual função, ela foi graduada em Letras e fez especialização em Comunicação Social. Em 1974, Marilene realizou seu sonho e se tornou professora das disciplinas de literatura e língua portuguesa para turmas do ensino médio. Hoje, a pró-reitora desempenha uma das funções mais importantes dentro da Universidade, mas garante que o comprometimento continua. “Eu tenho muito orgulho de onde cheguei e isso sempre me remete a me preparar mais e melhor. Eu me sinto muito bem e muito feliz com isso que eu faço. Eu me realizo”, afirma.
Para a profissional,a mulher já garantiu seu espaço no mercado de trabalho. O motivo, segundo ela, é o investimento em cursos de ensino superior e a responsabilidade em trabalhar coletivamente. “A mulher tem capacidade para cuidar de detalhes, atua com equilíbrio entre emoção e razão e estámais aberta e flexível às mudanças. Ela trabalha numa perspectiva coletiva e valorizam opiniões”, justifica.
A pró-reitora avalia ainda que o antigo modelo hierárquico que colocava os homens como chefe dos negócios e da família, fez com que hoje a mulher continue em segundo plano no mercado de trabalho. “Os padrões tradicionais com base numa visão patriarcal onde o homem manda,vem historicamente se perpetuando. Mas as organizações modernas no serviço público quanto no privado vem modificando tal padrão. Hoje o salário depende do conhecimento que considera habilidades e competências”, conclui.


ESPOSA, MÃE E PROFISSIONAL
A história da mulher no mercado de trabalho, no Brasil, está sendo escrita com base na queda da taxa de fecundidade e no aumento no nível de instrução da população feminina. Hoje o perfil das mulheres é muito diferente do perfil apresentado no começo do século. Além de trabalhar e ocupar cargos de responsabilidade, ela concilia as tarefas tradicionais: ser mãe, esposa e dona de casa.
Otília Donato Barbosa, tem 38 anos e é coordenadora do curso de Sistemas da Informação da Unoesc. Casada e com um filho de quatro anos, ela precisa se dividir entre as tarefas profissionais e o ambiente familiar. “É uma rotina bastante corrida. Fico em casa de manhã e trabalho nos turnos da tarde e da noite na Unoesc. Eu saio da universidade no final da tarde, busco meu filho na escola e fico um pouco com ele antes de voltar a trabalhar à noite”, conta.
Otília ingressou no mercado de trabalho como estagiária de um curso técnico em eletrônica, mas logo garantiu turmas do ensino médio para dar aulas. Com o passar do tempo, ela começou a graduação em Sistemas da Informação e ministrou aulas por dois anos na universidade. Hoje ela coordena outros três cursos e afirma que a busca pelo seu lugar no espaço teve raízes na família. “Meu marido me incentiva bastante. Ele sempre apoiou que eu estudasse. Nós já viemos de uma família onde as mulheres não ficavam somente em casa com os filhos, elas já trabalhavam, então foi um processo natural”, justifica.
A coordenadora destaca ainda que o preconceito com a classe feminina vem diminuindo com o passar do tempo. Para ela, o preconceito parte das próprias mulheres em relação à algumas áreas profissionais. “Na área da informática ainda há uma quantidade pequena de mulheres. Temos ainda a necessidade de convencer as mulheres de que a informática é uma área para elas também. Talvez seja um preconceito das próprias mulheres, pois, tem empresas daqui da região que até pedem mulheres como funcionárias. Elas têm um perfil que a empresa procura”, opina.


A CLASSE FEMININA E A INDEPENDÊNCIA

Nível de escolaridade tem contribuído para conquistar a 
“tão sonhada” independência

Um levantamento feito pela Universidade do Oeste de Santa Catarina Unoesc), aponta que mais da metade do número de acadêmicos da instituição são do sexo feminino. Para um total de 4310 em todos os campus da Universidade no oeste do estado, cerca de 2810 são mulheres.Em São Miguel do Oeste os cursos mais procurados pela classe feminina são os cursos de direito, com 345 mulheres, administração, com 221 e enfermagem, também com 221 alunas.
Além do grande número de mulheres que buscam a graduação na região oeste, a universidadepossui também um número elevado de mulheres em cargos de docência e coordenação. O levantamento mostra que de 195 professores, 97 são mulheres.
Leoní Serpa é uma das 97 professoras e coordenadoras da Universidade. Responsável pelo comando das turmas de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Ela conta ter dividido com as seis irmãs, desde muito cedo, o desejo da independência. “Eu venho de uma família de seis mulheres. Talvez por conta de estar dentro de uma família com muitas mulheres, a gente sempre foi muito batalhadora e todas alcançaram êxito profissional. Hoje tem na família, biomédica, advogada, arquiteta, contadora e eu que sou jornalista. Todas nós construímos nossos espaços por nós mesmas e não pela indicação de alguém”, relata.
A professora destaca ainda que apesar do preconceito que ainda existe, a classe feminina têm garantido o seu espaço com base na competência e profissionalismo. “Toda a mulher tem essa coisa do inovador, do desafiador. Talvez pela minha personalidade eu tenha encontrado algum preconceito, mas eu não senti esse preconceito diretamente e sim de forma velada. Todas nós somos testadas o tempo todo. Ou somos determinadas ou não alcançamos o que queremos. Se a sociedade acha que precisa ter uma data é porque ainda não existe um entendimento de que esse gênero é fundamental para a sociedade”, opina.

PROJETO BUSCA IGUALDADE SALARIAL NO PAÍS
Apesar do crescimento da classe feminina em cargos de diretoria, o salário continua desigual em relação ao dos homens. Segundo uma pesquisa recente feita por uma empresa de recrutamento e seleção de executivos, as mulheres ganham, em média, 22,8% a menos que os homens.
A boa notícia é que essa diferença nos rendimentos deve cair rapidamente com a aprovação do projeto que multa as empresas que pagarem às mulheres salários inferiores aos dos homens quando ambos ocuparem as mesmas funções. O objetivo é encontrar uma forma de acabar com a discriminação entre os sexos.Após a aprovação do projeto, o Senado estipulou que a multa será de cinco vezes a diferença entre os salários durante todo o período de contratação da funcionária. Como a proposta foi aprovada em última instância, ela deve seguir agora para sanção da presidente Dilma Rousseff. 

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